A NOVA GUERRA FRIA

Expressão Popular
15 min readSep 26, 2018

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Título de outubro do Clube do Livro Expressão Popular https://expressaopopular.com.br/clubedolivro/

“Guerras híbridas — das revoluções coloridas aos golpes” Andrew Korybko

“As tradicionais ocupações militares podem dar lugar a golpes e operações indiretas para troca de regime, que são muito mais econômicos e menos sensíveis do ponto de vista político”. Andrew Korybko

Bombardeio estadunidense na Síria.

Neste livro, Andrew Korybko constrói um novo conceito para explicar as novas táticas dos Estados Unidos para derrubar governos. A guerra híbrida é a combinação de revoluções coloridas e guerras não convencionais para substituir governos. Partindo do estudo de caso da Síria e da Ucrânia, o autor constrói um novo conceito, cujo modo de operação pode ser facilmente identificado em outros conflitos no Oriente Médio e na América Latina. A guerra híbrida é o modelo de intervenção para o século XXI.

“Se o padrão que os EUA vêm aplicando atualmente na Síria e na Ucrânia for indicativo de algo, no futuro a guerra indireta será marcada por “manifestantes” e insurgentes. As quintas-colunas serão compostas menos por agentes secretos e sabotadores ocultos e mais por protagonistas desvinculados do Estado que comportam-se publicamente como civis. As mídias sociais e tecnologias afins substituirão as munições guiadas como armas de ‘ataque cirúrgico’ da parte agressora, e as salas de bate-papo online e páginas no Facebook tornar-se-ão o novo ‘covil dos militantes’. Em vez de confrontar diretamente os alvos em seu próprio território, conflitos por procuração serão promovidos na vizinhança dos alvos para desestabilizar a periferia dos mesmos. As tradicionais ocupações militares podem dar lugar a golpes e operações indiretas para troca de regime, que são muito mais econômicos e menos sensíveis do ponto de vista político”. (Andrew Korybko)

SOBRE O AUTOR

Andrew Korybko é jornalista na Sputnik News, analista político e conselheiro do Instituto de Estudos e Previsão Estratégicos. Seus estudos são dedicados à geopolítica na Eurásia, aos conflitos entre Estados Unidos e a Rússia e a China, tendo como pano de fundo a disputa energética e as estratégias de integração da região, além das revoluções coloridas e da guerra não convencional que são o tema deste livro.

APRESENTAÇÃO

Por Miguel Enrique Stédile (historiador, doutorando /UFRGS e professor do Instituto de Educação Josué de Castro /IEJC).

A partir do final de 2010, uma onda de protestos emergiu no mundo árabe, partindo da Tunísia e espalhando-se para a Argélia, Jordânia, Egito e Iêmen, o que ficou conhecido como Primaveras Árabes; depois delas, outros protestos com características semelhantes ocorreram também na Europa central e no leste, chegando finalmente à América Latina, inclusive no Brasil.

Não faltaram Organizações Não Governamentais, think tanks e veículos de comunicação para saudar as ondas de protestos. Assim como intelectuais supostamente de esquerda, muitas vezes financiados pelos mesmos think tanks e escrevendo colunas nos mesmos meios de comunicação. Todos saudavam a inexistência de um partido ou qualquer outro instrumento político; a defesa de bandeiras genéricas e pretensamente universais como “democracia”, “liberdade” e — por que não? — “felicidade”; tudo organizado graças aos novos suportes e plataformas tecnológicas da internet; tudo espontâneo. Curiosamente, o governo dos Estados Unidos também concordava com a beleza e a surpreendente espontaneidade da multidão, que simplesmente, depois de tantos ontens, resolveu que especificamente hoje estava cansada de seus governantes.

Jornalista, analista político e integrante do conselho do Institute of Strategic Studies and Predictions, Andrew Korybko elabora um novo conceito, a Guerra Híbrida, para entender, detalhadamente, a tática político-militar dos Estados Unidos para substituir governos não alinhados à sua política no século XXI. Ao contrário da tradição estadunidense, iniciada no século XIX, de invadir militarmente outros países ou de apoiar golpes e ditaduras militares em toda América Latina como no final do último século, o novo milênio e a nova configuração geopolítica exige um novo modelo de guerra indireta, no qual “as tradicionais ocupações militares podem dar lugar a golpes e operações indiretas para troca de regime, que são muito mais econômicos e menos sensíveis do ponto de vista político”.

