PRECISAMOS FALAR SOBRE TURISMO SUSTENTÁVEL: DICAS PARA QUEM QUER SER UM VIAJANTE MAIS CONSCIENTE

Por onde andamos
11 min readJun 19, 2018

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Turismo sustentável tem sido um tema frequente na minha vida ultimamente. Ou melhor, tenho me preocupado cada vez mais em levar uma vida sustentável, afinal uma viagem costuma ser um evento esporádico.

Eu ando pesquisando muito e colocando algumas coisas em prática, mas ainda estou muito longe de ser um exemplo de uma pessoa que sabe minimizar seu impacto no mundo.

Porém, descobri algumas coisas bem legais, e simples, para colocar em prática sobre turismo sustentável, e quero compartilhar aqui, com você que também se preocupa com o futuro desse planeta, e quer ser um viajante mais consciente quando estiver longe de casa.

Viajar é tudo de bom, mas causa um enorme impacto no meio ambiente e social dos destinos, e nós precisamos ter consciência sobre isso para causar impacto sim, mas de forma positiva.

O turismo sustentável vai muito além dos cuidados com o meio ambiente, porque envolve também a preocupação com o desenvolvimento econômico, bem como a preservação da cultura dos lugares que você e eu visitamos.

Vamos entender um pouco sobre todo esse impacto negativo:

COMO A INDÚSTRIA DO TURISMO IMPACTA O MUNDO

Uma única viagem pode envolver todo tipo de locomoção em meios de transporte como avião, ônibus, carro, metrô, bicicleta, etc. Também necessita do consumo de recursos não renováveis como energia elétrica e água. Sem falar nos dejetos que são gerados pelos negócios e pelas pessoas.

Sendo assim, o lado ruim da indústria do turismo é que ela contribui com cerca de 5% da emissão de CO2 no mundo, que impacta diretamente as mudanças climáticas. Muito disso por culpa justamente das atividades essenciais para o setor, como o transporte e a hospedagem.

Em alguns lugares, a poluição do solo e da água por conta de atividades turísticas é uma realidade, bem como o consumo excessivo de recursos, já que em alguns lugares uma única pessoa em um resort gasta muito mais água uma família de moradores, ocasionando assim uma maior escassez.

Quando o turismo limita o acesso dos locais a territórios e recursos, isso pode acabar por gerar um aumento na criminalidade e na exploração comercial do sexo, sem falar em uma perda significativa dos valores sociais e culturais.

Tudo isso, claro, se o turismo sustentável não for uma prática comum, e se não houver respeito às tradições e pessoas que ali moram. Outro grande problema que a falta de políticas de turismo sustentável traz são os salários extremamente baixos de pessoas da comunidade que trabalham em estabelecimentos essenciais para essa atividade.

A responsabilidade de implementar o turismo sustentável não é somente do governo ou das empresas do setor, mas também nossa, enquanto consumidores de todos esses serviços e produtos que podem ser bons ou não para o destino que estamos visitando, para as pessoas que residem e trabalham lá e para o ambiente.

O problema é que, muitas vezes a gente nem sabe por onde começar a praticar o turismo sustentável, então resolvi assumir um compromisso público por aqui e vou começar a mostrar, na prática, nas nossas próximas viagens,enquanto eu também aprendo mais sobre o assunto, como é possível ser um turista mais consciente, sem que isso prejudique em nada a diversão e com atitudes simples e fáceis de implementar

Quem mais vem comigo nessa?

Por enquanto, vou trazer algumas dicas pra gente colocar em prática agora mesmo, para que a gente viaje e conheça esse mundão, mas que também faça a nossa parte para preservar as belezas e os recursos naturais para as gerações futuras.

DICAS PARA CONTRIBUIR COM O MOVIMENTO DO TURISMO SUSTENTÁVEL

ESCOLHA DESTINOS MENOS “BATIDOS”

Quem foi à Barcelona nesses últimos anos provavelmente presenciou protestos de moradores contra o turismo desenfreado que vem sendo praticado na cidade,.

