Caso 5 — Raquel Marques
No dia 29 de janeiro de 2021, a co-deputada RAQUEL MARQUES (REDE-SP), integrante da “Mandata Ativista” do Estado de São Paulo, publicou em seu Facebook a seguinte frase: “Queria que um dia o desrespeito à infância e adolescência ganhasse na mente da esquerda a mesma indignação que a transfobia causa”.
Após acusações de que a frase seria “transfóbica”, o post foi apagado, mas isso não a livrou de ser sumariamente expulsa do mandato coletivo que exercia com sua colega de partido Claudia Visoni, da REDE, com os psolistas Mônica Seixas, Fernando Ferrari, Chirley Pankará e Paula Aparecida. O PSOL-SP fez uma reunião a jato num dia em que ela teve uma consulta médica e uma nota pública foi lançada nas redes sociais do partido:
A expulsão de Raquel foi apoiada por Sâmia Bonfim (PSOL-SP) e Luana do PSOL (PSOL-SP):
No dia 1º de fevereiro, Raquel respondeu em seu perfil de Facebook:
Sendo Raquel co-deputada estadual eleita, o fato teve mais notoriedade do que outros atos de misoginia dentro dos partidos que citamos anteriormente:
- https://www.guiagaysaopaulo.com.br/noticias/cidadania/codeputada-bissexual-e-expulsa-de-mandato-sob-acusacao-de-transfobia
- https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2021/02/integrante-de-mandato-coletivo-e-destituida-apos-posts-sobre-volta-das-escolas.shtml
- https://oglobo.globo.com/politica/afastamento-de-codeputada-em-sp-poe-em-xeque-modelo-de-mandatos-coletivos-24871985
- https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2021/02/individualismo-e-preconceito-nao-podem-prevalecer-em-mandatos-coletivos.shtml
Após pressão, Raquel foi reintegrada, mas, segundo apuramos, o PSOL a isolou completamente e sua resistência na mandata é um desafio diário.
Conforme comentamos quando da agressão contra a filiada Micha Devellard, do PSOL-Rio das Ostras, por outro filiado de seu partido, que publicamos anteriormente, o espaço político é particularmente cruel com mulheres. Enfrentamos, além de questões comuns também aos homens, como demandas do trabalho e faculdade, o machismo dos companheiros de luta, como as demandas geradas pela divisão sexual do trabalho, que nos assoberba com demandas de filhos, maridos, casa, idosos e outros familiares. Os partidos se lembram da existência das mulheres na hora de votarmos, de trabalharmos nas eleições, de atendermos às tarefas partidária, mas nossa voz é constantemente sufocada. É sintomático que Raquel seja uma mulher, bissexual, mãe e que sua fala, julgada tão ofensiva, fosse uma chamando a atenção justamente para as demandas de mães e crias. O corpo da mulher, e, em especial, da mulher mãe, com sua gritante materialidade de produzir a vida, foi o estopim para a acusação de “transfobia”.
Ser mulher e priorizar crianças é “transfóbico”?