Caso 10 — Aleta Valente

Por uma esquerda sem misoginia
6 min readSep 25, 2021

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Em 12/09/2021, Aleta Valente, artista, mãe, suburbana, fez a seguinte denúncia em sua conta de Instagram @ex_miss_febem_ :

Imediatamente, abundaram comentários agressivos, acusando a frase acima de ser “transfóbica” e sua autora de ser uma mulher “branca”, “cis”, “privilegiada” e “racista”.

Ou seja, ao denunciar que havia sido acusada de “transfobia” de forma leviana, Aleta foi levianamente acusada de transfobia e, curiosamente, dado que não se sabia nada além da frase acima, de “racismo”.

Nos prints abaixo, os perfis riscados em amarelo são de mulheres, em violeta de homens e em vermelho de pessoas que claramente se identificaram como “trans” e ou “travestis” nos comentários ou perfis:

A agressividade não se limitou a comentários no seu post: conforme relato de 16/09, no qual Aleta contou ter sido expulsa de uma festa sob acusações infundadas de “transfobia, ela também informou que está sofrendo ameaças variadas — inclusive de morte — pelo seu post inicial.

E ela não foi a única: várias mulheres relataram ameaças ou constrangimentos apenas por ter dado like ou comentado sua denúncia.

Nos comentários do seu relato mais longo, um número impressionante de pessoas perguntava o que ela havia feito para ser expulsa da festa “por transfobia”, apesar do relato deixar claro que ela sequer conhecia a pessoa que a atacou e expulsou.

A verdade é que Aleta, como tantas outras mulheres, foi atacada por “dizer que minha opressão está relacionada ao meu sexo”, por ser “comprometida com a realidade material das mulheres” e priorizar “as suas vivências em uma sociedade patriarcal”.

Falar de mulheres e de seus direitos baseados em seu sexo tem sido considerado uma “violência” a “pessoas trans” e está justificando todo tipo de agressão e perseguição por parte daqueles que consideram que ser mulher é uma identidade que pode ser adotada por homens. Um exemplo é o vídeo que circulou na mesma semana de um travesti dizendo “eu só queria entender por que é que não choca quando mulheres cis fazem esses comentários transfóbicos que matam travestis e choca tanto quando uma travesti fala que vai matar uma mulher.” É importante pontuar que são homens que matam travestis e não mulheres falando sobre sua realidade material na internet.

Abaixo, dois posts em resposta aos posts de Aleta:

Apesar das muitas denúncias aos mesmos, a resposta do Instagram foi que eles não iam contra as Diretrizes da Comunidade. O post teria sido retirado pela própria escolha do perfil que o postou:

Em resposta a pressões do transativismo, a galeria “A Gentil Carioca” que representava Aleta Valente, fez a seguinte postagem:

Observe-se que o que a galeria condenou foi a suposta “transfobia” e não os ataques contra Aleta e contra o direito de mulheres falarem de suas pautas.

Nos comentários, novamente muitos ataques a Aleta e até mesmo pedidos que a galeria substitua Aleta por indivíduos que se autodeclarem “trans”.

Este caso é extremamente representativo do que estamos vivendo: o silenciamento de mulheres com acusações de “transfobia” apenas por falarem de sua realidade material e uma nova roupagem para a misoginia de sempre, com toda a sua bagagem, como vimos acima, de duvidar da palavra da vítima, criar falsas simetrias entre as opiniões de uma mulher e a agressão física de um homem e culpabilizar mulheres por problemas causados por homens.

Por ter uma conta de Instagram com 73 mil seguidores na data em que este texto está sendo escrito, as postagens da Aleta causaram muitas reações contrárias, mas também amplificaram a voz a muitas e muitas mulheres que já passaram por situação semelhante e se sentiram autorizadas a falar sobre as perseguições que têm sofrido por falaram da materialidade do que é a experiência de ser mulher nesta sociedade.

Infelizmente, muitos dos ataques a Aleta vieram de outras mulheres. A essas mulheres, sugerimos refletir sobre a troca abaixo, que se deu nos comentários da postagem da Galeria A Gentil Carioca e na qual uma pessoa que se identifica como “mulher trans”, diz que “ser mãe solo é uma escolha. Ser trans não.”

Pessoas que se auto-identificam como “mulher trans” vivem uma realidade totalmente distinta da realidade material das mulheres e o silenciamento das pautas históricas do feminismo em nome da inclusão destas pessoas é muito grave para todas nós. E tem consequências reais. Será que quando isso descambar para transativistas agredindo fisicamente as pessoas irão acordar?

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Por uma esquerda sem misoginia

Mulheres organizadas contra a misoginia e as práticas de silenciamento de partidos de esquerda e movimentos sociais.