A mentoria do meu Jornalismo
Como saí de preparar folhas de pagamentos em uma multinacional para escrever crônicas e reportagens — com a ajuda de uma boa amizade
Quero te contar sobre minha carreira no Jornalismo.
Foi em 2015 que comecei a estagiar na TV Mackenzie, lá em São Paulo. Nunca pensei em trabalhar com televisão ou rádio — pra falar a verdade, entrei na faculdade de Jornalismo com a intenção de me tornar assessor de imprensa da Volkswagen, empresa da qual sempre gostei e fui fã. Eu tinha um currículo caprichado por conta do resquício de dois anos cursados na faculdade de Administração de Empresas, além de muita confiança de que fluência em duas línguas, experiência em multinacionais e um cargo CLT certamente me garantiriam uma vaga fácil. Que bobo e ingênuo!
Não fui a primeira escolha dentre os candidatos à vaga de estágio. Nem a segunda. Fui a terceira. Em minha defesa, informaram que eu deveria ler e interpretar um texto no Teleprompter. Quando chegou a hora de fazer isso, disseram que, ao invés de ler, eu deveria memorizar e interpretar o tal texto. Que fracasso!
Não sei se você já teve a oportunidade de falar em frente à câmera, mas posso assegurar que esta é uma atividade complicada para alguém que nunca fez isso e é tímido. Enfim.
Comecei a trabalhar. Depois de aprender o gosto dos editores, câmeras e repórteres pelo café da casa, fui aos poucos recebendo novas funções. Enrolar cabos no estúdio, carregar câmeras e equipamentos para as gravações, operar o Teleprompter.
Na redação da TV Mackenzie existia uma figura curiosa, a qual logo me chamou a atenção. Chegava afobado e apressado, de óculos escuros, camisa social de manga curta, deixando a grande e pesada mochila no pé da mesa. Não sabia quem era, mas trazia consigo um ar de simpatia e despertava meu interesse e curiosidade. Mas já volto neste ponto.
Cheguei à fase das reportagens. Aí sim começou a nova fase em minha carreira como jornalista, já que finalmente exercitaria a apuração (quem? Como? Quando? Onde? Por que?), a escrita (ponto aqui, vírgula ali, quebra de parágrafo) e a habilidade de colocar histórias inteiras em um roteiro com menos de 3 minutos.
Logo percebi a complexidade da tarefa. Sempre gostei de escrever, e a encarei com muito bom gosto e vontade, entendendo-a como uma espécie de quebra-cabeças;
oras, pra quê colocar essa fala deste entrevistado? Ué, ele falou tão bonito…mas não tem nada a ver, seu telespectador vai ficar confuso. Tá bom, eu tiro…
Num belo dia tive a oportunidade de me aproximar da tal figura curiosa. Marcelo, o roteirista — Tchelo para os íntimos. O primeiro cara que escreve roteiros a surgir na minha vida. Jamais havia conhecido um deste tipo. E agora estava explicada a aparência e o jeito dele. Você precisa ser diferente para escrever bons roteiros. Mas o Tchelo ia além.
Responsável por pegar temas cabulosos e difíceis, Tchelo gostava de destrinchar um assunto até torná-lo "palatável", fazendo com que o grande público (crianças, adolescentes, adultos e idosos) pudesse entender. Neuromodulação, princípios da Aviação, sinapses, Segunda Guerra Mundial; para ele não havia tempo ruim. "O mundo complica? A Gente Explica" — A Gente Explica era o programa onde ele apresentava suas obras-primas.
Não demorou para que eu, um jovem estranho e também curioso, me aproximasse de Tchelo. E, para meu próprio bem, o fiz. Foi com ele que aprendi as manhas de escrever um bom roteiro. Aprendi a conter minha insegurança, minha ansiedade, a contornar minhas dificuldades.
Logo passei de roteiros de simples reportagens a temas de maior profundidade. E fui além. Você pode não saber — e talvez isso seja um chute de minha parte — , mas quem escreve um roteiro ganha a habilidade de escrever com muita facilidade qualquer outro tipo de texto. E foi assim que me entendi como um "conteudista". Um cara que adora escrever e o faz com imenso prazer. Um cara que vê nesse site Medium a oportunidade de se abrir sem medo de ser feliz.
Tchelo não sabe, mas ele foi meu maior incentivador na escrita. E a ele serei eternamente grato.
Fiquei por um ano e meio na TV. Cresci e me desenvolvi, virando apresentador do A Gente Explica. Algumas de minhas reportagens passaram na TV aberta, na Rede Bandeirantes. Fiz a apresentação ao vivo da inauguração da rádio web Mackenzie. Estruturei os primeiros programas desta rádio e participei de marcos históricos da universidade.
Tchelo e eu nos tornamos grandes amigos. O roteirista serviu de inspiração a quem viria a se tornar um empresário: eu. Sua paixão pela escrita abriu espaço para a motivação que eu teria para vender uma gama de serviços e textos pela minha empresa. E foi assim com vários outros estagiários que passaram pela TV Mackenzie.
Saí da TV para ser cronista e revisor de conteúdo da Gazeta de Santo Amaro e os quatro jornais controlados pelo grupo — Gazeta do Brooklin e Campo Belo, Interlagos News, Jornal de Moema e a própria Gazeta de Santo Amaro. De lá virei repórter de Economia e Política no jornal baiano A Tarde, escrevendo, também, para as editorias Saúde, Turismo, Internacional e Tecnologia.
E foi assim que minha carreira no Jornalismo começou. E é assim que esse texto não terá uma conclusão até minha aposentadoria. Até lá, seguirei brindando pequenas e grandes conquistas com meu grande amigo e mentor: Marcelo, o roteirista.