'Loberia', em espanhol, não tem nada a ver com 'lobo', no português. Mas escolhi a imagem, que tirei em Cabo Polônio, no Uruguai, pela sonoridade do falso cognato

Diário de uma mulher de 40 anos

Evelin Fomin
3 min readNov 13, 2015

Se você tem 20 e poucos anos e acha que quem tem 30 e poucos é “velho” ou se você tem 30 e poucos anos e SE acha “velho”, e se você acaba de fazer 40 e acha que a velhice “está”, talvez você não tenha se dado conta de algo:

O quanto você de 20, 30 e 40 são iguais no jeito conservador de pensar, o quanto você não consegue parar de repetir um conceito que se tornou uma verdade apenas porque foi repetido sem reflexão — um milhão de vezes.

Não se engane. Eu também fui assim. Não tive a oportunidade de dizer “Tenho 30 anos” porque passei o ano inteiro sem coragem de dizer adeus aos 29. Foi uma das tantas atitudes estúpidas que já tive nessa minha vida, influenciada por esse conceito da sociedade ocidental que tem pavor de envelhecer, mesmo que isto signifique sair da casa dos 20 e ir para os 21.

Lidar com o envelhecimento só é fácil quando você tem 15 anos e não vê a hora de completar 18. Mas a palavra “envelhecer”, por si só, já carrega um fardo absurdo. Gosto muito do verbo to age, do inglês, para expressar esse conceito que, na minha opinião, é muito mais profundo. O que é, afinal, “ganhar anos” pra você?

Desde que completei 35, quando um colega de trabalho me disse que eu havia chegado à meia-idade, comecei a refletir mais sobre o assunto. Até então, lidar com a faixa etária dos 31 aos 34 estava sendo fácil porque, já em cargo de chefia, e, sendo mulher, assumir minha idade era uma das poucas ~armas~ que eu tinha pra mostrar que eu não era mais uma garota.

Mas, peraí, meia-idade aos 35? É. Meu colega estava, como tantos, repetindo um conceito tão datado quanto o último censo de expectativa de vida que ele tinha em mente. Há 5 anos, essa média já havia deixado de ser 70 anos.

Quando cheguei aos 39, passei um ano inteiro com pessoas ao meu redor especulando o que aconteceria na virada para os 40. Como no bug do milênio, parecia que algo de muito extraordinário poderia acontecer na virada do dígito. De repente, uma explosão de rugas na minha face, será? Fios de cabelos brancos que, atentos à transição, jamais poderiam ser cobertos por tonalizante a partir dali? Os 40 me tornariam de repente uma ~velha sábia~, talvez?

A festa foi linda. E fiquei nesse ano todo ouvindo quase incessantemente que eu "jamais passaria por uma mulher de 40". Não é que esses elogios todos, sobre a minha pele, sobre o meu corpo, sobre a minha ~jovialidade~, não fossem incríveis para o meu ego, para a minha auto-estima. Agradeci e agradeço cada expressão de espanto ao dizer minha idade.

Mas são justamente as expressões de espanto diante de uma pessoa de 40 anos — no caso, eu mesma — que me trazem pequenas demonstrações de como cada um de nós não sabe lidar com o ganho de anos. Note, mais uma vez, como o verbo no inglês to age pode ser poderoso: você GANHA anos, você está, afinal, ganhando algo, e não perdendo. E isso não é uma coisa ruim.

Fazer 40 anos não é nada de mais. Mas, para essa sociedade feita por cidadãos como nós, que se espantam com a virada de pessoas que estão na casa dos 39 para os 40, é muita coisa. E isso não é bom nem pra mim nem pra você nem pra nossa sociedade. E a gente precisa começar a refletir sobre isso.

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Evelin Fomin

Uma jornalista em busca de significado. Das palavras — e, quem sabe, da vida.