Em 2014 foi lançado o documentário “Bye Bye Barcelona“, que já mostrava o que a falta de políticas de turismo sustentável pode causar à uma cidade, como a alta de preços nos imóveis e nos bens de consumo, obrigando os locais a procurarem outros lugares para morar e gerenciar seus empreendimentos, o que pode ocasionar na perda de identidade de Barcelona no futuro.

Outro destino que sofre com a superlotação é Santorini, que desde 2017 passou a limitar o número de turistas que chegam de navio à ilha, pois este tipo de viajante acaba por quase não gerar retorno financeiro para o local, apesar do impacto que produz.

A lista de destinos que estão sofrendo com o excesso de turistas inclui Veneza , Cinque Terre e atrações famosas como o Monte Everest e Macchu Picchu, que aplicam medidas para limitar o número de visitantes bem como acompanhar suas ações nesses locais.

Mas, isso não significa que você não possa conhecer esses destinos. Escolha viajar na baixa temporada. Geralmente você não terá que enfrentar filas, os preços estarão mais baixos e você acaba por não sobrecarregar a estrutura do local. Eu sempre faço isso e amo!

E não custa avaliar se você quer de fato viajar para lá ou se é só “porque todo mundo está indo”.

Esse mundo é imenso e, dificilmente, você terá tempo de conhecer cada canto dele, então, por que não procurar por aqueles locais que são igualmente lindos, mas que ainda não caíram no turismo de massas?

TENHA RESPEITO PELA CULTURA E PELO LOCAL QUE VOCÊ ESTÁ VISITANDO

Nós acabamos de voltar do Peru e, claro, visitamos Macchu Picchu, que é a atração que leva turistas de todo mundo ao país.

A quantidade de visitantes, mesmo na baixa temporada, é bastante grande, e o governo foi obrigado a tomar medidas para resguardar esse patrimônio da humanidade, limitando a duas o número de vezes que você pode visitar o parque no mesmo dia.

Ainda assim, a previsão é que, em 20 anos, será muito mais difícil visitar Macchu Picchu, já que grupos cada vez menores serão autorizados a entrar no local que pode não estar mais tão preservado quanto é hoje.

Durante nossa visita por lá, o guia nos contou que as autoridades peruanas já estão bem preocupadas com o impacto causado pelo turismo desenfreado.

Em prol de uma foto para ganhar curtidas no Instagram, os visitantes fazem coisas absurdas, que colocam em risco não só a sua própria segurança, como a integridade do local. Poxa galera, isso realmente não vale a pena né!

Algo semelhante aconteceu com a pirâmide de Chichen Itza, no México, que foi obrigado a proibir as visitas ao interior do monumento, pois as pessoas jogavam lixo e urinavam no seu interior.

PARTICIPE DA COMUNIDADE LOCAL

Viajar é experimentar e ficar na zona de conforto pode fazer com que você perca a oportunidade de passar por situações que vão se transformar a sua viagem comum em momentos inesquecíveis.

A primeira forma de vivenciar o destino é mergulhando na culinária local. Você não precisa experimentar os pratos mais exóticos do mundo, mas dar uma chance aos sabores e ingredientes locais faz parte da experiência.Deixe o arroz e feijão pra quando voltar para casa.

Interagir com os moradores do local também é uma ótima forma de se integrar. Além disso, você vai conseguir dicas que não vai encontrar em nenhum guia por aí.

Aprender algumas frases na língua local demonstra interesse na cultura e abre muitas portas. Aquela fama de antipatia dos franceses não existe se você começa qualquer diálogo com um “bonjour”.

Se puder, participe de eventos típicos (não aqueles para turista ver) e procure por lugares frequentados pelos residentes. Caso você decida ficar por mais tempo no destino, e queira experimentar o que seria a vida de um morador, alugue um apartamento ou casa ao invés de ficar em um hotel. O Airbnb é o melhor site para isso e fazendo sua primeira reserva por lá através desse link você ganha 130 reais de bônus.