A guerra híbrida é a combinação entre revoluções coloridas e guerras não convencionais. Neste novo modelo de guerra, as revoluções coloridas — largamente planejadas anteriormente e utilizando ferramentas de propaganda e estudos psicológicos combinados com o uso de redes sociais — consistem em desestabilizar governos por meio de manifestações de massas em nome de reivindicações abstratas como democracia, honestidade etc; elas são a fagulha que incendeia uma situação de conflito interno. A revolução colorida é o golpe brando. Se ela não for suficiente para derrubar e substituir o governo, avança-se para o estágio da guerra não convencional, aquelas combatidas por forças não regulares, sejam guerrilhas, milícias ou insurgências. Este é o momento do golpe rígido.

Ao mesmo tempo, quanto mais estas operações ocorrerem na proximidade dos países-alvo, menores as necessidades e chances de se recorrer à guerra direta.

Publicado originalmente em 2015, pela primeira vez traduzido para o português, neste livro, Korybko constrói detalhadamente este novo conceito militar, demonstrando suas origens teóricas e sua operacionalização na prática. Para isso, recorre à elaboração clássica da geopolítica sobre a região da Eurásia (Rússia, China e Irã), mas também oferece ao leitor um Estado da Arte do pensamento militar estadunidense pós-guerra fria e para este novo século.

O seu estudo concentra-se nos casos da Síria e especialmente da Ucrânia. Para o autor, as manifestações nacionalistas ucranianas e favoráveis à associação a União Europeia, iniciadas em novembro de 2013, a chamada Euromaidan, constituem a perfeita aplicação da guerra hibrída. O governo pró-russo foi derrubado por manifestações que se estenderam até fevereiro do ano seguinte, iniciadas com manifestações “espontâneas” de multidões em locais públicos e que diante dos impasses políticos acirrou-se para um conflito civil, no qual organizações de extrema-direita paramilitares causaram centenas de mortes, desrespeitando acordos políticos, tréguas e negociações. A situação levou à fuga e depois ao impeachment do presidente ucraniano e sua substituição por um governo pró-europeu, hostil à Rússia e conveniente aos interesses dos Estados Unidos na região. Além disso, a situação na Ucrânia é parte da tática de guerra indireta de causar instabilidade nos países vizinhos e fronteiriços como ameaça constante ao verdadeiro alvo, neste caso, a Rússia.

Ainda que trate dos episódios na Europa e no Oriente Médio, o leitor não terá dificuldade em identificar um modo de operação idêntico com episódios recentes na Venezuela e mesmo no Brasil.

Para Korybko, os Estados Unidos são o único país a travar a guerra híbrida hoje e faltam aos países-alvos compreensão do funcionamento e da totalidade da extensão deste método. Assim, conhecê-lo é o primeiro passo para prevenir e evitar as revoluções coloridas e fabricadas, mas principalmente, os golpes.

TRECHOS DO LIVRO

Por Andrew Korybko

Estados Unidos terceirizam as operações de desestabilização da Síria com seus aliados na Jordânia e Turquia.

Contextos teóricos

“(…) Por fim, os EUA são os precursores de uma nova estratégia para fazer guerra no mundo multipolar: a ‘liderança velada’. Esta permite que os EUA terceirizem as operações de desestabilização para aliados regionais com ideias afins se o alvo for considerado muito caro ou politicamente sensível para os EUA perseguirem direta e unilateralmente. A liderança velada basicamente culmina na guerra por procuração, com os EUA gerindo as contribuições de seus aliados à empreitada de longe. Essa nova estratégia só tem alguns anos de idade e ainda está em desenvolvimento, mas o exemplo das participações da Turquia e da Jordânia na crise na Síria oferece um forte modelo a seguir para prever suas direções futuras. Além disso, a Polônia ajudou a cumprir um papel estrutural semelhante durante o golpe do EuroMaidan, mas, uma vez que a operação para troca de regime foi bem-sucedida em um período de tempo curtíssimo, seu verdadeiro potencial em desestabilizar os vizinhos ainda não foi posto à prova.

“(…) No dia 30 de maio de 2000, o Pentágono lançou um documento intitulado Joint Vision: 2020 (Visão Conjunta: 2020). Ele visa explicitamente à dominação de espectro total, que define como ser ‘persuasivo na paz; decisivo na guerra; proeminente em qualquer forma de conflito’. O serviço de imprensa do departamento de defesa das Forças Armadas dos EUA discorre sobre esse objetivo acrescentando que ele também inclui ‘a capacidade das forças dos EUA, operando sozinhas ou junto com aliados, derrotarem qualquer adversário e controlarem qualquer situação no espectro das operações militares’.”

