O que a vitória de Donald Trump significa para o meio ambiente?

Fernanda Resende
5 min readNov 18, 2016

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Apesar dos posicionamentos do norte-americano, a resposta é: quase nada.

É bem verdade que a eleição de Donald Trump para a presidência americana foi um tanto surpreendente, já que poucas pesquisas indicavam essa possibilidade. Mas o que me surpreendeu mesmo não foi a vitória em si, mas a reação das pessoas. O clima de fim de mundo. Como se Trump pudesse ser alguma espécie de encarnação do mal, ou pior, como se Obama tivesse sido a tábua de salvação. Menos, gente.

Não é meu papel aqui defender o novo presidente, que representa um tipo de pensamento que não tem nada a ver com o modo como busco levar a vida.

Mas existem vários “Trumps” mundo afora, e de uma forma ou de outra aprendemos a lidar com eles. Esse convívio tem trazido ensinamentos valiosos, que incluem ouvir o outro e compreender seu modo de ver o mundo. Talvez seja esse o tipo de reflexão que esteja faltando por aí.

Apesar das opiniões quase nunca respaldadas pela ciência nem pelo senso de realidade — vivemos no mundo da ‘pós-verdade’ -, existem alguns fatores que fazem com que os ambientalistas se dividam entre o ceticismo e o desespero. Faço parte do primeiro grupo, aquele que só acredita vendo.

Compartilharei aqui os motivos para essa aparente “calma” no meio da “tempestade”:

Obama não pode ser considerado nenhum “salvador da pátria”

Há poucos dias assisti no cinema o filme sobre a vida de Edward Snowden. Recomendo COM FORÇA para todos que queiram entender um pouco mais sobre o a espionagem em escala industrial e seus impactos. Uma das questões que chamou a atenção foi que a espionagem tornou-se um problema global na era Obama, que tinha como compromisso de campanha justamente regularizar o monitoramento dos serviços de inteligência. Vale lembrar que presidente americano só agiu quando Snowden levou a questão a público…

Apesar de ter sido um governo com inegáveis avanços na agenda social e ambiental, fica a dúvida se essa liderança toda é resultado do perfil de gestão do Obama ou se foi uma forma de manter o país na dianteira dos países de primeiro mundo, que já estavam legislando questões como o casamento gay e alinhados nas questões ambientais. Fico com a segunda opção.

Trump pode não saber aceitar fatos, mas ainda não parece ser burro

Não sei dizer o que faria se fosse eleitora nos EUA. Será melhor votar numa pessoa arrogante, misógena e que realmente se acha mais esperta que os outros? Ou numa pessoa escorregadia, com atuação obscura e que não mostra a que veio?

Apesar de tudo o Trump vem se mostrando de certa forma volátil, daqueles que muda de opinião de acordo com o que seus eleitores pensam (e o dinheiro caminha). E os defensores de políticas para a mudança do clima já passaram da fase de mostrar projeções do fim do mundo e apelar para a consciência dos líderes de governo. Os filmes catastróficos até ajudam, mas só té certo ponto.

A área ambiental sempre precisou mostrar seu valor

Veja o exemplo do estado de Washington. Localizado na costa oeste americana, está na vanguarda na formulação de políticas ambientais nos Estados Unidos. Washington foi um dos primeiros estados a liberar o uso da maconha para fins recreativos e o primeiro a proibir a caça de baleias, para ficar em alguns exemplos.

No início de novembro os eleitores desse estado votaram duas vezes: uma para eleição da presidência e em um plebiscito pela taxação das indústrias emissoras de gases de efeito estufa. Hillary Clinton obteve 54% dos votos, mas o projeto foi rejeitado por 58% dos eleitores. Como tal atitude contraditória pode ter acontecido?

A verdade é que a área ambiental sempre precisou mostrar a que veio, e seu desenvolvimento precisa ser condizente com as necessidades da sociedade e dos setores empresariais. A proposta da taxação era realocar os impostos, de forma que os grandes poluidores pagassem mais e empresas que poluíssem menos fossem subsidiadas — sem nenhum tipo de ônus para a população. A ideia é perfeita no papel, mas algumas projeções que indicaram redução na receita e na geração de empregos no longo prazo foram suficientes para deixar a população em dúvida sobre sua eficácia.

Em outras palavras, a proposta não era boa o suficiente.

E assim a área ambiental vem apanhando desde muito tempo. Vale lembrar que durante a Conferência do Clima da ONU em Copenhague, na Dinamarca, foi rascunhado um acordo para a redução de emissões de carbono, que não foi para a frente. E adivinha quem era o presidente americano que não ratificou o acordo de 2009?

A mesma pessoa que surgiu no encontro do ano passado e assinou o Acordo de Paris. Ambientalista? Não necessariamente. Apesar de bem intencionado, apenas desta vez ele e sua equipe foram convencidos de que não havia futuro na indústria de energia com o uso exclusivo dos combustíveis fósseis, e aceitar o acordo era uma forma de manter os Estados Unidos um país competitivo.

A lista das maiores empresas do mundo ainda pode ser dominada pelas petrolíferas, mas as empresas de tecnologia, que apostam em fontes renováveis, já estão marcando presença. E setores como da energia eólica são maiores que poluidores como o carvão, em número de empregos gerados. O futuro demanda muita pesquisa, muito trabalho. Mas também oferece um caminho com prosperidade e menos emissões.

Esse não é só o desejo dos estudiosos do setor, mas também uma indicação dos caminhos que o planeta começa a trilhar. E ai de quem ficar para trás. Certo, Trump?

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Fernanda Resende

Vejo o mundo com as lentes da tolerância entre os povos e do progresso que não extrapola os limites do planeta.