Acender as luzes vale a pena

Fernanda Szabadi
2 min readMay 21, 2020

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Uma lâmpada acesa iluminando as demais que estão apagadas.
Crédito: Colin Behrens/Pixabay

Às vezes na vida nos afeiçoamos a alguém mais do que o esperado. A gentileza, a educação, a personalidade, o sorriso, os abraços, o jeito de encarar as coisas. Até os defeitos parecem bonitos. São vários os motivos possíveis para se conectar com alguém porque sentimento não tem uma razão clara de ser, ele apenas é!

Esse algo que nos prende, e não sabemos exatamente explicar, pode ser qualquer detalhe que passa despercebido pela razão, facilmente derrotada pelo nosso lado emocional quando tomamos ações. Não importa como surgiu, o sentimento está lá e a tal pessoa passa a ser protagonista de grande parte do nosso imaginário.

No entanto, no plano real as coisas podem não sair bem do nosso jeito. Vocês até dividem bons momentos, mas naquele tão importante para você a pessoa não participa. Num dia difícil, ela também não se preocupa em perguntar “está tudo bem?”. E sucede-se uma série de pequenos descasos, mas você sempre encontra uma justificativa para cada um deles.

A gente costuma fazer isso quando se afeiçoa. Encontra na imaginação formas de preencher as lacunas.

“Ela deve ter tido um dia atarefado. Eu não demonstrei o suficiente. Nem era tão importante assim. Eu sou muito sentimental. Não respondeu por distração. Quem sou eu para pedir algo em troca?”

Acontece que, depois de muitas vezes, começa a ser difícil justificar a indiferença, a falta de interesse e de cuidados. Então, finalmente, você admite que talvez tenha caído na armadilha da idealização, além de administrado mal as expectativas.

A verdade é que as justificativas eram mais para você mesmo, para se proteger e evitar se machucar, do que para entender as razões do outro para se manter distante — ou perto quando convém.

O despertar dessa consciência é dolorido. Imagine trocar uma série de desculpas agradáveis por uma lista de mancadas. É como acender a luz em um teatro de sombras, perde-se todo o encantamento.

Aceitar nossa parcela de responsabilidade na decepção e, mais ainda, abandonar as lentes distorcidas talvez sejam as partes mais incômodas do processo de “desidealizar”. A sensação é ruim a princípio, mas passa.

Acender as luzes do teatro vale a pena.

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Fernanda Szabadi

Dizem que temos 70 mil pensamentos por dia. Acredito que alguns deles merecem virar textos.