Decidi não mais ter uma casa!

Fernando Kanarski
6 min readMay 23, 2017

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Trabalhando confortavelmente, tarde da noite, em frente a Marina Bay de Cingapura

Quando ouvi o discurso sobre “o que você leva na sua mochila?” pela primeira vez, durante palestra de Ryan Bingham (George Clooney), no filme Up in the Air, estava começando a construir minha carreira e uma vida em Curitiba. Mal sabia eu que aquele momento iria mudar de vez minha vida. Logo após o filme, corri para criar meus cartões de fidelidade em cias aérea e melhorar os cartões de crédito. Naquele momento também, eu começava a viajar por conta, explorar o mundo e descobrir que essa era minha paixão incondicional.

Imagine que você possui uma mochila vazia nas costas. Agora comece a colocar dentro dela todas as coisas que tem na vida. Comece com coisas pequenas, como as que estão nas prateleiras ou gavetas das cômodas. Agora coloque coisas maiores: lençóis, louças, travesseiro, computador… E coloque ainda os objetos ainda maiores: o sofá, a mesa de jantar, a geladeira, sua casa… Agora tente andar. Difícil, não? Mas é isso que fazemos diariamente. Nós carregamos tanto peso nas costas que não conseguimos nos mover. E não se enganem: a vida é movimento. Up in the Air. (pode assistir aqui: https://youtu.be/4Jn1Lr-FkeE)

Hoje estou aqui, na mesma Curitiba, com cerca de 490.000 km voados, uma nova vida, como nômade digital, dando um próximo passo na vida. Como tudo na minha vida, as coisas vão acontecendo aos pouquinhos, se transformando e enfim chegam grandes dias de transformação.

O próximo grande passo, construído ao longo dos últimos 2 anos, é não ter mais casa, não ter um canto, uma cama e montanhas de bugigangas que nunca usamos. Ou seja, uma mochila leve, pronta pra se mover rápido, sem precisar olhar para trás.

Do início do nomadismo a não mais ter uma casa

Quando eu comecei a trabalhar remotamente e viajar, na metade de 2015, conheci o termo “nomadismo digital”. Ter a liberdade de viajar e trabalhar de qualquer lugar. Os nômades geralmente viajam o mundo, cuidando de suas vidas e das suas famílias trabalhando remotamente enquanto exploram alguns dos lugares mais incríveis.

Nestes 2 anos eu testei o modelo, aumentei meus investimentos, conheci um bocado de países e voei algumas centenas de horas. Foi incrível. Mas mesmo seguindo o conceito de nomadismo, eu ainda tinha uma casa, minha cama, minhas coisas, um lugar pra chamar de lar. Ou seja, uma segurança caso tudo desse errado ou caso tivesse saudade e precisasse “descansar”.

Pois bem, tinha. A partir de hoje, não terei mais uma casa. A minha agenda está cheia de viagens, ficarei cada vez menos em Curitiba e manter um apartamento não faz mais sentido. Até agora fazia sentido pois eu dividia com um amigo. Era barato, era fácil de manter. Porém ele irá casar e, neste processo, resolvi chutar o balde e não ter mais uma casa.

Nos próximos meses, irei alternar entre idas e vindas ao Brasil, ficando relativamente pouco tempo por aqui. Assim, acaba sendo mais fácil viver de apartamentos de Airbnb e hotéis do que manter um apartamento alugado, que ficaria fechado por alguns meses. Os apartamentos de Airbnb em Curitiba são relativamente baratos e muitos deles são em prédios modernos, com ótima infraestrutura. Então, vou conseguir morar em diversos bairros e manter minha base brasileira em Curitiba, onde tenho negócios, dou aula e tenho vários amigos. A segunda base já está em planejamento, provavelmente na Ásia.

Quando fora do Brasil, continuarei com o que fiz nos últimos 2 anos, vivendo em Airbnb, hostels e hotéis, conforme preços e disponibilidades.

Nem tudo é fácil

Um dos principais problemas e talvez o que fez eu adiar esta mudança foi o fato que tudo no brasil precisa de um maldito comprovante de residência. Para resolver isso, eu consegui colocar meu nome em uma conta, na casa de um amigo. Assim, quando um comprovante de residência for pedido, eu poderei comprovar.

