As 12 essências da aprendizagem inovadora (Parte 2) — Generosidade, Acolhimento e Colaboração

Alex Bretas
Educação Fora da Caixa
4 min readFeb 28, 2016

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Leia sobre as primeiras três essências aqui.

Quais são os elementos que ajudam a definir a cara da educação do século XXI? A depender de onde se olha, as respostas podem ser variadas. Arrisco, aqui, meus palpites.

Há mais de dois anos tenho pesquisado histórias de projetos e ambientes de aprendizagem inovadores. Também fiz várias conversas sobre o tema e troquei cartas (hoje em dia, digitais, ainda que as de papel tenham seu charme) com educadores reconhecidos. Venho publicando tudo que descubro aqui neste blog, e todos os aprendizados estão sendo reunidos em um livro a ser lançado muito em breve.

Continuando a série das 12 essências da aprendizagem inovadora, neste post abordo três características inter-relacionadas: Generosidade, Acolhimento e Colaboração.

Generosidade

O significado da palavra “generoso” aponta para alguém que ajuda e compartilha. A cultura de escassez insiste em nos fazer acreditar que ajudar e compartilhar são atitudes tolas, dado que a concorrência se faz não somente com a minha melhora, mas também com a piora dos outros. A generosidade simplesmente não faz sentido no mundo da competição. Ela suplica a nós outro mundo, ao mesmo tempo em que quando é acionada contribui para a sua gênese. É o mundo da cooperação, lugar cuja crença primordial é a de que só venceremos verdadeiramente se vencermos juntos.

Ao nos desfazermos de uma intenção individualista e decidirmos seguir com o outro, estamos aprendendo mais com o coração do que com a cabeça. Extraterrestres é que têm a cabeça muito maior que o restante do corpo. Nós, como seres sociais, nascemos para a generosidade. É o amor incondicional capaz de nos fazer aceitar o outro como legítimo outro que fez a humanidade chegar até aqui. O desprendimento é que nos faz equilibrar o cuidado com o outro e o com nós mesmos. Tal aprendizado não está nos livros, mas sim nas relações cotidianas.

A palavra generosidade originalmente significava a qualidade de uma pessoa “bem-nascida”, no sentido de nobre. Hoje, acredito que ser generoso com o outro pode fazê-lo nascer de novo.

Aprendi sobre a generosidade a partir da minha história com o Caminho do Sertão, que você pode ler aqui.

Acolhimento

Imagine um abraço: um movimento universal capaz de conectar intimamente duas pessoas e fazê-las sentir o ritmo do coração uma da outra. Com alguns grupos já vivenciei uma experiência de abraços sem restrições, isto é, quando cada um deles dura o tempo que quer durar, sem ser interrompido por convenções sociais. O acolhimento é como um abraço: ele nos ajuda a sentir a essência do outro. Quem acolhe não julga, não rotula nem é indiferente, simplesmente abraça. Quem acolhe não menospreza, não aponta o dedo nem foge da contribuição que poderia dar ao outro, somente reconhece e se doa.

Ainda que algo ou alguém seja muito diferente de mim, posso escolher por demonstrar meu acolhimento. Aprender a lidar com nossos próprios sentimentos significa, em algum momento, aprender a abraçá-los e a respeitar o espaço que eles ocupam dentro de nós. Ao lidar com os sentimentos do outro, também podemos adquirir essa mesma capacidade. Talvez ainda não saibamos como controlar o que sentimos, mas o acolhimento é o primeiro passo para sabermos o que deveríamos fazer a partir dos nossos sentimentos. Isso é fundamental em qualquer processo educativo.

Aprendi sobre o poder do acolhimento nas minhas reflexões sobre o CIEJA Campo Limpo. Veja o texto aqui.

Colaboração

Colaborar não é somente fazer junto. Exercemos atividades coletivas desde os primórdios da humanidade, mas há diferenças no que se refere a como as pessoas se relacionam ao atuarem conjuntamente. A colaboração reconhece e honra a interdependência entre os envolvidos e é pautada por uma lógica horizontal, em que cada um se percebe em nível de igualdade perante o outro e pode com ele interagir livremente. Ainda que haja igualdade no tocante ao poder agir, as diferenças que moldam as pessoas são valorizadas. Atributos e interesses diferentes são entendidos como geradores de novas possibilidades.

Um ambiente colaborativo é capaz de promover relações que beneficiam a todos sem que haja imposições ou benefícios maiores para pessoas determinadas. Nesse sentido, colaboração é quase o inverso de hierarquia. Incorporar essa qualidade nas diferentes esferas da vida é um desafio constante.

Somos treinados para não colaborar. Na educação, talvez o exemplo mais emblemático seja o fato de não podermos colar na maioria das escolas. A regra é sustentada por uma suposta necessidade de se medir individualmente a capacidade de memorização dos alunos. Imagine como seria se um grupo de crianças pudesse identificar um objetivo comum e colaborar livremente, com o apoio dos adultos, para alcançá-lo. Isso é exatamente o que certas filosofias educacionais como a educação democrática propõem. No trabalho e na vida, a capacidade de identificar objetivos comuns e alcançá-los é crucial. Por que não permitir que as pessoas desenvolvam isso desde cedo?

Aprendi sobre como a colaboração funciona na prática por meio das casas colaborativas (Casa Liberdade, Laboriosa 89 e Catete 92). Leia sobre elas aqui.

Mais sobre as 12 essências nos próximos posts.

Sobre o autor:

Alex Bretas é sócio do UnCollege Brasil e fundador do projeto Educação Fora da Caixa, uma investigação independente e colaborativa sobre aprendizagem livre. Site: www.alexbretas.com.br

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Alex Bretas
Educação Fora da Caixa

Alex Bretas é escritor, palestrante e fundador do Mol, a maior comunidade de aprendizagem autodirigida do Brasil. Saiba mais em www.alexbretas.com.