A vaca leiteira do negócio de mídia e esportes sucumbiu. O streaming salvará a ESPN?

Disney avalia novo serviço para o canal a partir de 2025, enquanto mira novas receitas com apostas e tenta troca de ações por direitos com o big 4 dos esportes americanos

Eduardo Mendes
6 min readAug 13, 2023
(Crédito: Axios)

A partir de agora o NFL+ custará US$ 6,99 (aumento de US$ 2), ou US$49,99/ano. O plano premium também sofreu reajuste: US$ 14,99/mês ou US$ 99,99 para toda temporada. Na contrapartida do reajuste, a NFL está liberando o acesso ao Network e RedZone.

O serviço entrega jogos de pré-temporada, jogos regulares, incluindo os que acontecem no horário nobre e pós-temporada em dispositivos móveis e tablets, além de áudio das partidas ao vivo.

Incorporar mais conteúdos, é uma maneira também de valorizar o produto no momento em que a liga busca um novo investidor para a NFL Media, conforme noticiou o Front Office Sports.

Apenas em segundo ano, o NFL+ segue a toada do mercado de streaming, que viu nas últimas semanas o efeito cascata de anúncios relativos à subida dos preços de grandes marcas, incluindo o ESPN +.

Em relação à joia da coroa da Disney, a medida é uma consequência imediata do plano de contingência implementado pela companhia na tentativa de salvar a ESPN.

Sob a benção de Bob Iger, Tom Staggs e Kevin Mayer retornaram. Os dois homens de confiança do CEO, e que já estiveram cotados para a sucessão de Iger, foram incumbidos de “encontrar parceiros para a ESPN enquanto o pacote de cabo entra em colapso e a gigante dos esportes prepara uma eventual mudança para o streaming”, destacou David Bloom para a Forbes.

Nem mesmo a ESPN, a vaca leiteira do negócio de mídia e esportes, como bem colocou Jessica Lessin para o The Information, está sobrevivendo. Então, o que salva a cobertura esportiva ao vivo?

O staff de Iger, e que responderá a Jimmy Pitaro, chefe da ESPN, já entendeu o recado: em um futuro dominado por streaming, e com muito mais contato direto e interativo entre ligas, equipes, atletas, fãs e anunciantes, conforme elencou Bloom, os veteranos da empresa precisarão buscar “acordos transformacionais.”

A reformulação em curso está minando as operações de filmes, transmissões e TV a cabo. Enquanto isso, fontes asseguram que a Disney estipulou 2025 como uma possível data de lançamento para um novo serviço de streaming da ESPN. Atualmente, o ESPN+ não inclui a programação mais valiosa como o Monday Night Football e a maioria dos jogos de playoffs da NBA.

Durante o Summer Camp for Billionaires organizado pela Allen & Co, em julho, Iger chamou o modelo de negócios de transmissão de “definitivamente quebrado”, insinuando que a empresa pode vender o ABC, outros canais lineares e seu grupo de estações, relatou Bloom.

“Não está claro se Mayer e Staggs também farão consultas sobre possíveis acordos para a ABC e outras operações lineares, mas provavelmente haverá private equity ou outros investidores interessados nessas operações, que ainda ganham dinheiro apesar dos enormes ventos contrários seculares”, comentou o colunista da Forbes.

Durante a última teleconferência de resultados, Iger revelou que a receita de anúncios da ESPN aumentou 10% em relação ao ano anterior, demonstrando que “o negócio de esportes se mantém firme e continua sendo uma boa proposta de valor”. O executivo frisou que “acredita no poder deste mercado e na capacidade única de reunir e envolver o público”.

A arrecadação com publicidade é vital para que a empresa siga ostentando a sua vasta coleção de direitos esportivos que garantem aos seus ávidos fãs acesso à NFL, NBA, NHL, MLB e aos eventos universitários.

Entre as divisões da Disney, seu negócio de TV linear continua lucrativo, mas em declínio, com receitas caindo para US$ 6,7 bilhões (7% a menos), e receita operacional decrescendo em US$ 1,9 bilhão (redução de 23%). A audiência mais baixa combinada com a redução da verba oriunda de publicidade na ABC foram um problema, assim como os custos esportivos mais altos na ESPN, compensados por uma arrecadação maior de anúncios com os esportes a cabo.

Os dados trazidos pelo The Hollywood Reporter reforçam a nova empreitada chancelada por Iger “para seus negócios lineares na chamada de ganhos.”

A ESPN anunciou nesta semana uma parceria com a Penn Entertainment para entrar nas apostas esportivas. O ESPN Bet rendeu um acordo que inclui US$ 1,5 bilhão em dinheiro e mais US$ 500 milhões em bônus de subscrição de ações. O contrato entrará em vigor até o fim deste ano.

“Por que Penn? Porque a Penn se apresentou de forma muito agressiva e nos fez uma oferta que era de longe melhor”, disse Iger.

Além do mercado de bet, a ESPN iniciou conversas com as quatro principais ligas dos Estados Unidos para elas assumam uma participação acionária na rede, segundo noticiou a CNBC. A troca de ações por direitos esportivos pode economizar bilhões de dólares para a Disney

Representantes da NBA e da MLB, por sua vez, questionaram a lógica por trás da oferta, e por ora, não há uma sinalização de avanços.

A ESPN renovou seu acordo com a NFL por mais 11 anos, desembolsando US$ 2,7 bilhões por temporada. A empresa também seguiu com a MLB pelo preço de 550 milhões por ano até 2028.

Em relação à NBA, a janela para negociação vencerá em abril de 2024. E a liga de basquete mira um contrato total de US $ 75 bilhões com ESPN e Turner Sports.

“Estamos procurando parceiros que ajudarão a ESPN a fazer uma transição bem-sucedida para um modelo (direto ao consumidor). E isso, como eu disse, pode vir na forma de conteúdo ou distribuição e suporte de marketing ou ambos”, disse Iger na última quarta-feira.

O executivo comentou com David Faber, da CNBC, no mês passado, que a Disney “não está necessariamente” pensando em desmembrar a ESPN. Ele reiterou essa posição na quarta, confirmando que deseja manter uma participação majoritária no canal.

No próximo trimestre, a Disney começará a relatar as finanças da ESPN separadamente do resto da companhia.

“O pacote está decaindo e eles precisam criar um novo modelo de receita. É um processo evolucionário, e acho que a ESPN vai estar incrivelmente bem posicionada”, comentou Steve Bornstein, ex-CEO da empresa, à CNBC.

O dilema de Iger agora, como bem colocou a reportagem, passa por definir se: é mais estratégico manter o fluxo de caixa livre positivo da ESPN para reinvestir em streaming de entretenimento ou se a cisão de um ativo com trajetória de crescimento em declínio faz mais sentido.

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