Como ser pai em um universo fractalmente louco

Elvis Nogueira
3 min readOct 20, 2016

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Terça feira, acordei às 6 horas, atrasado. Corri até o banheiro, coloquei pasta de dentes na escova, coloquei a escova na boca e descobri que a pasta de dentes era na verdade Hipoglós. Cuspi tudo na pia, dei um grito de raiva e fiquei com a boca protegida contra assaduras.

Um ódio imenso tomou conta do meu espírito e, ao mesmo tempo, uma sensação de vergonha me veio. Comecei a rir enquanto corria buscar minhas roupas de trabalho.

Ninguém nasce preparado para ser pai. Aquele “sentido paterno” que tanto falam é uma mentira gigante. Eu descobri que sentido paterno nada mais é do que medo misturado com amor, mas não um amor comum, um tipo tão especial que é difícil explicar usando só palavras. Esse texto tenta exemplificar esse amor misterioso.

Era tarde e eu estava feliz aproveitando alguns dos raros minutos em que a Manu dormia. Embora eu não tivesse dormido muito, tinha guardado um pouco de disposição para jogar um video-game enquanto a minha esposa tomava banho. Aos 15 minutos do primeiro tempo eu estava perdendo vergonhosamente de 2 a 0 e ouço um ruído. O choro de um bebê é o segundo som mais irritante que um ser humano pode aguentar (o primeiro é o Thiago Leifert narrando o terceiro gol do adversário), então eu fui obrigado a desligar o jogo e ir cuidar do neném.

Era a quinta ou sexta fralda do dia e quando eu a desarmei estava muito cheia. O cheiro era muito forte, uma mistura de leite azedo com arrependimento de ter sido pai. Deixei a menina pelada e, ao levantá-la para distrair a garota, ela cagou no meu braço esquerdo e sorriu. Foi aí que eu entendi o que é o amor paterno. Eu imaginei o que eu sentiria se o meu melhor amigo fosse o responsável direto da minha derrota no vídeo game, gritasse no meu ouvido e, após eu limpar sua fralda, atirar fezes no meu braço esquerdo e sorrir sarcasticamente. Ele com certeza deixaria de ser meu melhor amigo, no mínimo.

A Manu continuou sendo minha filha mesmo depois disso, então eu senti o que as pessoas chamam de amor paterno.

Ter um filho provavelmente é a melhor coisa que pode acontecer na vida de um homem. E dentre as várias mudanças que me ocorreram, a mais importante foi a seguinte: Eu não posso morrer.

Não poder morrer pode parecer uma missão simples, mas é muito mais do que isso. Surge um propósito maior pelo qual você faz as coisas e a partir daí você tem que fazer valer a pena qualquer decisão tomada, afinal, agora existe um ser humano que depende de você te esperando em casa.

Filho é uma motivação contínua, é como se você ficasse 24 horas por dia assistindo palestras motivacionais do tipo “siga em frente”, “não desista”, “não pare nunca”. Todo o trabalho que o bebê dá me toma um tempo precioso em que eu poderia estar seguindo meus sonhos, mas me recompensa em doses de alegrias diárias e me economiza aquele tempo que eu gastaria assistindo as palestras motivacionais.

O meu DNA foi passado para frente e todos os dias eu preciso dar um passo em direção ao meu sonho, porque não importa o quanto de Hipoglós você tem dentro da boca, o objetivo agora é fazer o ser humano que saiu de mim sentir orgulho de possuir um pouquinho do meu cromossomo dentro dela.

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Elvis Nogueira

Um pouco engenheiro, um pouco filósofo, mundrungo, pai da Manu, escritor e zé graça nas horas vagas.