bell hooks: Ensinando a transgredir (pt 1/5)

Educação e Bem Viver
5 min readMay 4, 2019

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Parece que a vocação inicial desse canal será compartilhar minhas leituras sobre educação e bem viver, até que eu possa passar a fazer discussões mais focadas com professores sobre práxis do dia a dia.

Dessa vez então, vou fazer um super resumão dos temas e minhas citações preferidas da minha metade do livro Ensinando a transgredir, da bell hooks. Eu li o livro em inglês, então farei as citações no original e traduzidas por mim.

Introdução

bell hooks é uma mulher negra americana e feminista, professora de literatura e estudos afroamericanos. Trabalha com a interseccionalidade entre gênero, raça e classe.

Na introdução, hooks conta sua entrada na educação, influenciada por sua infância na escola. Nascida em Kentucky em 1952, estudou inicialmente em uma escola racialmente segregada, com professoras que, ainda que não usassem essas palavras, davam aulas por uma perspectiva de raça e gênero.

Teachers worked with and for us to ensure that we would fulfill our intellectual destiny and by so uplift the race (p. 2)

-Professores trabalhavam com e para nós para garantir que nós atingiríamos nosso destino intelectual e consequentemente erguer nossa raça.

Naturalmente, trabalhavam com uma integração entre escola e comunidade: conheciam seus alunos individualmente, conheciam suas famílias. Muitas vezes um mesmo grupo docente atuava com diferentes gerações de uma família.

To fulfill that mission, my teachers made sure they “knew” us (p. 3)

Para cumprir essa missão, minhas professoras faziam questão de nos conhecer

Depois, com a integração, tem que se deslocar diariamente para ir a uma escola que antes era de brancos, e sua experiência deixa de ser uma focada no empoderamento e passa a ser uma permeada fortemente pelo racismo.

Knowledge was suddenly about information only. It had no relation to how one lived, behaved (p. 3)

Conhecimento se tornou de repente apenas sobre informação. Já não tinha mais relação com como vivíamos e nos comportávamos.

A cultura escolar muda drasticamente, e a escola passa a ser para hooks um lugar odiável, no qual ela lutava para se manter uma pensadora independente, e não mais um lugar prazeroso e de criação livre.

[that] taught me the difference between education as the practice of freedom and education that merely strives to reinforce domination (p. 4)

[isso] me ensinou a diferença entre educação como a prática de liberdade e educação que simplesmente trabalha para reforçar a dominação.

Já na universidade, hooks se encontrava muitas vezes entediada. Conhece Paulo Freire e começa a refletir e teorizar sobre a importância de uma sala de aula que seja engajadora e emancipadora.

The first paradigm that shaped my pedagogy was the idea that the classroom should be an exciting place, never boring (p. 7)

O primeiro paradigma que estruturou minha pedagogia foi a ideia de que a sala de aula deveria ser um lugar excitante, nunca entediante.

Para isso, é essencial a participação ativa dos alunos — não apenas falando o que o professor dá a liberdade para que falem, mas de fato introduzindo novos assuntos, trazendo novas perguntas.

Agenda had to be flexible, had to allow for spontaneous shifts in direction. (…) excitement could co-exist with and even stimulate serious intellectual and/or academic engagement (p. 7)

O calendário deve ser flexível, tem que permitir mudanças espontâneas. (…) excitação pode coexistir and até estimular engajamento intelectual e acadêmico sério.

Para que a haja excitação e engajamento em sala de aula, é necessário que exista trabalho e esforço coletivo.

Excitement is generated through collective effort (p. 8)

E para que isso ocorra, é necessário que o professor reconheça seu lugar e atue de maneira engajadora e libertadora.

Teaching is a performative act (p. 11)

Dar aula é uma atividade performativa.

Capítulo 1: Engaged pedagogy

Nesse capítulo, hooks defende que o ato de ensinar demanda do professor seu próprio engajamento, envolvimento e entrega.

To educate as the practice of freedom is a way of teaching that anyone can learn. (…) our work is not merely to share information (…). To teach in a manner that respects and care for the souls of our students is essencial (…) (p. 13)

Educar como uma forma de liberdade é uma maneira de ensinar que qualquer um pode aprender. (…) nosso trabalho não é meramente compartilhar informação (…). Ensinar de uma maneira que respeita e cuida das almas dos alunos é essencial.

A autora cita duas de suas grandes influências: Paulo Freire, que fala da educação emancipadora, e Thich Nhah Hanh, que enfatiza a integralidade e união da mente, corpo e espírito.

Depois, trata da segregação social entre ser um membro da academia e ser um professor: a primeira atividade é entendida como menos importante do que a segunda. E o que resta de poder para o professor é visto como ameaçado pela entrega à sala de aula.

Professors who expect students to share confessional narratives but who are themselves unwilling to share are exercising power in a manner that could be coercive (p. 21)

Professores que esperam alunos a compartilhar narrativas confessionais mas que não estão, eles mesmos, abertos para compartilhar estão usando seu poder de uma maneira que pode ser coercitiva.

Capítulo 2: A revolution of values: the promise of multicultural change

Nesse capítulo, hooks compartilha sua experiência e suas vivências com a promessa de uma mudança multicultural. Conta de sua amizade com um homem branco, de sua juventude em um grupo que se considerava de artistas, e de como a interculturalidade nunca chegou.

(…) our ways of knowing are forged in history and relations of power. (…) the education most of us had received and were giving was not and is never politically neutral. (p. 30)

(…) nossas maneiras de saber são criadas na história e nas relações de poder. (…) a educação que a maior parte de nós tinha recebido e que estávamos exercendo não era e nunca poderia ser politicamente neutra.

A maior parte das pessoas tinha a expectativa de que o multiculturalismo na educação seria um grande caldeirão, um arco íris onde todos coexistiriam felizmente e sem conflitos, em suas diversas culturas. A realidade foi muito diferente disso: cheia de antagonismos e dificuldades.

Ignorar esses conflitos seria silenciar as dinâmicas do poder e silenciar o diferente. Mas os professores não tinham o ferramental para lidar com essas situações. O dissenso, o desafio e a mudança são necessários.

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Educação e Bem Viver

Educadora e mestre em educação. Ecossocialista e defensora do bem viver.