O universo de um taxista

Fernanda Alves
doze34
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3 min readDec 20, 2017

Por Thiago Mendes e Fernanda Janaína da Silva Alves

Taxistas são bons ouvintes. Psicólogos, terapeutas. Alguns motoristas chamam o banco do passageiro de “divã”. Mesmo em corridas simples, de dez ou cinco minutos é possível “espiar” o universo do passageiro, como comenta o taxista Mauro Castro, que dirige pelas ruas de Porto Alegre há 31 anos.

(Foto: Fernanda Alves)

Esse nome não te parece familiar?

Bom, isso pode ser devido ao fato de que Mauro, durante 12 anos, foi colunista do Diário Gaúcho, jornal popular do estado. Entre 2003 e 2015, o taxista-escritor escreveu, toda semana, duas colunas, em que contava histórias do cotidiano de um taxista.

Tudo começou quando Castro começou a contar as histórias que aconteciam no seu carro para o então editor do Diário Gaúcho, Cyro Martins Filho. Cyro teve a ideia de escrever uma reportagem falando sobre o dia-a-dia de um taxista, e pediu para que Mauro enviasse algumas histórias a ele. Considerando os textos bem humorados e redigidos, o editor deu um espaço semanal a Mauro como colunista. Assim nasciam as “Taxitramas” — nome da coluna.

Em 2006, foi lançado seu primeiro livro, homônimo à coluna. Seguidos deste, vieram mais dois, que compilam as colunas publicadas no DG. No dia 11/01/2018, será lançado o 4º livro de crônicas já publicadas que encerra o ciclo do taxista no jornal.

Atualmente, Mauro não se atém a publicar seus textos em um veículo específico: no bloco de notas do celular, atrás de panfletos recebidos no trânsito, novas histórias ganham forma — agora sem o limite de 2 mil caracteres da coluna -, e são publicadas diretamente no Facebook. O escritor cogita a ideia de lançar um novo livro com as histórias deste seu “novo ciclo”.

“Agora, estou focado na publicação do meu 4º livro, mas não descarto a ideia de lançar um novo com estas novas histórias”, comenta.

Entre todos os acontecimentos que o motorista já vivenciou, Mauro cita quatro como inesquecíveis:

“Uma pessoa já morreu no meu carro, na década de 80. Não existia o SAMU naquela época, e quem fazia o transporte de pessoas para o Pronto Socorro eram os taxistas. Em contrapartida, já quase fiz um parto, mas conseguimos chegar no hospital a tempo. Já transportei uma passageira dentro do porta-malas. Ela queria sair do motel em que estava com o amante e desconfiava que o marido estivesse seguindo ela. Teve também a vez em que uma freira me pagou a corrida com lingeries. Ela estava indo à rodoviária, ia entra para um convento em São Paulo, e me pagou a corrida com lingeries porque, segundo ela, ‘não ia mais precisar’. Imagina chegar em casa e explicar isto para a esposa?”, conta o taxista, aos risos.

Curioso com as histórias de Mauro? Você pode conferir todas elas no blog Taxitramas — Diário de um Taxista.

(Foto: Mauro Castro)

Hoje, ele se aventura também na fotografia. A imagem que abre esta matéria foi Mauro quem nos ensinou a fazer. Sentado no banco do motorista, ele enquadra lugares da bela e controversa Porto Alegre.

“Descobri que podia fazer isso quando olhei pelo retrovisor e percebi que dava para enquadrar dois cenários bem opostos, através do espelho.

As fotos estão disponíveis no Instagram do taxista, que é atualizado regularmente.

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