Economia Circular

ETC | UFMA
4 min readMay 30, 2022

--

É possível considerar uma economia que se desvencilhe da lógica da escassez ainda preponderante?

Jarina Milena

Atualmente, vivemos sob um padrão de desenvolvimento econômico baseado na extração, produção e desperdício que está levando o planeta a um esgotamento irreversível dos recursos naturais e com um custo humanitário assombroso. Esse padrão já existe há algum tempo. A economia circular se apresenta como uma alternativa para remodelar essa ideia de desenvolvimento, com vantagens para a sociedade. Ela está ancorada em três princípios básicos: a regeneração de sistemas naturais, a regulação de matérias-primas que estão sendo utilizadas, além da eliminação da poluição e resíduos desde o início do ciclo produtivo.

A proposta é sair de dinâmicas econômicas que apenas produzem objetos sem a devida preocupação com o descarte e o impacto ambiental que eles podem ter no meio ambiente, nem com o compromisso daquilo ser retornável, de alguma forma. Já parou para pensar onde vão parar as garrafas de vidro de cerveja long neck? Ou as embalagens de isopor que armazenam o hambúrguer que você pede no delivery? É importante pensar que a economia circular pode ser adotada por várias empresas, desde que tenham a perspectiva de refabricação dos seus produtos e utilizem energia renovável.

A mudança de uma economia linear para a economia circular não significa apenas diminuir os efeitos desastrosos da primeira.

Imagem 1 — Diagrama Linear — reprodução da Plataforma Reverse

Pequenos e grandes negócios podem ser funcionais na economia circular. A mudança de uma economia linear para a economia circular não significa apenas diminuir os efeitos desastrosos da primeira. Ela simboliza uma transformação sistêmica que pode conduzir a uma recuperação econômica aos poucos, reduzindo as desigualdades sociais e minimizando os impactos das mutações climáticas.

O modelo da economia circular propõe uma separação entre ciclos biológicos e técnicos. Os ciclos biológicos estão relacionados ao consumo, nos quais materiais (como madeira e algodão) e alimentos são planejados para retornarem ao sistema por meio de procedimentos como a digestão anaeróbica e a compostagem. Os sistemas vivos são recuperados, tal qual o solo, que termina por favorecer processos de caráter renovável para a economia. Produtos, matérias-primas e objetos são reconstruídos e restabelecidos por ciclos técnicos através de táticas como a reciclagem, a refabricação e a restauração.

Imagem 2 — Diagrama Circular — reprodução do Feito para Circular

A noção de reutilização em vários ciclos é antiga, tendo sua origem em diferentes escolas filosóficas. Essa “tendência” reapareceu depois da Segunda Guerra Mundial, em um contexto nos quais conhecimentos relativos à tecnologia da informação de sistemas não-lineares evidenciou a essência multifacetada, ligada ao imprevisível do mundo moderno, o que é semelhante a um metabolismo. No contexto atual, as tecnologias favoreceram a economia circular ao ampliarem a inteligência, a transparência, a desmaterialização e a virtualização causada pelos ciclos de abastecimento.

O padrão da economia circular concentra várias escolas de pensamento, como a perspectiva do blue economy, por Gunter Pauli, o capitalismo natural, de Paul Hawkens, Hunter Lovins, e Amory, a noção de biomimética articulada por Janine Benyus, a ecologia industrial de Thomas Graedel e Reid Lifset, a filosofia de design Cradle to Cradle, de Michael Braungart e William McDonough, além da economia de performance, de Walter Stahel.

A seguir, temos um diagrama sistêmico que mostra as movimentações sucessivas de elementos biológicos e técnicos por meio do “círculo de valor”:

Imagem 3 — Diagrama Sistêmico — reprodução do Ellen MacArthur Foundation.

Na busca por conectar teoria e prática, é oportuno apresentar um exemplo de modelo de negócio pautado na economia circular.

A Santa Flor é uma loja de cosméticos naturais situada em São Luís -MA e idealizada por Tayla Trindrade, engenheira de controle ambiental e Terapeuta Naturopata que tem uma preocupação integral com toda a cadeia produtiva dos seus produtos, desde a extração das matérias primas até o descarte. A Santa Flor produz vários itens de higiene sólidos e livre de substâncias químicas se colocando assim como uma alternativa à industria dos cosméticos, uma das mais poluentes do mundo.

Produtos naturais e biodegradáveis da Santa Flor

Além das reflexões publicadas aqui, é possível acompanhar os estudos do ETC através dos encontros abertos que acontecem quinzenalmente, às 19h30 das terças-feiras. Para participar é só preencher o formulário de inscrição.

Para mais informações nos acompanhem nas redes sociais: Twitter, Instagram, Facebook e, é claro, aqui no Medium.

Estamos pensando formas alternativas de nos movimentarmos nesse mundo, vem com a gente?

--

--

ETC | UFMA

Grupo de Pesquisa em Comunicação, Tecnologia e Economia da Universidade Federal do Maranhão (ETC/UFMA).