Minha Vida no RPG Maker

Eurritimia
7 min readOct 12, 2015

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O ano é 2003, final de 2003. Estava eu lendo uma revista de informática, dessas que vinham com um monte de programas freeware e demo. Nela, li uma propaganda que mudou minha vida:

Quer criar seu próprio Final Fantasy? Agora você pode, ao comprar esta edição da Top Games, que contém o RPG Maker, um editor simples e fácil de usar!

Ok, talvez a propaganda não fosse assim tão chamativa, mas causou um efeito naquele jovem recém-saído da adolescência, e que tinha acabado de zerar Final Fantasy VIII na casa do amigo que estava estudando pra prova final da faculdade.

Foi por causa dessa revista que fui no Banco do Brasil e pedi para fazerem cheques pra mim, pois só assim eu poderia ter minha revista em mãos — eu morava no interior então a revista já não estava nas bancas. Lembro que, pra fazer o frete valer a pena, eu teria de comprar outra revista da editora — acabei comprando uma do The Sims 1, pra alegrar minha irmã.

E num belo dia de janeiro de 2004, chegou a revista:

A revista que mudou a minha vida e a de milhares de makers (possuo-a até hoje)

Finalmente eu poderia criar meu próprio jogo mais foda que Final Fantasy e Chrono Trigger juntos! Um jogo tão épico que me faria tornar uma lenda entre os criadores de jogos! Mas antes eu teria que aprender a mexer no programa.

Primeiro instalei o novíssimo RPG Maker 2003 e segui o tutorial da revista — que consiste em ensinar a ir de um mapa para o outro. Como não dá pra fazer nada somente com teleporte, tive de instalar o RPG Maker 2000 pra ver os outros jogos disponíveis — e foi aí que meu caminho como maker foi pavimentado. Vendo como os outros jogos foram feitos me ensinou um bocado como mexer na ferramenta: aprendi variáveis, switches, condicionais e um tanto de outras coisas que ainda me são úteis até hoje. Aprendi o conceito de eventos, que são o que fazem o jogo no maker funcionar. (Ok, é o jogador que faz o jogo funcionar, mas mesmo ele precisa de uma interface e os eventos fornecem isso). E foi assim que passei a ter conhecimento de como fazer O Jogo. Porém me faltavam idéias.

Enquanto elas não vinham, eu fazia jogos usando as referências que tinha — heróis de espada, magos de capa, cristais que eram quebrados, mundos que precisavam ser salvos, quebra-cabeças que precisavam serem resolvidos… O meu jogo mais marcante da época envolvia uma garota (Yubikue) que precisava ir a uma cidade grande e no meio do caminho encontrava um garoto e participava de uma quest com Seu Madruga (peguei o char de algum jogo que veio no CD da Digerati).

Nunca cheguei a fazer o jogo ambicioso que eu queria, mas foi bem divertido mexer no programa. Quando passei a ter internet em casa, em 2005, cheguei a baixar alguns resources (chars, tiles, etc) pro RPG Maker mas não cheguei propriamente a entrar numa comunidade onlaine. Com o tempo, porém, fui deixando o programa pra lá, me concentrando em outras coisas na vida.

Novo RPG Maker

Lá em 2006, por algum motivo me bateu saudades de mexer no RPG Maker. Descobri que tinham lançado uma versão nova do maker, RPG Maker XP, que contava com mais recursos, suporte nativo a MP3, não rodava muito bem no meu Windows 98 e scripts. Com os scripts, todas as limitações que haviam anteriormente poderiam ser removidas. Tivemos sistemas de batalha únicos, vários scripts de caminhar, mensagens avançadas… Mas eu não gostava de nada disso. Achava que a essência do RPG Maker estava nos eventos e que os scripts arruinaram tudo isso. Resolvi então mudar minha meta inicial: fazer O Jogo Sem Usar Scripts. Cometi o erro de mudar uma meta ambiciosa não resolvida para uma mais ambiciosa virtualmente impossível de ser concluída.

O único jogo digno de nota dessa fase XP foi As Aventuras de Bobby, que contava a história de Bobby, um aprendiz de mago que estudava numa escola de magos (qualquer coincidência com Hogwarts era mera semelhança) e se encontrava com Tonn’Jehi, um colega de classe muito misterioso. Juntos, eles tinham de estudar e entender por que o diretor ficou tão do mal.

Meu primeiro jogo decente no RPG Maker! \o/

O jogo tem um monte de defeitos dos quais me fazem envergonhar até hoje, mas a música que peguei de um amigo da minha irmã pra trilha sonora do colégio é a melhor coisa dele. (Eu devia upar um vídeo pra vcs ouvirem, quem sabe eu não o faça em algum momento desta vida).

