Como pedir desculpas?

Eva Andrade
5 min readAug 1, 2016

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Todo mundo vai, em algum momento, cometer um erro de algum tipo que vai machucar outras pessoas online (ou offline), e muitas vezes é realmente sem querer. Como pedir desculpas se é este seu caso?

Temos vivido em uma era muito tensa na Internet. Temos pessoas que acham que existe um anonimato online (o que não é verdade) e permite que se diga qualquer atrocidade sobre outras pessoas, inclusive chegando ao ponto da calúnia e da difamação, que já são tipificadas como crime. Existem pessoas que falam abobrinhas que não deveriam, mas que não são más pessoas — são até capazes de repensar as próprias atitudes após um pequeno exercício de se colocar no lugar de outras pessoas. Mas existe também as que são apenas totalmente sem caráter, a que fez porque quis e pede desculpas, se é que pede, unicamente para tentar colocar uma pedra sobre o assunto, ou pior ainda, fica tentando jogar sobre o ofendido a culpa pela falta que cometeu.

E ai, como diferenciar um tipo de pessoa de outra? Pior ainda, como SE diferenciar dessas pessoas, demonstrando claramente que entendeu o ponto e o que foi digno de ofender, atacar outra pessoa de alguma forma, não se repetirá porque você entendeu mesmo que é errado?

Eu vou elencar aqui algumas coisinhas que espero que ajudem, sobretudo para as pessoas bem intencionadas do RPG, mas que eventualmente cometem erros de que sinceramente se arrependem. Não estou mirando ninguém, meramente externando o que venho pensando após um papo que rolou num grupo das Minas de Moria.

Desarme-se

Eu sei que nossa primeira reação, ao receber uma crítica, é armar-se até os dentes. Mas não faça isso. Se a crítica recebida foi por ter magoado ou machucado alguém, conte até dez e repense o que aconteceu antes de responder.

Alguém tem que depor as armas, e é sinal de boa vontade se partir de quem causou o dano inicial.

Desculpar-se e justificar-se são coisas diferentes

Aqui não adianta. Se você tenta encontrar trinta justificativas, ou alega que não teve a intenção e que o outro que entendeu errado, ou tenta dividir com o ofendido a “culpa”, ou de alguma forma atenuar sua carga de responsabilidade, no lugar de chamá-la a si, tem algo muitão errado ai. Isso não é pedir desculpas, é tirar o corpo fora.

Seja sincero. E nem comece a pedir desculpas se não estiver sinceramente arrependido de ter agido de um determinado modo. Não vai ser sincero e vai ser perceptível quando você estiver só tentando voltar a ficar bem na fita, ou então que está só querendo pagar de legal que pede desculpas, que se o outro não desculpou, a culpa é do outro e não sua.

Assuma seus erros

Tenha humildade o bastante para assumir que sabe o que fez e o motivo do que fez ter causado sofrimento a outra pessoa. Deixe claro que você aceita a bronca que vier e as consequências que o ato tiver, mas que existe uma disposição real, da sua parte, de mudar, para que não volte a errar desta forma. Sem justificar. Sem tentar atribuir a culpa a outras pessoas. Apenas assuma o que fez e desculpe-se sinceramente, procurando abrir o canal de diálogo, que permitirá que, talvez, o perdão venha.

E se prometer que vai fazer diferente, realmente faça diferente, ou suas palavras voltam a ser vazias e todo mundo vai perceber.

Desculpar-se para abafar o caso não é desculpar-se

Você realmente se arrependeu de sua postura (ou sua falta de postura) perante um ato polêmico? Bateu arrependimento pelo que disse? Volto a bater na tecla do “não se desculpe por se desculpar”. Raciocine de fato sobre o que aconteceu, ouça sua consciência. Converse, se possível, diretamente com a parte ofendida, peça a opinião de pessoas que estão de fora e que não necessariamente vão passar a mão na sua cabeça e defender sua postura a qualquer custo. Tentar se desculpar só para colocar uma pedra no assunto vai diluir a sua intenção e, no fim, o tiro pode sair pela culatra.

Demonstre que você realmente se importa

Deixe claro que você se importa com o outro. Palavras genéricas sempre soam vazias. Sabemos que se retratar é uma coisa que demanda muito esforço pessoal nesta sociedade egoica em que vivemos, mas o mundo precisa, justamente, de pessoas (e grupos, e empresas) que saibam pedir desculpas e procurar mudanças.

Não defenda pautas, sobretudo a de minorias, se você não realmente se compromete com elas. Procure os ofendidos. Deixe claro que se arrepende, e que se dispõe a fazer uma análise profunda do que causou aquela falha. E entenda se o outro recusar o convite, especialmente se a pessoa, de alguma forma, sentir-se ameaçada ou coagida, ou sua falta tiver causado danos graves em algo relacionado a isso.

Entenda a mágoa alheia. Dê tempo ao tempo.

Se a mancada foi pública, assuma e desculpe-se publicamente

Muitas vezes, cometemos erros públicos, que ofendem indivíduos ou grupos inteiros de pessoas, e insistimos em pedir desculpas reservadamente. Isso é um erro ainda maior.

Se seu erro foi público, desculpe-se publicamente. É um sinal de humildade, de disposição de mudar e de reconhecimento que você sabe que o outro nada fez de errado.

Deixe claro que é um caso isolado

Mas deixe muito, muito claro. Pode ser que seja um fato isolado ou, então, um comportamento que era padrão e que, a partir de agora, será revisto. Procure a pessoa (ou pessoas) alvo da ofensa para pedir ajuda. Apesar de tudo, seres humanos são seres sociais, e todo mundo cresce quando procuramos soluções em conjunto no lugar de procurar um punitivismo insano.

Cuidado com o tom e com a abordagem

Não adianta falar em tom agressivo e esperar que o outro perdoe. Também não adianta tentar se aproximar, sobretudo fisicamente, sem prévio acordo, sem consciência prévia do ofendido. Pode soar ameaçador e toda a sua intenção segue ralo abaixo.

Demonstre comprometimento e a vontade de forjar uma parceria de crescimento mútuo para o futuro.

Sinceridade acima de tudo!

Não minta. Não peça desculpas só para ficar bem na foto. Não invente explicações. Se não houve intenção, não diga que foi a outra parte que entendeu mal, uma vez que, num processo de comunicação, se há ruído, o emissor (ou seja, quem soltou a “pérola” que causou a confusão) ou agente da ação precisa rever seu método de comunicação, e não o receptor.

Não dê justificativas egoístas, a menos que haja disposição para trabalhar o egoísmo e não voltar a agir de tal forma no futuro.

P.S.: Sei que muita coisa aqui vai soar um baita lugar comum, mas a duras penas, tenho aprendido que aquilo que é lugar comum na minha vida não necessariamente o é na vida de outra pessoa.

Pode ser que eu venha a abordar novamente o assunto no futuro, com um foco mais específico. Mas se alguém realmente precisar da minha ajuda, para qualquer coisa, meu inbox tá sempre aberto, mesmo para quem não está na minha friendlist.

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Eva Andrade

Tradutora, revisora, escritora, editora e louca dos gatos e dos cachorros.