Salvador Dali (Pastis)

Gestalt e a moça vestida de sombra

Fabiano Rodrigues
3 min readJul 23, 2016

Dos loucos, admiro Dali, pois igual a ele muitos já tentaram ser, mas o que os muitos não entendem é que esse cara dominava a teoria da forma e seus efeitos cognitivos.

Pintor, ilustrador, escultor, cineasta, fotógrafo, boêmio e gênio, sabia como ninguém provocar a mente humana, lançando desafios e conceitos visuais difíceis de serem digeridos, principalmente para os amantes da lógica.

Em 1946 foi convidado por um tal Walter Elias Disney para criar algo brilhante, inovador, e assim o fez! Destino é o nome de um curta que explorou o talento e a paciência do Salvador que, vez ou outra, fazia questão de passear com seu tamanduá de estimação em plena Champs-Élysées, em Paris. Foram centenas de desenhos suficientes para produzir bem mais que meros 5 minutos e 25 segundos de pura beleza bizarra. O problema era que Disney estava contendo despesas na época, pois os negócios não iam muito bem, acredite! Por esse motivo, muitos dos desenhos produzidos pelo cara simplesmente não foram utilizados. Muitos mesmo!

O filme é sublime. Mas o que me chamou a atenção mesmo foi a Gestalt arraigada aos detalhes de cada desenho, cada movimento, cada contraste entre luzes e sombras…

Doutrina criada no início do Século XX, na Áustria, a psicologia da forma ou Gestalt sustenta leis que buscam teorizar como nossa mente capta, processa e compreende tudo o que é visível. Um bom exemplo de como “bugar” nosso cérebro é a famosa litografia Relativity (1951), do artista holandês M. C. Escher, que provoca uma sensação de vertigem, se tentarmos compreender de forma lógica o incrível jogo de perspectivas. (acho praticamente impossível não virar a cabeça pelo menos uma vez!)

Divulgação/© M. C. Escher Foundation-Baarn-Holanda

De forma bem resumida, estes são os princípios fundamentais, conhecidos como as Leis da Gestalt (pano pras mangas de um outro artigo):

Segregação: uma única forma é composta de um ou mais elementos;

Fechamento: incita nosso cérebro a criar limites e complementos invisíveis para compor a totalidade forma;

Proximidade: agrupamento natural de formas semelhantes que busca compor a totalidade do elemento observado;

Continuidade: a sequência de elementos dispostos de tal maneira gera a imagem do todo;

Semelhança: formas similares tendem a ser associadas e comparadas naturalmente;

Pregnância: elementos organizados tendem a ser aceitos como a forma ideal de relação, buscando estruturar um significado;

Unidade: elementos dispostos de tal forma que geram um elemento com identidade e sentidos únicos.

Os sete elementos básicos ( Valessio)

Voltando ao curta do Dali…

Agora que você sabe que a Gestalt existe, que o filme genial do Dali e Disney existe, te desafio a identificar as sete leis¹ empregadas nesta obra belíssima, capaz de bagunçar todos os conceitos e paradigmas da realidade que conhecemos, conduzindo-nos a uma doce viagem… sem docinho! ;)

¹dica: uma das leis está clara aos 5’17", aproximadamente.

Até o próximo artigo! o/

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