“William Engdahl publicou um livro em 2009 sobre esse tema no qual comprova que a prioridade principal dos EUA é obter domínio total nas esferas das Forças Armadas convencionais, das armas nucleares, da retórica de direitos humanos e outras normas, da geopolítica, do espaço e dos meios de comunicação. Em poucas palavras, isso abrange absolutamente tudo que pode se tornar uma arma ou pode ter algum tipo de importância no campo de batalha ou na consciência de seus atores, e Engdahl documenta meticulosamente o progresso constante que o Pentágono está fazendo em controlar e privar seus adversários dessas vantagens cruciais. Ele também delineia vários métodos, incluindo revoluções coloridas, que os EUA usam para tentar controlar a Rússia e a China”.

“(…) O cerne das revoluções coloridas é sintetizado na dominação social. O movimento é capaz de canalizar um volume de indivíduos grande o bastante para confrontar publicamente o Estado e tentar derrubá-lo. A fim de conquistar adeptos, utilizam-se técnicas ideológicas, psicológicas e de informação. Embora seja preferível que os ideais do movimento sejam a corrente de pensamento dominante, este não precisa ser sempre o caso. As revoluções coloridas não precisam atingir a maioria da população no país ou na capital para que sejam bem-sucedidas. Tudo que precisam é invocar um grande número de pessoas capaz de impor um desafio às relações públicas e à segurança para o governo defensor. O número de indivíduos necessário para concretizar uma revolução colorida varia dependendo do país, das características de sua liderança e da força do governo e do seu aparelho de segurança. A dominação social é obtida uma vez que essa massa crítica é usada contra as autoridades e introduz o desafio caótico que o movimento tanto busca. Assim, as revoluções coloridas tentam ganhar controle sobre aspectos intangíveis, tais como sociedade, ideologia, psicologia e informação”.

“(…)Como foi explicado com a progressão lógica do pensamento geopolítico, certas determinantes podem lançar luz às circunstâncias em que as guerras híbridas são implantadas. A teoria geopolítica mais importante que influencia as guerras híbridas é a ideia dos Bálcãs Eurasiáticos de Brzezinski. Uma vez que os dois conceitos fazem uso do caos dirigido, eles são mutuamente complementares. Logo, se os Bálcãs Euroasiáticos são a estratégia, a guerra híbrida é a tática para chegar a eles. As teorias militares servem de confirmação à eficiência dos métodos de combate por vias indiretas da guerra híbrida. Elas também demonstram que a guerra híbrida deriva fortemente da teoria do caos e pode muito bem ser sua primeira aplicação padronizada. O modelo de liderança velada é o novo sistema que os EUA estão usando para travar as guerras híbridas e desestabilizar a volátil periferia eurasiática através de conflitos por procuração. Por fim, a ideia de dominação de espectro total é o objetivo final de todo o planejamento e estratégia militares dos EUA. A guerra híbrida consiste em uma parte assimétrica singular da dominação de espectro total que pode ser melhor resumida como a transformação do caos em arma e a tentativa de administrá-lo. Ela é um novo plano de guerra que transcende todos os outros e os incorpora em seu ser multifacetado”.

A aplicação das revoluções coloridas

“Pode-se perceber, portanto, que as revoluções coloridas, tal como as campanhas de publicidade ou relações públicas, não são espontâneas mas sim fabricadas muito de antemão à sua implementação. É a disseminação da informação (“propaganda”) na sua mais crua essência, e as ideias contra o governo devem ser propagadas de maneira coordenada para fabricar consenso em uma parcela apropriada (decisiva) da população para que participe da revolução colorida. Esses indivíduos não tomarão consciência do verdadeiro papel que desempenham nos eventos em desdobramento, mas serão meramente usados como artifício para dar a impressão de apoio unânime ao golpe. Eles também podem agir no papel de “escudos humanos” para proteger os membros centrais da revolução colorida (por exemplo, os próprios organizadores ou insurgentes Pravy-Sektorescos) contra métodos vigorosos do Estado para dispersar a tentativa de golpe.

