Licença, mas minhas emoções querem passar

Enise Silva
3 min readMay 23, 2017

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Por algum tempo eu pensei que eu não viria escrever aqui. Já tive dois blogs, mantenho um tumblr meio secreto e sei que, daqui algum tempo — podem até ser horas — eu vou querer muito apagar esse texto.

Tá, mas estou aqui escrevendo, e por quê? Talvez porque eu seja uma pessoa em tratamento das minhas questões mentais — que sempre me questiono se são válidas e suficientes para eu me ingressar em determinados debates, vejam só — e 24h/dia em uma relação que passa por sentir, perceber, analisar, isso-é-quase-um-exame-clínico-pqp, minhas próprias emoções.

E estando nesse nível de contato e vivência delas, me incomodam muito os ambientes e lugares que rejeitam minhas emoções. Eis o gatilho do texto de hoje, amiguinhos!

Pensa numa pessoa que você admira profissionalmente e gosta muito. Tem como referência e — embora meu meio profissional atualmente seja o acadêmico — não estou falando só de uma referência bibliográfica. Aí, você escuta dessa pessoa que é necessário aprender a ser — ou pelo menos parecer — emocionalmente estável no meio que você escolheu para atuar profissionalmente. Que para se dar bem, a gente não pode perder o controle.

É claro que, isso não foi dito exatamente assim, e que eu não estou contando aqui o contexto em que isso foi falado. Faria diferença? Talvez pra algumas pessoas, mas o texto é meu, então eu vou voltar pro que eu vim falar.

Ouvir isso ou entender isso daquilo que foi dito, pra mim, foi um soco no estômago. Foi um balde de água fria. [Insira aqui a metáfora de sua preferência].

Por onde começar? Me abomina a ideia do tal “mercado de trabalho” em que a produtividade vem acima de quem produz. E por quem produz, eu entendo pessoas, seres humanos; carne, osso e um monte de paranoia na cabeça. Gente completa e que, por ser completa, não consegue excluir uma parte importante de quem são quando trabalham. Nós também somos aquilo que sentimos, então o resultado do nosso trabalho também sofre influência disso.

Não sei como explicar melhor e não queria usar nenhuma citação ou referência para embasar meu argumento porque não vim aqui pra ser acadêmica — embora não tenha como eu deixar de ser. (Talvez daí venha a sensação de que só explicar com minhas palavras não basta.)

E olha só, eu estou no meio acadêmico. Ciências humanas, sociais aplicadas ou seja lá qual foi a caixa que deram pra gente. É um lugar onde eu posso criticar o tal “mercado de trabalho”, nas suas mais diversas manifestações, e perceber as pessoas, valorizá-las para além do que o senhor ali de cima diz que elas produzem.

Então, eu posso me dar o direito de valorizar as emoções delas, não posso? As manifestações delas, não posso?

E por que eu não posso, então, manifestar as minhas?

Por que nós, enquanto meio profissional, criticamos os defeitos dos outros meios, falamos da necessidade de mudança neles, e não fazemos isso também com o nosso?

Entendo o motivo de quem disse o que me causou toda essa reflexão ter falado. Entendo mesmo! E pode até ser que eu chegue a repetir isso para outras pessoas a quem eu queira proteger.

Mas eu queria resistir. De uma certa forma, eu trabalho com resistências (?) e acho que fica um pouco hipócrita se eu não praticar.

Então, é possível que eu chore, é possível que eu me mostre completamente desequilibrada em relação às minhas emoções. Mas eu acredito que deixar fluir não é perder o controle; pra mim é uma outra forma de lidar que a gente não entende direito como é porque não se permite e não permite ao outro fazer. E é como eu disse para uma amiga numa conversa que me trouxe a esse texto: “olha, se eu não posso me dar bem tendo sentimentos, então esse bem não é bom pra mim.”

(No mais, chorei algumas vezes escrevendo esse texto, mas esqueci de marcar [lágrimas] no final das frases em que elas caíram.)

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Enise Silva

25, jornalista, pós-graduanda, insone, circense, felizetriste.