Propósito e as Organizações (in)Coerentes

Eric de Gaia
3 min readNov 11, 2019

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Photo by Chetan Menaria on Unsplash

Muito se tem falado sobre propósito.

Palestras, Cursos, Mentorias, Coaching, Eventos e por aí vai.

“Encontre o seu propósito e seja feliz”, essa é a fórmula do sucesso.

Discurso esse que também se disseminou no universo organizacional, “encontre (ou crie) seu propósito e tenha resultados ($$) fenomenais”.

O que tenho percebido, seja na minha experiência pessoal ou como consultor para organizações, é uma corrida desenfreada pela criação (?) ou descoberta do propósito da organização e a ansia por sair gritando pro mundo:

“Olha o meu propósito, olha o meu propósito!”.

Saímos da sala de reunião ou da dinâmica colaborativa onde se descobriu o propósito correndo para criar uma campanha que o comunique pra todo mundo saber. Esse comportamento vem criando uma série de discursos vazios ou, como alguns já chamam, o “Purpose Washing”. (1) (2) (3)

Nossa ânsia — ou poderíamos chamar de necessidade egóica, sustentada pelo paradigma da escassez (fig.) — de mostrar pro outro (cliente) que agora temos um propósito acaba nos distanciando da manifestação real dessa essência.

Paradigma da Escassez

Criamos um abismo gigantesco entre o Propósito (Ser) e a Comunicação (Ecoar), não olhando para como vamos manifestar este propósito em ações e processos práticos (Fazer) do dia a dia, que vão realmente impactar em nossas vidas e, por consequência, na vida das pessoas e do planeta.

Acredito que a descoberta do propósito — se é que temos um único, mas sobre isso falarei em outro texto — é somente o primeiro passo, ou como costumo dizer, é a semente plantada que precisa ser enraizada antes de crescer e dar os frutos (resumindo de maneira simplista o processo de frutificação ;-) ).

Estamos pulando a etapa fundamental de COMO vamos manifestar este propósito em relações humanas, cultura organizacional, processos, modelo de negócios, produtos, só pra citar algumas ações.

Em uma sociedade na qual a imagem vinha primeiro do que a ação, este comportamento funcionou, porém não aceitamos mais falsas promessas. No relatório especial do Edelman Trust Barometer 2019, lançado em outubro, a pesquisa IN BRANDS WE TRUST? revela que a confiança na marca já é uma das principais considerações na hora da compra para entrevistados de todos os gêneros, faixas etárias e de renda no mundo. No Brasil, 91% dos consumidores classificam como “essencial” ou “fator decisivo” confiar que a marca “fará o que é certo”.

Nós confiamos naqueles que realmente fazem o que dizem que são, e não naqueles que somente dizem que têm um propósito, mas não o manifestam em ações práticas, não é mesmo?

Concordo totalmente que organizações com Propósito têm maior potencial de geração de resultados (tanto de impacto na vida das pessoas quanto de resultado financeiro), mas para construirmos Organizações Coerentes precisamos enraizar o propósito, manifestá-lo em ações consistentes e, somente depois, se preciso for, comunicá-lo para o mercado.

Acredito até que um propósito enraizado e manifestado em ações verdadeiras e transformadoras, sejam elas internas ou externas, nem precisa de comunicação, pois propósito coerente TRANSBORDA e ECOA.

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Eric de Gaia

Pai da Rosamarina e da Romã; Facilitador de Projetos Colaborativos e Catalisador de Comunidades Regenerativas na Quimera/Lab. de Inovação Regenerativa.