O incrível roteiro de Suits, 5ª temporada

Ou por que vale a pena assistir a estes 16 episódios

Fabio Penna
4 min readNov 1, 2016

Aviso do autor: o texto abaixo não contém spoilers da série Suits, veiculada pelo canal USA e produzida pela Universal Cable.

Quem gosta profundamente de filmes e séries vibra não apenas com a história, mas também com tudo o que faz parte da produção audiovisual. Seja fotografia, figurino, atuação ou qualquer outro elemento, cada pessoa volta seu olhar para o que lhe atrai mais, e por diversos motivos.

Vivemos um momento muito acelerado, no qual chamar a atenção com elegância é cada vez mais difícil. As mídias sociais criam aos poucos mais uma síndrome de emergência e todos precisamos ficar atentos. A história da vida das pessoas contada ali, em blocos, gera uma dificuldade extra para quem conta histórias nas telas. Afinal, é preciso, mais do que nunca, disputar a atenção do espectador.

Dentre as super produções, Suits era uma série bem normal até a sua quarta temporada. Não era do tipo que me atraía, confesso, mas acabei fisgado por alguma coisa naquela trama. Tudo é muito bem produzido, disso não há dúvidas. A questão é que o roteiro no quarto segmento esfriou. No entanto, é preciso dizer que isso é bem normal no mundo das séries. Salvo raros casos de produções fantásticas, ter uma temporada mais ou menos faz parte do processo.

Quando a Netflix lançou, há poucas semanas, a quinta temporada, pensei um pouco antes de voltar a assistir. Achei que seria como Mad Men, que, pra mim, ficou meio chato com o passar do tempo. Acabei cedendo, no entanto. Os "Previously on Suits…" ajudaram muito. "Ok, vamos nessa, mais uma série para ver" — pensei. Foi uma boa decisão, porque com o passar dos episódios percebi a genialidade dos roteiristas.

Não foi apenas a inserção de personagens novas logo de cara, foi o conjunto da obra concebido ao longo de 16 episódios. A costura entrelaçada e prazerosa da trama consegue equilibrar tensão e recompensa inúmeras vezes, num ciclo viciante. Os autores conseguem colocar elementos que te deixam curioso e, embora entreguem a resposta rapidamente, eles também surgem sempre com novos fatos angustiantes.

Isto é uma aula para todo mundo que gosta de roteirizar não apenas filmes e vídeos, mas qualquer coisa. Roteiro é parte importante da nossa vida, porque é através dele que as pessoas vão nos achar chatos ou não. Saber o tempo das coisas, quando falar, quando se calar, quando criar um elemento importante ou, mais importante ainda: saber quando fazer as coisas (e quando não fazer).

É comum encontrar naqueles manuais de técnicas de comportamento em reuniões uma parte que nos diz para nunca cruzar os braços, pois essa é uma ação que mostra que você é uma pessoa "fechada". Não é a mesma coisa que atuar? Pois então, se vamos atuar, precisamos de um roteiro, ora!

Um dos momentos mais legais que Brett Martin conta no livro Homens Difíceis é quando ele revela o funcionamento da sala dos roteiristas. Segundo o autor, a maioria dos bem sucedidos showrunners (principais responsáveis pelas séries) incentiva "sessões de porra nenhuma" entre os participantes. Nessas sessões, os integrantes da equipe vão se conhecer, bater-papo, contar casos e dar milhares de ideias em torno de uma mesa cheia de comida enquanto um assistente anota tudo. É em momentos como esses que a vida particular de cada um vem à tona. É quando contam algo bizarro que viveram e transferem aquilo como uma das peças do quebra-cabeças desta fantástica arte de roteirizar.

Quando assistimos, ficamos encantados. Mas, se pensarmos bem, poderíamos também começar a escrever coisas incríveis a partir do que conhecemos. E foi aí que eu comecei a entender por que gosto de Suits. Suas histórias não são nonsense, mas passam por problemas bem reais que todos nós podemos enfrentar. O que é fascinante! Vemos ali peças-chave de muitas descobertas sobre, por exemplo, como se tem uma ideia para lidar com momentos de tensão, suportar as dificuldades e virar o jogo. E eles vão além. Colocam o protagonista inabalável e inatingível numa condição de humano, com dúvidas, angústias, problemas reais que mesmo o maior figurão da cidade pode ter.

Aí lembramos de Eike Batista, o cara dos R$32 bilhões que, de repente, quase faliu; vemos a queda vertiginosa da economia brasileira; as prisões de importantes políticos, de caras que comandavam nosso país e, claro, nossa vida. O roteiro de Suits revela a fragilidade humana que existe naqueles que parecem inabaláveis. E, por fim, nos revela que, no fundo, ninguém sabe mesmo é de nada!

Não há necessidade de assistir todas as quatro temporadas anteriores para entender essa aqui (outra qualidade bem importante, aliás). Quem quiser, vale a pena assistir a ela e prestar atenção nesses detalhes. Se não for para escrever um roteiro ou aprender algo novo, pode servir até para postar melhor no Facebook.

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