Bastidores da Depressão: vencendo os transtornos mentais

Fernanda Fahel
5 min readAug 22, 2019

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Instagram: Fernanda Fahel

Comecei a escrever o blog Despedida de Ana e Mia em 2012 com o objetivo de conscientizar sobre os Transtornos Alimentares. Os textos atingiram tantas pessoas, ajudando muita gente que precisava de um empurrão para se tratar e vencer as dificuldades que estavam passando. Com isso, em 2014, montei o projeto “De Bem Comigo”, incluindo o blog, um aplicativo sobre o assunto e também um canal no YouTube para falar, principalmente, sobre autoestima. Tudo isso acabou “morrendo” em 2016, quando parei de publicar meus textos e aparecia raramente nas redes sociais.

Eram os primeiros sinais.

Agora, em 2019 e, mesmo com muita informação, ainda vemos muitas situações preconceituosas em torno de transtornos psiquiátricos. Para escrever este texto, resgatei minhas publicações no Despedida de Ana e Mia, onde me intitulava como “sobrevivente do transtorno alimentar” e, apesar de ter ajudado muitas pessoas na recuperação desses distúrbios, preciso pedir desculpas a vocês por alguns conteúdos.

No blog e em entrevistas que concedi, sempre utilizei afirmações como “você vai conseguir ser feliz”, “se eu consegui, qualquer pessoa consegue”, “comece a se amar”, entre outras. Mas não havia percebido que essas frases poderiam estar erradas.

E estão erradas pelo fato de que não é simples assim! Quando desenvolvi a anorexia, tive o privilégio de passar com os melhores médicos para me tratar. Com meus textos, batia no peito que o tratamento deve ser multidisciplinar — e sei como isso pode ser caro na rede particular. Mas não contei algo (muito importante) para vocês: eu não finalizei o tratamento da forma correta. Eu, como muitas pessoas com transtorno psiquiátrico, abandonei o tratamento porque “achava que estava curada”.

E então, anos se passaram… Eu me via numa situação em que me sentia “obrigada” a falar que estava tudo bem, mesmo quando, nos bastidores, eu ainda chorava pelos cantos e tomava laxante. E, com isso, passei a me sentir uma farsa. “Como eu posso ajudar as pessoas se eu mesma não estou me ajudando e seguindo as minhas próprias orientações?”.

O blog começou a morrer a partir de então. As minhas recaídas aumentaram. A depressão bateu com tudo na porta. As memórias surgiram de um lugar muito obscuro dentro de mim onde eu estava guardando a sete chaves. E esse sofrimento surgia na maior parte do tempo, de dois longos anos.

Não estou dizendo que dois anos da minha vida foram completamente infelizes. Não! Descobri que a depressão pode ser feita de fases: uma época eu estava me sentindo forte, empoderada, me sentindo linda, maravilhosa. Aproveitei muito essas fases boas para alavancar minha trajetória profissional, me livrar de um relacionamento abusivo e para ser simplesmente feliz.

Já nas fases em que as crises da depressão aumentavam, me sentia fraca, um fracasso, uma pessoa horrível, fazendo com que eu ficasse parada e sem ação para resolver as questões da minha vida. Com isso, tentava tampar o buraco da angústia com bebida, drogas e outros meios nada saudáveis.

“Mas Fernanda, você é tão linda, uma menina inteligente, que tem tudo na vida… Por que ser tão infeliz?”. A depressão (assim como qualquer outro transtorno psiquiátrico) não tem idade, não tem classe econômica e muito menos rosto. A depressão é uma doença, que assim como qualquer outra enfermidade, precisa ser tratada, porque pode levar à morte.

A cada 40 segundos uma pessoa se suicida no planeta. Suicídio é a segunda maior causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos de idade. Os números foram divulgados pela Organização Mundial da Saúde. Nos últimos dez anos, o número de pessoas com depressão aumentou 18,4% — hoje, isso corresponde a 322 milhões de indivíduos pelo mundo, ou 4,4% da população da Terra. Os dados vieram à tona em um relatório recente realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

O Brasil também é campeão mundial no índice de ansiedade: 9,3% da população manifesta o quadro. Essa disfunção engloba várias outras, como ataques de pânico, transtorno obsessivo-compulsivo, fobias e estresse pós-traumático.
Fonte: Exame

E foi assim, quase chegando à morte, que finalmente caiu a minha ficha. Eu nunca estive curada. Aquela angústia que eu sentia parecia já fazer parte de mim como algo normal, mas ela estava me destruindo não tão aos poucos. Ela destruiu minhas amizades, prejudicou minha disposição para tudo, estava distante da minha família e quase acabando com o meu relacionamento.

No dia 25 de janeiro de 2019 foi quando nasci de novo. No meio de uma crise, bati em um espelho, que fez abrir meu pulso. Foi um milagre não ter pego veias, artérias ou algo importante que pudesse tirar minha vida. Levei pontos e hoje estou recuperada. Após o episódio, fui à minha psicóloga (que já estava me acompanhando), e finalmente aceitei me consultar com a psiquiatra.

Foto tirada no dia 25 de janeiro com o sobrinho amado, após ser socorrida. Sorriso pelo carinho recebido, mas por dentro estava com muito medo do futuro. E, ao mesmo tempo, agradecendo por estar viva.

Sabem quantas vezes minha psicóloga já havia me orientado a procurar a psiquiatra? TRÊS VEZES! E eu só aceitei quando senti de uma maneira quase trágica que não dava mais para adiar aquela situação. A depressão tinha tomado o controle da minha vida e eu estava completamente vulnerável.

Somente a partir de agora, posso me intitular como “sobrevivente”. Desde o dia 25 de janeiro, aceitei o tratamento e hoje conto com uma rede de apoio que com certeza não me deixará interromper o tratamento — mesmo se eu quisesse. Marido, amigos, família… Hoje eles também passaram a compreender a depressão como doença. E sei que isso é o mais difícil hoje em dia.

Iniciei o tratamento correto e, mais uma vez, venho tentar ajudar quem está passando por algo parecido, além dos familiares e amigos que muitas vezes não sabem o que fazer. Por isso, ainda vou falar muito sobre crises, como enfrentar a depressão, como é conviver com alguém que está com depressão, o tratamento, entre outros temas.

Foto tirada no dia 15 de janeiro, aniversário da minha mãe. Havia chorado muito neste dia, antes da festa.
Fotos tiradas aproximadamente na última semana de dezembro de 2018 — após essas fotos, quase não tenho registro até o dia 25 de janeiro de 2019.

E entre esses outros temas, estão meus novos projetos que serão lançados ao longo do próximo ano! ❤ Espero que gostem e acompanhem.

Ah, e se você quiser sugerir algum tema legal, por favor, envie um e-mail para fefahel@gmail.com. 😉

Beijos de luz! #UMDIADECADAVEZ

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Fernanda Fahel

Jornalista, Educadora Parental (PDA), Doula, madrasta e mãe. Criadora do Despedida de Ana e Mia (2013) e De Bem Comigo (2014). 🌟 Instagram: @fefahel