Tentativa de suicídio: uma pausa para respirar e seguir em frente

Fernanda Fahel
3 min readJun 22, 2017

--

“Não é sobre chegar no topo do mundo e saber que venceu
É sobre escalar e sentir que o caminho te fortaleceu”.
(Trem Bala — Ana Vilela)

Muita gente me pergunta o significado do ponto e vírgula tatuado em meu pulso. Sempre explico de uma forma genérica, mas a história é muito mais profunda. E é algo que nunca contei para alguém…

Primeiro, o significado: em 2013 tivemos uma movimentação nas redes sociais, nascendo o The Semicolon Tattoo Project (semicolon é ponto e vírgula em inglês). Trata-se de um movimento que, de acordo com os próprios integrantes, ‘mostra amor e esperança a quem tem tendências depressivas e suicidas’. Originalmente, pedia que quem se identificasse com esses objetivos desenhasse um ponto e vírgula em algum lugar de seus corpos e compartilhasse em redes sociais. Mas por que um ponto e vírgula? “Um ponto e vírgula é usado quando um autor pode terminar uma frase, mas escolhe continuar”. Fonte: Revista Galileu

Decidi, então, fazer um ponto e vírgula como lembrete das coisas que superei em minha vida. E também para mostrar para as pessoas que estão passando pela mesma situação, que superei e que é possível superar. Eu lidei com a anorexia, a bulimia, a compulsão alimentar, a ansiedade e a depressão durante a maior parte dos meus anos. E, às vezes, isso me levou por um caminho que incluía tentar destruir a minha própria vida.

O ponto e vírgula é um lembrete de que enfrentei tempos difíceis, mas superei. O ponto e vírgula me lembra que aqueles dias representam uma pausa para respirar e seguir em frente, viva e feliz.

Vou contar apenas da primeira vez que tentei me matar. Foi aos 16 anos, na fase mais difícil da anorexia. Esperei minha família dormir para que eu pudesse ir ao quartinho dos fundos da casa, onde havia uma caixa de remédios. Lá, tomei o que via pela frente, líquidos e pílulas. Voltei para meu quarto, onde apenas dormi, achando que não iria mais acordar. Mas acordei, passei o dia todo sonolenta, e não contei a ninguém o que havia feito.

Fiz essa tatuagem para que quem conheça o projeto, se identifique e possa se sentir à vontade para me pedir ajuda. Você não está sozinho! Na época que tentei me matar, não tive uma pessoa para segurar minha mão e dizer que essa tempestade iria passar. Ou para falar que também havia passado pela mesma situação e conseguiu superar. Por isso, quero ser essa pessoa, que segura sua mão e fala: “você vai conseguir ser feliz, acredite em mim”.

Meus pais sempre fizeram de tudo para me ver feliz. Me desculpem, por favor, por eu ter desistido por um momento. Vocês, na verdade, foram a minha força para que eu realmente iniciasse uma nova sentença depois do ponto e vírgula. Uma sentença cheia de vida, graças ao apoio de vocês e de amigos.

Isso serve para lembrar também que nenhum tipo de transtorno mental deve ser menosprezado. Sim, é uma doença! Sim, precisa de medicamentos! Sim, todo cuidado é necessário! E não, não é “frescura”! A sociedade que não é boa com nós, que cobra o melhor da gente em cada passo que damos. Nossa mente é prejudicada e as pessoas precisam ter consciência disso!

Compreendi que o sol sempre volta a nascer. Não importa que o céu esteja escuro agora, ele volta! Sabe aquela história de que “depois da tempestade, sempre vem o céu azul”? É isso!

--

--

Fernanda Fahel

Jornalista, Educadora Parental (PDA), Doula, madrasta e mãe. Criadora do Despedida de Ana e Mia (2013) e De Bem Comigo (2014). 🌟 Instagram: @fefahel