“FOR THEY” ou a linguagem não binária em português e inglês

Eduardo Motti
2 min readAug 7, 2018

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Uma das primeiras lições que se aprende em inglês ensina os pronomes da terceira pessoa — HE, SHE, IT, e THEY no plural. O neutro IT causa um choque inicial, mas é logo assimilado, IT é para coisas, não para pessoas, e coisas não têm sexo, nem gênero.

Ou tem? Em português tem, gênero: dizemos A bola, O telefone, UM tomate (a diarista lá de casa fala uma tomate, sei lá porque). Em inglês não, geralmente.

A coisa complicou recentemente quanto ao gênero das pessoas. Um efeito do “orgulho gay”[1]: qualquer pessoa pode exigir que sua preferência afetiva a autorize rejeitar ser chamada pelo pronome de gênero relativo ao seu sexo biológico. É complexo mesmo, ainda bem que não estou mais na escola. Professoras vão penar, ou melhor professorxs, explico mais tarde.

Nos países de língua inglesa essa questão está bem evoluída. O costume de escrever he/she para abranger ambos os sexos está ultrapassado, ou pode até ser considerado ultrajante. É o que se chama de uma linguagem binária, não inclusiva, e ninguém mais quer isto.

A solução? Chamar todos THEY! Mas THEY é plural? Não mais. Desde 2015, mais de 200 linguistas consideraram THEY “a palavra do ano” (como selfie em outro ano), e os dicionários Oxford e Webster consideram que ela serve tanto para singular ou plural, como YOU. Case closed? Ainda não.

Correntes mais ativas acreditam que merecem tratamento diferenciado, e criaram novas famílias de pronomes neutros. A mais comum é ZE, HIR, HIRS; aos interessados indico uma tabela criada pelo MIT: http://web.mit.edu/trans/GenderNeutralPronouns.pdf.

E como saber que pronome agrada mais a cada pessoa? O articulista da Time Magazine Jacob Tobia (http://time.com/4327915/gender-neutral-pronouns/) responde: Pergunte! Hum, ótimo, prático, assim antes de iniciar uma comunicação, devo perguntar: que pronome mais lhe apraz? EL (explico à frente) adverte que o simples aspecto físico de seu interlocutor não deve levar-me à presunção de gênero.

Mas e a comunicação formal ou científica, onde fica? A melhor fonte que achei está aqui: https://www.enago.com/academy/what-are-the-preferred-gender-pronouns-in-academic-writing/. Para os impacientes, adianto, a solução é usar THEY.

Na língua portuguesa do Brasil a situação também não está pacificada. Nem o Google apresenta-me uma solução definida. A melhor fonte garimpada foi http://pt-br.identidades.wikia.com/wiki/Linguagem_não-binária_ou_neutra. Já aviso que é complexa e Xs autores apresentam diversas formas famílias de novos pronomes (sistemas EL, ILU, ELU), substantivos e adjetivos devem trocar O e A por X ou @ na linguagem escrita, ou E na linguagem oral.

Há mais, mas me contenho, o resultado, para os não ativistas, pode levar o vivente a cogitar o suicídio. Particularmente, quero respeitar as identidades e preferências de todos meus interlocutores, mas se for para escrever e falar como querem alguns, prefiro aguentar os impropérios dos ofendidos.

[1] Expressão ultrapassada, consta que é melhor dizer LGBTQIAP+, que significa Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer/Questionando, Intersexo, Assexuais/Arromântiques/Agênero, Pan/Poli, e mais.

Originally published at medium.com on August 7, 2018.

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