Um dia de cada vez: sobre minhas recaídas

Fernanda Fahel
4 min readJan 22, 2017

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Comecei a escrever este texto diversas vezes nos últimos seis meses. Não tinha certeza se queria expor que sim, eu tive recaídas. Eu, que desde 2013 me intitulo como uma “sobrevivente dos transtornos alimentares”. Eu, que sempre falei que “se eu consegui vencer a anorexia, todos conseguem vencer”. Me culpei por muito tempo só por sentir ter voltado à estaca zero.

Mas não, eu não voltei à estaca zero. Venci vários obstáculos em relação ao transtorno alimentar nos últimos 11 anos. Entendi que não posso me culpar por não me sentir bonita neste exato momento. Eu tenho a capacidade, eu sei, de voltar a me amar no dia de amanhã. Um dia de cada vez.

Parei de escrever para o Despedida de Ana e Mia no meio do ano passado e além das recaídas, meus motivos envolveram problemas dentro de casa. A pior recaída foi em novembro de 2016. Eu tinha acabado de voltar a morar na casa da minha mãe e vivenciava um período de muitas mudanças em minha vida.

Em novembro, prejudiquei meu corpo e senti que havia perdido o controle de novo. “A bulimia voltou”, eu pensava. Cada minuto a mais no banheiro era mais uma lágrima escorrida. Era um sentimento de derrota, misturado com a vontade de voltar a escrever para dar a volta por cima — de novo! E cá estou, com o sentimento de vitória neste momento.

Não, eu não tenho amado meu corpo todos os dias. E sabe de uma coisa? Não tem problema não se amar todos os dias. Mais uma vez: um dia de cada vez.

Ainda quero escrever mais sobre as recaídas, sobre o poder de não se culpar por isso e a força que existe dentro de nós para recomeçar em seguida. Mas por ora, deixo abaixo o primeiro texto que escrevi para o blog, em agosto de 2013. Para relembrar o início de tudo:

A minha busca pelo corpo “ideal” começou aos 12 anos. As inúmeras dietas e as várias horas na academia viraram obsessão. Minha maior necessidade era ser definida pela aparência, e acabava anulando outros fatores como a própria personalidade. O resultado dessa obsessão foi o desenvolvimento de anorexia, bulimia e compulsão. O transtorno alimentar distorce a imagem que a pessoa tem dela mesma. Quando todos me diziam que eu estava horrível e acabando com a minha vida, me olhava no espelho e ficava satisfeita com os ossos à mostra, mas ainda não era suficiente. Queria emagrecer cada vez mais. Eu tinha um medo enorme de morrer, mas o maior dos medos era o de engordar.

SPFW — com 42 kg

Tenho 1,73 m de altura e cheguei a pesar 42 kg. Meus cabelos caíam, minhas unhas não cresciam mais, sentia muito frio e meu coração batia mais devagar. Já não saía mais de casa, não sorria como antes e não tinha sonhos. Meu mundo ficou sem cor. Sinto que minha vida ficou em preto e branco todo aquele tempo.

A maior dor não era a do estômago vazio. Era a do sofrimento que eu via os meus pais passarem. Minha mãe não via lógica na minha obcecada vontade de perder peso. Por isso, não compreendia, e passamos a discutir muito. Hoje eu sei que tudo era por amor. Meu pai, que sempre foi meu melhor amigo, tinha medo de me abraçar porque achava que poderia me machucar, e também não entendia como a menina alegre de quem ele sempre se orgulhou tinha mudado tanto.

Enfrentei o transtorno alimentar e posso afirmar que magreza em excesso não é sinônimo de saúde, muito menos de felicidade. Melhorei quando percebi que as coisas mais importantes são ter uma carreira, um corpo saudável e muito amor pela família e pelos amigos. É preciso ter fé e coragem.

A partir da minha superação, quero ajudar outras pessoas que tem o mesmo problema e fazer com que se amem mais. Se eu consegui vencer, todos conseguem vencer!

Atualmente — os olhos voltaram a brilhar

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Fernanda Fahel

Jornalista, Educadora Parental (PDA), Doula, madrasta e mãe. Criadora do Despedida de Ana e Mia (2013) e De Bem Comigo (2014). 🌟 Instagram: @fefahel