NFL começa evangelização para fã amar o streaming
Restando quatro minutos para terminar o Jogo 1 entre Miami Heat e Boston Celtics, um comercial entrou durante a transmissão do YouTube TV. O desfecho, porém, não foi acompanhado ao vivo pelos fãs. Um problema técnico inviabilizou justamente o clutch time.
A interrupção inesperada que causou ira nos torcedores da NBA reverberou na NFL, reforçando a corrente anti-streaming. Warren Sharp, que cobre a NFL para a Fox Sports, disse que a liga está cortejando um “desastre” com a mudança do Sunday Ticket para o YouTube TV.
E esta crítica direcionada tem uma razão: a liga por trás do esporte de maior audiência nos EUA está “treinando os fãs a amar o streaming”.
A conveniente reportagem escrita por Tom Kludt, da Vanity Fair, destaca os esforços da NFL para levar a mensagem de que o futuro dos esportes ao vivo está cada vez mais fora do pacote da TV a cabo.
Na mesma semana do episódio registrado na NBA, Roger Goodell, comissário da NFL, subiu ao palco no Lincoln Center para declarar o início da era do streaming na liga. Segundo ele, a estreia do YouTube no dia de jogos mais cobiçado pelos fãs “é apenas o começo”.
E o recado também foi endereçado aos anunciantes: “os milhões de fãs de futebol estão no YouTube para assistir a tudo sobre a NFL”.
O endosso com viés de doutrinação não é ocasional. Segundo mostrou Kludt, a agência de marketing digital Adtaxi descobriu que mais de 30% dos telespectadores pretendem assistir ao Super Bowl via streaming, superando a TV a cabo (29%) e a transmissão convencional (26%) pela primeira vez na história da pesquisa.
E os indícios de um novo comportamento que está sendo absorvido pelo telespectador de esportes estão cada vez mais sintomáticos.
A Comcast, controladora da NBCUniversal, informou no mês passado que perdeu 614.000 usuários no primeiro trimestre deste ano, enquanto as assinaturas do Peacock subiram para 22 milhões.
O The Wall Street Journal sugeriu que o novo serviço de streaming da ESPN poderia determinar o “fim da TV a cabo”. Andrew Marchand, do New York Post, indica que o lançamento ocorrerá em 2025 ou 2026.
Além da parceria de US$ 2 bilhões por ano com o YouTube, a NFL mantém o acordo de 11 anos com a Amazon, que paga cerca de US$ 1 bilhão anualmente pelo Thursday Night Football.
Para esta temporada, a liga também anunciou que o Peacock, serviço de streaming da NBC, terá direitos exclusivos para um jogo do playoff no horário nobre em janeiro. Hans Schroeder, vice-presidente executivo e diretor de operações da NFL Media, disse que esta transmissão “será transformadora para os esportes no digital”.
As novidades da NFL, definitivamente, estão incomodando quem faz a cobertura do torneio por meio dos canais tradicionais.
O comentarista Mike Florio, conforme trouxe a Vanity Fair, escreveu que a liga “pode estar flertando com uma situação de Heidi da nova era.” Ele fez uma alusão à veiculação do duelo Raiders-Jets de 1968, que terminou prematuramente para que a NBC exibisse seu filme feito para a TV.
Para John Kosner, ex-executivo de mídia digital da ESPN, “estamos entrando neste mundo bifurcado onde ainda temos pessoas na televisão paga”, e sua “experiência é fantástica para os esportes”, porém “acho que não damos valor a isso, infelizmente.”
O cenário indica que a evangelização do streaming deverá ser mais direcionada aos próprios profissionais de mídia do que para os fãs de futebol americano.