Tudo no brasil precisa de um maldito comprovante de residência.

A maioria das contas (Luz, Internet, TV) serão canceladas, pois não terei mais uma casa. As restantes, como conta de celular, do banco, corretora, plano de saúde, ou irão para meu endereço comercial (que já é um endereço virtual, mantido na Regus) ou irão para a casa do meu amigo. Tudo está programado em débito automático ou DDA, então será possível gerenciar tudo remotamente. Como não terei mais casa, raramente comprarei algo pela internet, mas se comprar, será para entregar na casa de algum conhecido (como presente).

Sobre o telefone, eu tenho um plano pós da Vivo relativamente básico. A Vivo é a única operadora do Brasil que possui sistema virtual de gerenciamento da conta. Através do aplicativo Tu Go é possível receber ou fazer ligações além de gerenciar SMS de qualquer lugar do mundo, precisando somente de uma conexão WIFI. Portanto, meu celular continua ativo normalmente.

Tenho uma empresa e tudo dela será mantido remotamente pela Contabilizei. A empresa curitibana que revolucionou o serviço de contabilidade é complemente digital, então fica muito fácil gerenciar tudo de qualquer lugar.

De tudo que tive que me desapegar, meu bonsai, carinhosamente chamado de Dioleno, será talvez a coisa mais difícil de desapegar. Já foi doado e ficará em boas mãos.

Dioleno, com seus quase 6 anos, já foi adotado.

Ao longo dos últimos anos, cuidei para não ter nada que pudesse me apegar muito. Sonho em ter várias plantas, um cão e vários objetos para casa. Infelizmente esta é uma frustração que carrego: a de não poder ter tanta coisa legal em casa. Mas tudo vale pela liberdade de ter pouca coisa e poder se mover rápido!

Em vez de acumular coisas, optei por acumular experiências e dinheiro. O dinheiro dá mais liberdade para manter esta rotina louca, as experiências serão a herança para meus filhos e netos.

Minha vida agora cabe numa mala (ou talvez 3).

Minha The North Face amarela, cruzando os desertos da Namíbia

Os últimos dias foram intensos. No tempo livre do trabalho, que tem sido agitado nesta passagem por Curitiba, tenho juntado e organizado minhas coisas. Sobrou uma caixa que foi para a casa dos meus pais e 3 malas e uma mochila. Destas, uma das malas e a mochila vão continuar a rodar o mundo comigo. As outras duas malas, com algumas roupas e coisas que considero muito importantes, ficarão em Curitiba na casa de um amigo para eu pegar sempre que por aqui passar.

Segundo o Ryan Bingham, do filme Up in the Air, quanto mais lentamente nos movemos, mais rápido morremos. É com esta filosofia que dou este novo passo, tendo menos “pesos” e liberdade para morar onde quiser, passar por onde quiser e fazer o que quiser. Sem precisar molhar plantas, pagar conta de luz e acumular caixas e mais caixas de coisas.

Quanto mais lentamente nos movemos, mais rápido morremos.

Neste processo, doei muita coisa, joguei muita coisa fora e vi que dá para viver com muito menos, além de ver o quanto de lixo acumulamos em nossas vidas esperando um dia os usar. O próximo passo é transformar as 3 malas em 2, nos próximos meses.

Foi uma incrível lição de desapego chegar até aqui e continuará sendo um grande desafio viver com cada vez menos coisas e de forma mais leve, prezando pela liberdade, sempre!

Mas (talvez) não é isso que quero para o resto da vida

Assim como o nomadismo digital tem um prazo, não ter casa também terá. Embora seja libertador e incrível, certamente chagará uma hora em que eu voltarei a ter um canto, começarei a pensar em uma família e ter uma vida “normal”. Mas certamente esta experiência me ajudará a viver melhor com menos!

Não tenho ideia de quanto tempo seguirei esta vida louca, mas por enquanto sigo empolgado, desbravando o mundo e quebrando alguns paradigmas e convenções sociais. O plano inicial é não ter casa ao menos até início de 2018, mas se tudo de certo, prosseguir com isso por mais alguns anos.

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Fernando Kanarski

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