Nada é Impossível: como uma (quase) Engenheira Aeroespacial se encontrou no time de Design

Fernanda Passos
4 min readMar 2, 2019

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Engenharia Aeroespacial. A-E-R-O-E-S-P-A-C-I-A-L. Não consigo me lembrar de uma pessoa que não ficou intrigada ao me ouvir pronunciar o nome do curso que eu estava pensando em tentar. Sendo muito honesta, aquilo fazia um bem danado para o ego e para o sentimento de obrigação, principalmente por eu ter visto meus pais fazerem todo tipo de sacrifício para bancar uma educação de primeira linha. Esses podem parecer motivos superficiais na hora de escolher uma carreira, mas para o meu eu do Ensino Médio, o reconhecimento social e o orgulho da família pesavam a ponto de eu me questionar se valia mesmo a pena fazer os cursos de que eu realmente gostava (todos na área de Artes). Essa situação toda foi terminar só no meu terceiro ano, quando com muita alegria mas pouca perspectiva, acabei passando em Aero.

O problema foi que não demorou muito para que a falta de fundamentos por trás da minha decisão aparecesse. Enquanto a maioria dos meus colegas se encontrou rapidamente em empresas juniores ou equipes de competição, lá estava eu, no meu quarto período, saindo de uma iniciação científica frustrante e desesperada por um sinal de que eu pertencia àquela profissão. Na tentativa de fazer o tal sinal aparecer na marra, enviei meu currículo para 19 dos mais diversos lugares que poderiam contratar um engenheiro — de fábricas de automóveis a bancos multinacionais. Entre todos estes, o único que me deu retorno positivo foi, na verdade, um programa de qualificação chamado Futuros Engenheiros. E não é que era disso mesmo que eu precisava?

Ironicamente, não foram as aulas de Soldagem ou de Usinagem que mudaram minha forma de encarar a situação, mas sim as de Competências Comportamentais. Perceber que eu me interessava muito mais pelos pontos de contato com as pessoas do que pelos processos-base da indústria fez com que, na virada do semestre, eu retomasse minha saga de envio de currículos com um foco completamente diferente.

Conheci o Méliuz no meio dessa reviravolta, através de uma amiga também desencantada com a Engenharia, que me contou sobre uma vaga na equipe de Design. Mesmo sem graduação específica na área, montei meu portfólio de freelas e de trabalhos voluntários (sim, eu já me arriscava como designer) e me candidatei. Na época eu não sabia, mas a cultura na qual as pessoas estavam imersas foi fundamental para que eu fosse aprovada. Acreditar que nada é impossível fez com que, durante todo o processo de seleção, os envolvidos não vissem minhas experiências peculiares como um empecilho, mas sim como um diferencial que iria acrescentar algo à empresa.

Já contratada como estagiária, tive contato com outro aspecto da cultura, que acabou sendo o que mais me fez perceber que eu havia acertado na escolha dessa vez. Fazer parte de uma equipe fora da curva significou, para mim, aprender muito em pouco tempo e entregar resultados que eu nem poderia imaginar. Enquanto no estereótipo caricato de indústria tradicional o estagiário só tira xerox e serve cafezinho, no meu primeiro dia de trabalho uma peça minha já foi para o ar no site do Méliuz. Três meses depois, eu embarquei no projeto de decoração do novo escritório: quatro andares enormes que precisavam ser transformados em nossa nova casa. Com seis meses na empresa, eu participava ativamente em decisões a respeito da identidade visual da marca.

O mais incrível nessa trajetória toda foi que o impacto das experiências e das pessoas envolvidas nelas não ficou só dentro do escritório. As responsabilidades, o aprendizado e a convivência me fizeram ter confiança em mim mesma e coragem suficiente para, de fato, mudar os rumos do meu futuro. Sem querer dar spoilers, se tudo correr como planejado, ano que vem estarei cursando Publicidade, com muito mais embasamento e preparo do que quando comecei o curso de Engenharia Aeroespacial. Mas, será que essa é a escolha certa? Bom, isso vocês vão ter que esperar outro texto pra descobrir.

Para você que leu até aqui, deixo minha gratidão e um conselho: se você se identificou com os primeiros parágrafos, é hora de chacoalhar as coisas. Talvez não seja necessário enviar currículos loucamente; pode ser que o empurrãozinho que você precisa venha depois da inscrição em uma palestra, da leitura de um livro, da matrícula em uma aula de dança ou da iniciativa de conversar com um desconhecido no ônibus — atitudes que, a propósito, também me proporcionaram descobertas inspiradoras. Enfim, não importa como, chegou o momento de experimentar, quebrar a cara, tentar de novo, voltar atrás e — principalmente — seguir em frente.

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