É possível criar futuros sem imaginar antes?*

ETC | UFMA
3 min readDec 6, 2022

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O sonho não é uma fuga da realidade, mas um lugar de possibilidades.

Foto de Patrícia Azambuja que compõe um ensaio visual publicado no livro MCIC

A Unesco considera a alfabetização para futuros uma habilidade fundamental para o século XXI, que ainda está no começo se tomarmos como referência Lilia Schwarcz, para quem o marco que “oficializa” o fim do século XX é a pandemia da Covid-19.

Ser alfabetizado para o futuro não significa prever ou controlar o que vai acontecer. Longe disso, mas ter a capacidade de imaginar soluções fora das conhecidas, aumentando nossa resiliência e inovação diante da complexidade e das incertezas do mundo.

Não é possível criar futuros sem imaginar antes. A partir do que esperamos para nós e nossas organizações no futuro, criamos estratégias para implementação desde já. As nossas expectativas e desejos orientam nossas ações de agora. Isso é o futuro se manifestando no presente. O problema é que nossa capacidade de imaginar futuros é limitada pelos valores e crenças oriundos de gerações anteriores com as quais nem sempre concordamos.

O MCIC é uma proposta para ajudar a planejar futuros com maior diversidade, justiça e equidade no acesso a bens materiais e imateriais. Sabendo que isso virá por meio da distribuição e do uso compartilhado de recursos. Esforço que começa na coragem para conceber novas soluções e realidades.

Em uma postagem anterior sugerimos um Mapa das Crises e poderíamos ter adicionado a “imaginação” como a nona área de crise. A sensação de desamparo reduz a capacidade de sonhar. Somos impelidos a nos agarrar à “realidade” e aceitar o que temos. Mas se assim fizermos, que futuro nos espera?

Não raro a palavra sonho é tratada como sinônimo de ilusão e ingenuidade, mas é preciso criar imagens do futuro para não nos perdermos na angústia das crises.

*Texto adaptado das considerações finais do livro MCIC.

De que lugar se projetam os paraquedas? Do lugar onde são possíveis as visões e o sonho. Um outro lugar que a gente pode habitar além dessa terra dura: o lugar do sonho. Não o sonho comumente referenciado de quando se está cochilando ou que a gente banaliza “estou sonhando com o meu próximo emprego, com o próximo carro”, mas que é uma experiência transcendente na qual o casulo do humano implode, se abrindo para outras visões da vida não limitada. (…). O sonho como experiência de pessoas iniciadas numa tradição para sonhar. Assim como quem vai para uma escola aprender uma prática, um conteúdo, uma meditação, uma dança, pode ser iniciado nessa instituição para seguir, avançar num lugar do sonho. Alguns xamãs ou mágicos habitam esses lugares ou têm passagem por eles. São lugares com conexão com o mundo que partilhamos; não é um mundo paralelo, mas que tem uma potência diferente.

Ailton Krenak — Ideias para adiar o fim do mundo

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Grupo de Pesquisa em Comunicação, Tecnologia e Economia da Universidade Federal do Maranhão (ETC/UFMA).