Professor de Instituição Pública? Não mais, obrigado

Éfrem Maranhão Filho
5 min readNov 26, 2015

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Um sonho de vários anos…

Não foi fácil. Pensar que sete anos de preparo — o último da graduação em ciência da computação, dois de mestrado e quatro de doutorado — com todos os seus percalços e difíceis decisões no caminho, transformar-se-ia por completo nos três anos e meio em que fui professor da UFPB. Consegui o emprego que queria, na cidade que queria e a única meta que não consegui foi ter conseguido aos 25 (foi aos 28). “Agora é sentar e esperar algumas décadas e se aposentar”…pois é, não consegui me acomodar.

Voltei para iniciativa privada e esse mundo de startups. Não sou um dropout abrindo uma startup e nem sai com algo promissor em vista, mas em busca de um propósito. Entretanto, é naquele ambiente o qual, na minha limitada visão, consigo pesquisar — e não publicar papers. São ambientes realmente inovadores e com pessoas motivadas e esses fazem o trabalho com gosto.

Ter a resiliência para concluir anos de dedicação só foi possível pelos bons conselhos que recebi no caminho, no qual muitos amigos/colegas ficaram. Não há arrependimento do mestrado e doutorado, pelo contrário, fiz em instituições relevantes — uma pública e outra privada — e foram estes anos os quais mudaram a minha forma de analisar e entender situações problemáticas. Infelizmente, a recompensa não foi a esperada por todo esforço e aqui explico os (principais) porquês de uma forma resumida.

Falta ensino e pesquisa…sobra politicagem

Reclamações diversas dos servidores — professores e técnicos — porém, pouca ação para mudar. A maior parte da energia gasta é por questões políticas. Eleições são sujas — como qualquer eleição — desestimulantes e não baseada em competência. Não se seguem as regras para os procedimentos administrativos — nem por bem nem por mal — e tudo vale, construções irregulares, liberação de professores, distribuição de cargas horárias, etc.

O fato de se ter estabilidade, todos podem falar o que querem sem sofrerem consequências. Isto poderia até ser uma coisa boa, porém na prática não é. Há liberdade para agressividades e intrigas completamente desnecessárias. O conselho que eu mais escutei foi “Dá tuas aulas e faz tuas coisas sem se envolver e toca teus projetos”. Não, não quero isso. Quando se faz isso, quem perde são os alunos, pois não há um professor dedicado, nem um bom profissional no mercado.

Não há incentivos

Quem está acostumado com outros ambientes de trabalho fora da área pública sabe a importância da meritocracia — com raras exceções naquela. Não existe meritocracia, aliás, não existe nem transparência. Conheci pouquíssimos professores dispostos a ter seus relatórios semestrais abertos aos colegas e nem pensar aos discentes. Ninguém sabe ao certo o que os professores fazem e como administram o seu tempo. De um lado temos um professor o qual abandona a disciplina porquê faltou com o compromisso e do outro um o qual se matou para lecionar quatro disciplinas, pesquisar, conseguir verba para laboratório…pois é, progredirão na carreira igual.

É uma cultura organizacional que nivela “por baixo”. Fazer o mínimo possível para se continuar no emprego. Tem professor de administração que nunca foi administrador — isso acontece em outros cursos — e nem precisa ser um excelente pesquisador. Não há professores profissionais da área em tempo parcial. Todos os departamentos querem professores com dedicação exclusiva — a lógica de ter um maior orçamento. Há exceção, entretanto são basicamente nos centros de Medicina e Direito — e claro, os motivos não são claros.

Professores despreparados/desmotivados

Quando se pensa que há milhares de professores com dedicação exclusiva, pensa-se que há excelência no ensino. Em todo o período que estive na UFPB, não vi professores motivados e com recursos necessários — falo de recursos de modo geral, desde o básico como papel higiênico no banheiro — e isso por si só já seria um cenário terrível.

Quando falo de despreparo, incluo a minha pessoa. Não saber qual método de ensino usar, não saber os métodos avaliativos adequados, nem o acompanhamento personalizado de cada discente, etc. Professores orgulhosos por ter uma prova “difícil” e que ninguém é aprovado tornou-se bastante comum. O pior é este não percebe que o problema é com ele!

Não há reciclagem e nem uma preocupação no modo de ensino. No máximo é informar a necessidade do curso de mais concluintes e para isso, precisa que os alunos passem. Não precisa aprimorar o método, só ter mais alunos concluintes. Não é difícil perceber como isso é prejudicial à toda sociedade, infelizmente os alunos não percebem. Os professores reclamam do nível dos discentes, mas não percebem que são culpados de mudarem essa percepção e com isso, os alunos se esforçarem.

Alunos descompromissados

Além dos professores despreparados, os alunos sabem da necessidade de formá-los e muitos se aproveitam disso. Felizmente, conheci algumas raras exceções ultimamente de cursos de imersões na área de tecnologia, como o caso do General Assembly e Galvanize, onde vi uma preocupação com a empregabilidade do aluno, óbvio, não são modelos perfeitos e possuem diversos problemas. Entretanto, em cursos menos concorridos de universidades federais é fácil imaginar a situação precária da educação do alunado.

Penso tais cursos como agente transformadores sociais, mas a dedicação dos alunos — e dos professores — é muito baixa para isso e raras exceções realmente têm o compromisso com o seu aprendizado — e aqui não falo necessariamente de aulas — tal fato não é exclusividade das instituições públicas de ensino.

Ser acadêmico sempre

Não que eu queria deixar a vida acadêmica, pelo contrário. Gostaria de trabalhar em novos modos de ensino, porém não vejo como realizar tal atividade em universidades federais, as quais seguem engessadas e perdidas no tempo. Há tentativas de alguns — pouquíssimos — nobres professores que se dedicam aos alunos de uma forma apaixonante. Entretanto, ver-se, em sua maioria, pessoas acomodadas e preocupadas em aumentar seu rendimento por greves e não melhorar um plano de carreira capenga e sem futuro.

Continuo “participativo” na UFPB através de um Laboratório de Transparência Pública — LABTRANSP — que financiamos. É empolgante trabalhar com pessoas motivadas a aprender e não que querem apenas completar a disciplina e ter o diploma o mais rápido possível — novamente, problema em todas as instituições de ensino que conheço.

Como disse, não consegui me acomodar e pedi exoneração — os outros casos de exoneração que conheço são por outra oportunidade no funcionalismo público. O que escutei “você é louco por largar um emprego público em época de crise”, só me fez motivar ainda mais. Agora procuro descobrir, me envolver e começar novos projetos de ensino, principalmente de métodos analíticos e tecnologia da informação. Sempre focados na empregabilidade, autonomia e utilidade para a sociedade. Fico a disposição e sempre terei tempo para quem quiser discutir tais tópicos.

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