CONSUMA RECURSOS DE FORMA CONSCIENTE (COMO VOCÊ FARIA NA SUA PRÓPRIA CASA)

Muita gente quando pensa em turismo sustentável relaciona atitudes que já são mais incentivadas, inclusive pelos hotéis, como a reutilização de toalhas, banhos rápidos e o desligamento de todos os equipamentos eletrônicos e luzes quando não utilizados.

Ou seja,usar os recursos oferecidos sem desperdício, exatamente como você faria na sua própria casa.

MINIMIZE A EMISSÃO DE CO2

Não tem jeito, para viajar, independente da distância percorrida, você terá que usar algum meio de transporte.

Mas nem por isso você precisa se conformar que não há nada a ser feito. Porque há!

A primeira dica é dar preferência a voos diretos, porque, além de serem mais rápidos, economizam combustível. Claro que, nem sempre será possível porque os preços são mais altos, mas se você puder, opte por eles.

Porém, tem algo que você pode sim fazer, independente do seu orçamento de viagem: reduzir o tamanho e o peso da sua mala. Parece pouco, mas imagine se todos os viajantes passassem a incorporar esse hábito? O impacto pode ser grande. Fora que, viajar cheio de malas não é nada prático e pode sair caro se você tiver que pagar por excesso de bagagem.

Evite o vaivém e o pinga-pinga. Ou seja, inclua menos cidades e mudanças em seus roteiros, porque assim não só você economiza na emissão de CO2 como também gasta menos já que transporte é uma parte bem pesada do orçamento de viagem e você aproveita muito mais.

Sempre que possível escolha hospedagens mais próximas aos pontos turísticos que mais deseja visitar. Assim como os voos diretos, essa opção também pode ser limitada por conta do orçamento, mas se der, melhor. Você também ficará menos refém de meios de transporte.

Por falar em transporte já no destino, que tal optar por transporte público sempre que possível? Mas o melhor mesmo é se locomover a pé ou de bicicleta. É mais barato, ecologicamente correto e você vai descobrir cantinhos bem interessantes que passariam despercebidos dos seus olhos.

NÃO PARTICIPE DE PASSEIOS QUE ENVOLVAM ANIMAIS SELVAGENS

Pode até parecer tentador ter um contato maior com animais selvagens que só vemos pelo Discovery Channel, mas esses animais são selvagens por um motivo, e são seres vivos e não atrações turísticas.

Para não colocar a vida,ou integridade física do turista, que participa de atividades que envolvam animais como golfinhos, tigres e elefantes, muitas vezes esses animais sofrem maus tratos, sendo sedados, doutrinados com choques ou varas de bambu e chegando até o absurdo de terem seus dentes lixados e arrancados.

O bem-estar desses animais, que na maioria das vezes não recebem o tratamento que merecem e precisam, deve estar muito acima de uma foto de recordação, não acham?

Não se engane também quando encontrar animais em aparentes boas condições e garantias de um ótimo tratamento por parte de pessoas que exploram passeios desse tipo, pois você pode ter certeza que para os turistas o cenário será pintado da maneira mais otimista possível.

Mais uma vez, no Peru, vi cavalos carregando pesos absurdos em suas costas, e com machucados em carne viva por isso. Claro que, os animais que estavam sendo usados para transportar turistas nas costas montanha a cima estavam em bom estado físico, mas claramente contrariados de ter que subir com um peso nas costas enquanto escorregavam e afundavam na lama.

Em qualquer circunstância, se você usa e paga por esse tipo de serviço, você está colaborando com esse tratamento nada gentil que muitos animais recebem. Pense nisso!

NÃO COMPRE PRODUTOS FEITOS DE ANIMAIS OU PLANTAS AMEAÇADOS DE EXTINÇÃO

Como você vai saber quais animais ou plantas podem estar ameaçados? Simples, procurando se informar um pouco sobre o destino e demonstrando interesse na natureza do local.