O principal objetivo da campanha de informação é que o alvo internalize as ideias que lhe são apresentadas, dando a impressão de que os próprios manifestantes chegaram, por conta própria às conclusões induzidas de fora. As ideias contra o governo devem parecer espontâneas e não forçadas, dando-se grande ênfase à abordagem indireta para comunicá-las. Se as pessoas perceberem que estão sendo manipuladas por mãos invisíveis, elas rejeitarão em massa a mensagem. Se, contudo, for possível internalizar essa mensagem em uma pessoa e ela começar a difundi-la para seus amigos íntimos e pessoas próximas, que jamais sequer imaginariam que essa pessoa está sob influência involuntária de uma operação psicológica estrangeira, então o vírus de Mann contaminará a sociedade e começará a espalhar as ideias da revolução colorida por conta própria. As próximas seções dissertarão acerca desse assunto mais a fundo lançando mão dos princípios da guerra em rede”.

“(…) O Facebook acompanha, armazena e traça o perfil dos gostos e preferências de seus usuários para melhorar sua ‘publicidade dirigida’ e, há pouco, também começou a acessar o histórico de navegação deles para ajudar nessa missão. Assim como a economia influenciou a teoria da guerra centrada em rede, a teoria da guerra híbrida sugere que ela também influenciou a aplicação da guerra social em rede nas revoluções coloridas. Os usuários do Facebook criam voluntariamente seu próprio perfil psicológico através de informações que publicam voluntariamente, das curtidas que produzem e dos amigos e grupos online aos quais se associam. As agências de inteligência podem então usar o fenômeno do Big Data para organizar, filtrar e acompanhar o perfil macrossocial do povo em países alvo a fim de potencializar seus mecanismos de projeção a eles. A ‘publicidade dirigida’ pelo movimento das revoluções coloridas imita a do próprio Facebook, embora para fins políticos em vez de econômicos. Essa teoria pode justificar até mesmo as explicações de segurança dadas pela China e outros países para banir o Facebook”.

A aplicação da guerra não convencional

“(…) A guerra não convencional não acontece sozinha e espontaneamente; em vez disso, ela é a continuação de um conflito já existente na sociedade, e a função da guerra não convencional é ajudar um movimento contra o governo atuando dentro desse conflito a derrubar as autoridades. A guerra híbrida levanta a hipótese de que o conflito pré-existente em questão é uma revolução colorida fabricada externamente e que a guerra não convencional pode ser iniciada de forma secreta quase que imediatamente após o início da revolução colorida para atuar como um multiplicador de forças. A campanha de uma guerra não convencional cresce em intensidade até que o governo alvo seja derrubado. Se a revolução colorida fracassa, contudo, a guerra não convencional, por fim, assume seu estágio de levante e começa a enfatizar a letalidade extrema em seus métodos. A guerra não convencional basicamente se desenvolve a partir de uma revolução colorida, que, em si, é uma semente plantada estrategicamente com a justificativa da ‘luta pela libertação democrática’, como é habitualmente retratado de maneira enganosa pela mídia ocidental.

Neste livro, a guerra não convencional também significa qualquer forma não convencional de guerra, incluindo guerrilha, insurreição urbana, sabotagem e terrorismo (guerra irregular). Ela inclui especificamente combatentes não convencionais, tais como mercenários e outros atores desvinculados do Estado, além de forças operacionais especiais uniformizadas. Ela não é composta por tanques, soldados e linhas de batalha bem definidas, o que faz dela extremamente não linear e caótica, e, via de regra, ataca o inimigo de maneira indireta. Ela é para o tangível o que as revoluções coloridas são para o intangível, ou seja, o caos armatizado e direcionado com a intenção de cumprir os objetivos de troca de regime.

(…) Os EUA têm um longo histórico de envolvimento em campanhas de guerra não convencional. O Escritório de Serviços Estratégicos, o precursor da CIA, atuou na Índia, Birmânia e China para fomentar movimentos guerrilheiros antijaponeses durante a Segunda Guerra Mundial. Durante a Guerra Fria, a CIA assumiu o comando e tentou derrubar mais de cinquenta governos nacionais, embora os EUA só tenham admitido sete de seus sucessos. Algumas dessas tentativas envolveram o uso de guerra não convencional, por exemplo, a guerra secreta da CIA para treinar paramilitares tibetanos na luta contra os comunistas chineses. O uso de estratégias de guerra não convencional por parte dos EUA viu grande aumento durante os anos 1980 com a Doutrina Reagan, quando Washington apoiou anticomunistas violentas na Angola, Etiópia, Afeganistão e Nicarágua. O manejo simultâneo bem-sucedido de tantas guerras não convencionais ao redor do mundo proporcionou aos EUA experiências inestimáveis para aperfeiçoar essa estratégia, que está sendo praticada hoje na Síria.

