Como venci a compulsão alimentar

Fernanda Fahel
3 min readFeb 21, 2017

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Quando converso com as pessoas pessoalmente sobre os transtornos alimentares, elas sempre me perguntam a respeito da minha fase com a anorexia e com a bulimia. Acho que eu também procuro manter a conversa nestes dois temas.

Mas uma conversa que tive em 2015 me marcou muito. Falei sobre minha fase com a compulsão alimentar. Nunca tinha falado abertamente sobre o tema com alguém. E quando as palavras sobre a compulsão começaram a sair de minha boca, não contive as lágrimas.

Ao expor todo este descontrole que eu sentia com a compulsão, lembrei da dor e da angústia que tomavam conta de mim. E comecei a refletir mais sobre como minha história com a compulsão começou e sobre como consegui vencê-la.

Imagem: https://goo.gl/sZOx1S

Quando comecei a ganhar peso após a anorexia, a partir de suplementos e de uma alimentação balanceada, passei a ouvir comentários do tipo: “nossa, Fernanda, como você engordou”; “não está mais magra como antes”…E por aí vai. Como eu ainda não estava 100% psicologicamente, os comentários me abalaram muito, gerando uma ansiedade enorme. Eu guardava uma intranquilidade emocional dentro de mim. Hoje penso que essa ansiedade era o somatório de sentimentos mal resolvidos: culpas, medos, tristeza, rejeição, mágoas, preocupações…

E isso me consumiu de tal maneira, que passei a descontar na comida. Mas ao invés de NÃO COMER, comecei a COMER MUITO. O problema é que não era um “muito” daqueles que a gente come num churrasco do fim de semana. Era algo incontrolável. Comia coisas em quantidades absurdas.

Dificilmente eu, como uma comedora compulsiva, devorava um pé de brócolis ou um quilo de tomates! Eu comia uma caixa de bombons, uma pizza inteira e dois litros de refrigerante em cerca de duas horas. E isso me rendeu quilos a mais, chegando a pesar quase 90 kg. E depois de um episódio de descontrole alimentar, a sensação de culpa surgia, piorando meu estado emocional, o que acarretou na depressão.

Quando a comida acabava, chegava a vasculhar o lixo da minha casa para comer algum resto que tinha sido jogado fora. Comia até coisas “ruins” só para me empanturrar. O assunto “comida” consumia “200%” do meu tempo. Eu acordava e dormia pensando no que eu ia comer. Deixei de ir a muitas festas e eventos com medo da comida. Deixei de viver muita coisa por causa disso.

[Ainda sobre aquela conversa de 2015]: fui questionada, naquele momento, aos prantos, sobre o que tinha me salvado da compulsão alimentar. E cheguei à conclusão que foi o amor próprio.

Estando rodeada de pessoas queridas que gostavam muito de mim, entendi que elas me amavam não importando se eu estava acima do peso ou não. Que o que importava era minha maneira de ser e que não seriam quilos a mais ou a menos que mudariam isso. E assim, passei a enxergar os pontos positivos que eu tinha. Passei a me amar, do jeitinho que eu sou.

Nessa época, eu tinha um medo enorme de duas coisas: refrigerante e comer em público. Aprendi que não seria um copo de refrigerante que me faria engordar e que eu poderia comer em público, sem ter vergonha de ser feliz.

Meu medo, na realidade, era dos comentários que eu poderia ouvir ao comer algo “gorduroso”. Me esforcei, então, para comer um docinho todas as quartas-feiras após o almoço, com meus colegas de trabalho. Para lembrar, eu colocava um lembrete no celular. E funcionou! Aos poucos, entendi que comer doces, desde que de maneira equilibrada, não faz mal. E para minha surpresa, ninguém comentou sobre aquela minha evolução. Afinal, era algo normal! Vitória! \o/

Com todas essas superações, consegui melhorar minha qualidade de vida e não ter mais episódios de compulsão. Ainda sou uma pessoa ansiosa? Sim, ainda sou uma pessoa ansiosa! Mas hoje sei lidar com isso, sem descontar na comida.

Às vezes compro uma barra de chocolate e como sem exageros e o mais importante: sem culpa. Aprendi que não preciso devorar tudo no primeiro dia como era antes. E se eu aprendi, todos podem prender! Mas mesmo assim… Se você acabar comendo tudo em um único dia, não tem problema! Amanhã é um novo dia. ❤

Observação importante: se você se identificou com a compulsão alimentar, procure ajuda de um médico. É possível controlar a compulsão e perder peso de forma saudável.

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Fernanda Fahel

Jornalista, Educadora Parental (PDA), Doula, madrasta e mãe. Criadora do Despedida de Ana e Mia (2013) e De Bem Comigo (2014). 🌟 Instagram: @fefahel