Às vezes só quero boiar

Fernanda F. Trindade
2 min readNov 29, 2022

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Sem rumo. Sem pressa. Sem hora pra chegar.

Quando era criança lembro dos dias quentes de verão e da família reunida em alguma casa com piscina. Cada um ali gostava de aproveitar a água de um jeito diferente, mas toda vez que meus pais entravam juntos, a mesma indignação por parte do Sr. E sempre aparecia: ele não sabia boiar. Em contrapartida, era o que minha mãe fazia de melhor. Eu não sei se isso é realmente verdade ou se tem comprovação científica, mas me parece que boiar não é pra todo mundo.

Com a Sra. minha mãe aprendi a soltar o corpo, sem medo. Elevar o quadril, esticar as pernas, abrir os braços e relaxar. A cabeça vai encontrar o ponto certo do equilíbrio, que geralmente consiste em submergir os ouvidos e deixar só o nariz, a boca e — às vezes — os olhos acima d’água.

Quando a postura perfeita se instala, a diversão começa. E não se deixe enganar por essa palavra: não há nenhum movimento a ser feito.

Ouvir o silêncio é um privilégio para poucos. Os sons do ambiente abafados pela água que entra nos ouvidos. Sentir a água fresquinha que cobre o corpo, que às vezes escorre e sentimos a pele arrepiar com a brisa que passa por cima. Vez ou outra sentir o calor do sol esquentar e depois sumir por detrás das nuvens. Nesse momento, eu sei que nada ocupa minha mente.

Boiar no mar e boiar na piscina são experiências completamente diferentes. As marolas trazem consigo uma emoção à parte. A imensidão azul é um alento, mas ao mesmo tempo amedronta.

Eu não me lembro a última vez que boiei. Há muitos anos não nado em piscinas, muito menos fui à praia. E tudo que eu mais queria hoje era boiar. Sem tomar nenhuma decisão, sem me preocupar com aprendizados e sentimentos. Sem precisar pensar no futuro. Sem ter que escolher entre duas coisas que eu quero. Só deitar, fechar os olhos e acordar em outro lugar.

Sem rumo. Sem pressa. Sem hora pra chegar.

Photo by Girma Nigusse on Unsplash

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