Depois disso, troquei meu computador, passei a rodar Windows XP e mais uma vez esqueci o RPG Maker. Passaram-se pouco mais de dois anos até que fosse mexer novamente no programa. Descobri que tinham lançado uma versão nova (o RPG Maker VX) que tinha os chars mais bonitos que a versão anterior, mas havia uma série de restrições (limite de tilesets, “nova” linguagem de programação incompatível com a anterior, etc etc). Como não tinha mexido muito no XP, passei a usar o VX sem pestanejar.

Comunidades de RPG Maker

Foi nessa época também que surgiu a RPG Maker Brasil, o primeiro fórum de RPG Maker que fiz parte. Até então eu só me inscrevia nas comunidades para pegar os resources, mas foi na RMB que comecei a me envolver com outras pessoas que também faziam jogos na plataforma. Cheguei a jogar alguns tesouros e muita, mas muita tosqueira. A RMB durou mais ou menos um ano, sendo que em 2009 uma rixa entre o administrador e um moderador do fórum fez tudo se acabar. Na ocasião, dois fóruns estavam se destacando: a Santuário RPG Maker, que foi criada por um antigo moderador da RMB, e a Mundo RPG Maker, que era a sucessora da Jogos RPG (uma comunidade bem antiga, da época do RM2k aparentemente). Acabei escolhendo a primeira comunidade e fiquei por lá conversando com as pessoas e ocasionalmente mexendo no maker. Na SRM acompanhei a galera fazendo scripts, criando jogos excelentes.

Enquanto ficava na SRM, acabei indo também pra outra comunidade de makers, mas que na verdade tinha um grupo no MSN também — e era bem mais ativo que o próprio fórum. Estava na Sacred Hall, que logo em seguida se tornaria Hacred Sall. Cheguei a fazer um jogo completo (o único até hoje) envolvendo a comunidade. Basicamente o jogo era um esconde-esconde onde tinha que encontrar os outros membros do fórum. De início era fácil mas depois pra achar os membros restantes as soluções eram um tanto quanto esotéricas — a mais difícil envolvia entrar no banheiro e andar numa dimensão paralela.

O Pique-Esconde da Hacred Sall — com gráficos desenhados exclusivamente por mim!

Foi fazendo o Pique-Esconde que percebi que o meu maior talento no RPG Maker era desenhar. Após terminar o jogo, refiz o RTP do VX inteiro e uma parte do XP. Também fiquei conhecendo na época o Pokémon Starter, que era uma engine dentro do RPG Maker XP para fazer jogos de Pokémon — desnecessário dizer que a qualidade dos jogos que saíram nunca foi das melhores. Claro que fiz minha versão de Pokémon na época, mas assim com 99,9% dos meus jogos, nunca cheguei a terminar.

Na falta de um nome melhor, batizei o jogo de Pokémon Eurritimia

O RPG Maker VX teve a proeza de me fazer cerca de 70 projetos, com várias e várias idéias que passei a ter ao longo da vida. Muitas e muitas idéias com seu projetinho que talvez (nunca) fosse concluir… Isso até chegar o RPG Maker VX Ace, que melhorava em alguns aspectos as deficiências do VX, mas que não satisfaria algumas pessoas saudosas do XP.

Confesso que não mexi muito no VX Ace, pois as comunidades que frequentavam já não tinha tanta gente assim — uma galera começou a migrar pro Facebook e abandonar fóruns e o MSN foi descontinuado, que acabou com o chat da Hacred Sall. E foi mais ou menos a época que comecei a usar o Twitter com mais frequência, efetivamente largando o maker de vez.

Hoje em dia

Por algum motivo que não sei explicar, resolvi dar uma nova chance pro RPG Maker, apenas para descobrir que está para sair (mais uma!) uma versão nova. Chama-se RPG Maker MV e a principal mudança é que agora os jogos poderão ser salvos em Android e IOS. Além disso, os scripts deixaram de existir e foram substituídos por plugins. O lançamento tá previsto pra dia 21 de outubro.

Vendo uns vídeos do RMMV, parece que o programa não mudou muito. Ele está bem parecido com sua versão anterior. Suspeito que isso seja para atrair gente mais nostálgica (tipo eu).

E não sei mais quais as comunidades importantes atualmente. Sei que a SRM não existe mais, mas a Mundo RPG Maker continua de pé (contra todos os prognósticos). E olhando rapidamente no Google, tem pelo menos mais duas comunidades interessantes, porém nenhuma das três me fez ter o interesse ainda de voltar a interagir por lá.

Ainda assim, mal posso esperar pra chegar o fim do mês!

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Eurritimia

Eurritmia celestial das cores, parece feita dos menores e mais transcendentes odores.