(…) À diferença das revoluções coloridas anteriores, a da Ucrânia foi violenta praticamente desde o início, o que demonstra a influência tática das revoluções coloridas da Primavera Árabe nos acontecimentos do país. A primeira coisa a lembrar são as táticas terroristas da Pravy Sektor e de outros insurgentes urbanos armados durante os levantes do EuroMaidan, quando começaram a jogar coquetéis Molotov contra a polícia no dia 1º de dezembro,103 dez dias após o início dos protestos originais. Essa prática rapidamente virou norma, uma vez que os grupos armados usaram seus acampamentos temporários em Maidan como sede para lançar saraivadas contínuas contra as autoridades durante toda a desestabilização. No fim das contas, praticamente todos os participantes em Maidan tornaram-se insurgentes armados contra o governo. O fotógrafo Tom Jamieson, que se aventurou em meio ao motim para documentar visualmente as armas caseiras empunhadas pelos “manifestantes”, declarou que “absolutamente todo mundo, sem tirar nem pôr, tinha um bastão ou um taco ou o que quer que fosse… era loucura”. Assim, pode-se perceber que uma vanguarda de revolucionários violentos dispostos a lutar ativamente contra o governo, uma das pré-condições necessárias à guerra não convencional, fora estabelecida no centro da capital”.

Estratégias compartilhadas

“Tanto as revoluções coloridas como a guerra não convencional cumprem esse papel com o uso de atores por procuração. As revoluções coloridas fazem uso de procuradores políticos e sociais para abalar o tecido social do Estado-alvo, ao passo que as guerras não convencionais usam procuradores armados para cortar fisicamente a conexão entre todos os elementos da sociedade. A transição da revolução colorida para a guerra não convencional também é uma transição da guerra intangível para a guerra tangível. Ambos os estágios fazem uso de redes virtuais e físicas difundidas (liderança velada) e contam em peso com operações psicológicas e técnicas de administração das percepções.

No que tange à estratégia militar, os dois pilares da guerra híbrida mantêm-se fiéis aos mesmos conceitos. Ambos são manifestações da guerra de quarta geração no sentido em que são não lineares, indiretos e dinâmicos. (…)”.

Recomendações gerais

“(…) A maior defesa contra a guerra híbrida é o estabelecimento de salvaguardas civilizacionais. Isso significa que se os cidadãos se sentirem em larga escala parte de ‘algo maior’ e virem em seu governo respeito a esse conceito supranacional mais elevado, eles serão menos propenso a tomar parte em atividades subversivas contra ele. Na verdade, a forte promoção de ideais patriotas (no sentido nacional ou civilizacional) pelo Estado e por suas ONGs afiliadas pode levar à eventual criação de uma mente de colmeia em favor do governo que participaria de contraenxames contra quaisquer insurgentes anti-Establishment. É importante que essa ideologia, se assim podemos chamá-la, seja inclusiva e reúna as mais variadas demografias sociais, étnicas, religiosas e econômicas que residem no Estado, à mesma maneira que ideias subversivas de “democracia liberal” são capazes de unir a miríade de grupos de um Estado-alvo (ainda que apenas temporariamente) no objetivo comum de derrubar seu governo ‘antidemocrático’.”

Como precaução extra, recomenda-se estabelecer redes de Internet nacionais. Isso não deve ser confundido com censura, uma vez que procura meramente garantir que o Estado seja capaz de monitorar a Internet e identificar a origem de certas informações que entram no país. Decerto, isso é extremamente ambicioso e muito difícil de implementar e, em alguns casos (por exemplo, na China), pode assumir a forma de censura de fato e listas negras. No caso da Rússia, e no que tange a seus objetivos de poder brando no mundo, não recomenda-se a tomada dessas medidas. Em vez disso, deve haver um forte esforço do Estado por incentivar a “nacionalização” das mídias sociais e da Internet por seus cidadãos. (…)”.

Conclusões finais

“Logo, conclui-se que é do interesse de Estados orientados à multipolaridade dominar sua compreensão acerca da guerra híbrida para elaborar com eficiência estratégias com vistas a neutralizar sua aplicação bem-sucedida em todo o supercontinente da Eurásia e prevenir o retorno à unipolaridade”.

FICHA TÉCNICA

Guerras híbridas — das revoluções coloridas aos golpes

Autor: Andrew Korybko

ISBN: 978–85–7743–328–4

Páginas: 174

Formato: 14 x 21

Expressão Popular: outubro de 2018

Preço: R$ 25

Coleção: Debates e Perspectivas

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