Ainda assim, se você se deparar com produtos feitos de marfim (presa de elefantes), jóias de casca de tartaruga, coral, conchas ou pele de animais , não compre.

Além das memórias, histórias e fotos de suas viagens você pode optar por comprar souvenirs produzidos pela comunidade local ou com materiais reciclados, assim você vai estar contribuindo para economia local e para o meio ambiente. Mais sustentável que isso? Impossível!

CONTRATE SERVIÇOS LOCAIS

O mesmo vale para os serviços, como guias, agências de passeios, motoristas, etc. Dê preferência a empresas e profissionais do local.

Mais um exemplo do Peru: todos as agências e guias que contratamos para os passeios eram peruanos. E mais que isso, cada um deles havia nascido ou morado nas regiões que fomos conhecer, e por isso tinham um vínculo especial com o lugar e histórias incríveis para compartilhar, o que faz muita diferença na nossa percepção do local que estamos visitando, acredite.

DÊ PREFERÊNCIA A ESTABELECIMENTOS QUE PRATICAM A SUSTENTABILIDADE

Nós, enquanto consumidores, temos um enorme poder que nem sequer nos damos conta. Quando escolhemos ser clientes de um restaurante ou hotel, estamos definindo o se aquele negócio terá ou não sobrevivência a longo prazo.

Quanto maior o apoio dado a estabelecimentos sustentáveis, mais negócios que seguem esse modelo irão aparecer. É a infalível oferta x demanda na prática.

Para garantir que as práticas de turismo sustentável de algumas empresas não seja apenas uma bela jogada de marketing, já que a sustentabilidade ajuda a vender, procure por certificados e premiações, como essas aqui:

  • ISO 14001: sistema de gestão ambiental para a preservação do meio ambiente
  • Selo LEED: mostra se o hotel foi construído de acordo com as normas para edifícios sustentáveis
  • NBR 15401: norma para gestão sustentável de hospedagens.
  • Green Globe: certificado global de turismo sustentável.
  • Travel Life: treina e certifica estabelecimentos como hotéis e agências de viagens.

NÃO CONTRIBUA PARA O DESPERDÍCIO DE PLÁSTICO

Muitas vezes conseguimos reduzir o uso de plástico quando estamos em casa, mas durante as viagens, especialmente se não houver planejamento para isso, é mais difícil fugir da montanha de plástico que permeia boa parte dos produtos que usamos.

O canudo já está sendo reconhecido como um vilão do meio ambiente. E na boa, por que você precisa dele quando pode perfeitamente usar a boca? Alguns lugares, como no Rio de Janeiro , estão proibindo os canudos de plástico e obrigando os estabelecimento a fornecer canudos de papel biodegradável. Ainda assim, isso resulta em resíduos e a pergunta permanece: você realmente precisa disso?

Se sim, opte pelos de vidro ou inox e leve-o sempre com você. A mesma dica vale para outros itens descartáveis como copos, garrafas plásticas e talheres. Monte um kit para viagem com esses itens e leve sempre com você. Se for fazer compras, não esqueça a sua ecobag (essa dica eu pretendo colocar em prática porque ainda não aderi : /)

O turismo sustentável começa a partir da consciência dos problemas, e de como podemos estar contribuindo para a perpetuação de um estilo de viajar que, não só é sustentável ao planeta no longo prazo, como causa problemas imediatos ao meio ambiente e às comunidades.

As dicas são simples e pode apostar que isso nem é tudo que podemos fazer para ser um viajante que trata tudo e todos a seu redor com respeito e amor. Mas já é um excelente começo!

Eu me me comprometo a cada vez mais fazer a minha parte. E você? Vem comigo nessa?

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Daniel & Fernanda.Blog de viagens com foco em turismo de experiência. Membro da RBBV.