Conteúdo esportivo ainda impede fãs de cortarem o fio da TV a cabo e pode ser fiel da balança para compensar receita perdida pelo streaming

Eduardo Mendes
4 min readJul 3, 2023

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Na edição de 2023 do The Match, o golfe, definitivamente, ficou em segundo plano. As histórias e as intimidades das duplas convidadas superaram a expectativa pelo jogo. Os campeões do Super Bowl Patrick Mahomes e Travis Kelce colocaram Stephen Curry e Klay Thompson contra parede, arrancando dos Splash Brothers da NBA revelações do tipo: Klay é fofoqueiro e eles querem um novo duelo de três pontos para desempatar o atual 1 X 1.

Enquanto a dupla do Kansas City Chiefs vencia facilmente os jogadores do Golden State Warriors, Draymond Green, o terceiro elemento e fiel escudeiro do eterno trio da Bay Area, andava pelo Wynn Golf Club na condição de convidado bebum: ele secou praticamente sozinho uma garrafa de tequila e foi chamado por Charles Barkley de convidado falastrão e desempregado ( até então ele ainda não havia renovado seu contrato).

Apesar do entretenimento garantido, a transmissão da última quinta foi vista por 773.000 espectadores, 50% a menos do que os 1,45 milhão que sintonizaram o jogo de 2022 comandado pelo quarteto de ícones da NFL Tom Brady, Aaron Rodgers, Mahomes e Josh Allen.

Neste ano, o The Match fechou um acordo exclusivo com a TNT, que liberou o evento também para o streaming de sua programação, que inclui Hulu com Live TV , Sling TV e YouTube TV .

Grande parte da audiência total foi garantida pelo canal de TV a cabo: 580.000 pessoas assistiram a partida por lá.

No momento em que os serviços de streaming sinalizam o interesse em adicionar esportes ao vivo, o comportamento peculiar deste público exemplificado pelos dados de visualizações do The Match impõe uma barreira: o conteúdo esportivo ainda impede que uma parcela de usuários corte o fio.

“A migração do conteúdo esportivo das ligas principais para o streaming desvendaria completamente o negócio de TV linear e diminuiria a lucratividade geral. No entanto, mover o conteúdo esportivo para o streaming também parece inevitável a longo prazo, dados os hábitos de visualização dos fãs de esportes mais jovens”, ponderou Richard Yao.

A observação feita pelo insider expõe uma realidade circundante aos Millenials e que tem grande apelo junto às gerações anteriores, apesar do importante contraponto relativo aos novos padrões impostos pela Geração Z.

Aquela história de receber as notícias assistindo ao SportsCenter ou ESPN.com não funciona para os atuais adolescentes: a geração Z americana agora tem três vezes mais chances de acessar notícias esportivas no TikTok, segundo dados do Morning Consult.

Estatística que baliza movimentos recentes como: a Apple TV+ abraçando a MLB e a MLS junto com Messi, e a Netflix experimentando uma partida de golfe ao vivo com pilotos de F1 famosos e golfistas profissionais.

Os exemplos, porém, ainda não permitem cravar exatamente como os formatos distintos irão conviver sem haver uma canibalização. Em 2022, as expectativas de consenso para TV linear e streaming pioraram, gerando uma dúvida: as plataformas compensarão os lucros perdidos da TV paga?

A pergunta feita pelo analista Doug Shapiro são baseadas na conclusão de James Dolan, presidente executivo da AMC Networks. Em um memorando interno circulado este ano, ele escreveu:

“Acreditávamos que as perdas no corte de cabos seriam compensadas pelos ganhos no streaming. Este não foi o caso.”

Para Shapiro, os lucros da TV por streaming podem nunca substituir os lucros decrescentes da TV paga tradicional. Eis alguns pontos elencados por ele:

  • Isso pode ser ilustrado de duas maneiras: 1) a TV tradicional monetiza cerca de duas vezes a taxa de streaming de TV por hora de consumo; e 2) o vídeo em geral fatura cerca de 50% mais do que o jogo e o áudio 3X por hora de consumo. A mudança do linear para o streaming está eliminando efetivamente esse excesso de monetização
  • Se os lucros de streaming substituirão os ganhos lineares não é mais relevante. Mesmo essa análise de alto nível mostra por que eles não o farão. As empresas de mídia precisam otimizar o valor de seus portfólios de ativos existentes — redes lineares, serviços de streaming, estúdios de produção de filmes e TV, bibliotecas — e criar novos negócios que alavanquem seus IPs, marcas, audiências e capacidades
  • A nostalgia de um modelo de negócios em declínio apenas impede esse processo

Uma sugestão dada por Yao pode resolver a questão do equilíbrio com o esporte sendo o fiel da balança:

“Em comparação com empresas como Comcast ou Disney, players nativos digitais como Netflix, Apple e Amazon se beneficiam por não ter negócios a cabo para proteger e podem começar a investir pesadamente em conteúdo esportivo ao vivo para impulsionar a exibição com anúncios.”

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Eduardo Mendes

Advisor for Culture and Innovation | Co-Founder na The Block Point | Web3 & New Technologies | Strategy, Research & Content | Sports | Entertainment | Media