A liberdade e o ódio de cada dia

Felipe Avelar
4 min readNov 10, 2017

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Não era esse texto que pretendia colocar aqui, era sobre um tema completamente diferente, mas esse ainda está se construindo direito na minha cabeça, então vou deixá-lo de molho por algum tempo.

Entretanto, dado os últimos eventos que ocorreram, tomei a decisão de falar sobre isso, talvez sem conhecimento teórico sobre, mas com reflexões sobre liberdade de expressão e discurso de ódio.

Eu sei, eu sei, já passou do tempo, mas foi um assunto que veio a tona essa última semana por vários motivos. Primeiro por causa desse vídeo da ilha dos barbados, que levou a um longo debate acerca do tema. Já, mais recentemente, houveram dois momentos que me fizeram levantar o mesmo questionamento: o William Waack e o seu episódio de racismo e outro post do buzzfeed sobre “boy lixo”.

Em primeiro lugar, vou explicitar minha posição sobre o tema, que é, basicamente, a mesma do Rafinha Bastos no vídeo: “Eu não sei”. Eu não sei o que deveria controlar, quem deveria controlar, como deveria controlar. Não sei se punir por vias estatais é o melhor caminho, principalmente tendo os legisladores que temos hoje, que não respeitam o povo, afinal, se a sociedade tivesse todo esse poder de controlar nossos queridos deputados e senadores, um presidente com 3% de aprovação, certamente, não estaria mais no poder.

Além de não respeitarem a nossa opinião, legislam em direção ao retrocesso, basta ver o problema que se gerou com o teto, que sem a aprovação da reforma da previdência vai criar uma confusão para o controle das contas públicas, a aprovação de uma reforma trabalhista nefasta em que eles não sabem se rediscutem ou não a contribuição sindical, o principal ponto usado para defendê-la ou, ainda, as mudanças nas regras para punição do trabalho escravo.

Entretanto, como controlar disparidades entre camadas populares que tem poderes sociais tão divergentes? Deveria o Estado realmente permitir que declarações como a do William Waack sejam punidas única e exclusivamente pela sociedade? Outro ponto, será que o povo é capaz de combater tais discursos de forma que apenas o “lado mau” seja afetado… Mas, afinal, o que é o lado mau? Poderíamos dizer que exposição de arte, as quais foram combatidas pela sociedade civil, são tão, ou até mais, perversas que a declaração do jornalista? Onde fica a linha que separa esses tópicos, quem deve deter o poder sobre essa linha? Não seria a sociedade, a qual elege seus próprios representantes, tão incapazes quanto eles para definir essa linha?

Como você pode ver, caro leitor, esse texto é uma chuva de questionamentos sobre onde termina a liberdade de expressão e começa o discurso de ódio. Até onde falar é tranquilo? A partir de onde é nocivo? Enquanto não formos aptos a definir essa linha, como seremos, como sociedade, capazes de traçá-la e quem terá como fazer?

Além disso, temos que levar em conta o quanto de peso tem cada discurso? O discurso de ódio de uma maioria é pior que o de uma minoria? Ou é igual? Esse último questionamento surge, justamente, do texto do buzzfeed. Gratuitamente o portal ataca um gênero, por achar que o seu discurso não é ofensivo, quando, na verdade é.

Não vou entrar no velho discurso do “nem todo homem”, porque eu não acredito que o “boy-lixo” seja uma característica inata dos homens, mas sim de qualquer ser humano. Da mesma forma que temos homens que “O vocalista de banda que se acha um semideus.”, não temos mulheres que acreditam flutuar, pois o chão é sujo demais pra elas?

Mais controverso ainda é o mesmo blog que tem um quiz que caracteriza um tipo de “boy-lixo” como “O torcedor, que vai com camisa de time para TODO lugar.”, ter um artigo com “15 coisas que todo homem que AINDA é machista diz” no qual o item quatro é “Não é que eu não gosto que você se maquie, é que eu prefiro você mais natural”, alegando que a mulher deve ser respeitada e querida pela forma que ela se sentir mais confortável, parece meio paradoxal, mas então a mulher tem que se sentir confortável com ela mesma e o homem é lixo caso o tente fazer?

Então, esse tipo de publicação, que é uma forma de ódio, deve ser censurada ou punida também? Ou estamos querendo punir quem não nos tolera, enquanto não somos punidos por sermos intolerantes?

Essas são as questões que eu tenho carregado e que me fazem ir e voltar em posições sobre a liberdade de expressão contra o controle do Estado sobre o discurso de ódio. Se você teve a paciência de ler até aqui, muito obrigado, de coração e espero que esses questionamentos sempre circulem as nossas cabeças sobre que decisões tomar. No mais, qualquer pessoa que sinta a vontade de compartilhar seus posicionamentos e que queira debatê-los de forma civilizada, para que possamos crescer juntos, sinta-se a vontade. (:

“ Todo homem toma os limites de seu próprio campo de visão como os limites do mundo.”

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