O que todo mundo deveria saber antes de publicar um livro (10 lições sobre o mercado editorial)

Fernando Mesquita
8 min readAug 30, 2017

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Faz 4 anos que meu primeiro livro publicado (Sucesso nos Concursos de A a Z) ficou pronto.

Por causa da curta experiência que tenho (2 títulos publicados, o primeiro e o Ciclo EARA, O Processo da Aprovação, em formato eletrônico), muitas pessoas vieram, nesse período, me pedir conselhos e sugestões sobre a publicação.

Resolvi escrever sobre as lições que aprendi nesse período. O que vem a seguir, obviamente, não é a “realidade” (afinal, o que é?) mas a minha curta experiência desde a concepção da obra até a publicação e a venda dela.

  1. O que você espera dessa publicação?

Qual o seu objetivo ao publicar um livro? Você quer criar um legado? Quer transmitir suas ideias? Quer ganhar dinheiro? Quer gerar autoridade em um assunto?

Hoje, provavelmente há formas mais eficientes de alcançar qualquer desses objetivos sem necessariamente ter de passar pelo longo processo que normalmente é a escrita de um livro.

Não há resposta certa aqui, e ela varia mesmo entre autores. Para quem gosta de escrever, desconfio que seja uma espécie de compulsão. É uma visão simplista, mas o tempo há de verificar a realidade dela.

2. O maior responsável pelo seu livro é você

Quando eu mandei meu primeiro manuscrito para a publicação, depois que ele foi aceito, recebi uma ficha da editora com várias perguntas, e duas delas me chamaram a atenção: “quais canais de divulgação você tem hoje?” e “como você pretende divulgar seu livro?”.

Aquilo foi um choque para mim. Não sei você, mas quando eu pensei em publicar um livro por uma editora, minha ideia era de que eu seria abraçado e cuidado por aquela empresa, e ela seria responsável por TODA a divulgação da minha obra. Como assim “como você vai divulgar seu livro”?? Fiquei quase ofendido.

Claro, minha expectativa não representava a realidade. O mercado editorial funciona, em boa medida, como o mercado fonográfico. A editora aposta em 100 obras na expectativa de que uma delas seja um grande sucesso e possa sustentar a operação. Estatisticamente falando, a probabilidade é que você não tenha escrito essa uma grande obra.

Se você quer que seu livro seja razoavelmente bem-sucedido, você precisa ter sua própria presença online, o que nos leva ao próximo ponto.

2. Você precisa cuidar da sua imagem e da sua presença online

A publicação de um livro é apenas uma parte do que vai fazê-lo bem-sucedido.

Aqui, inclusive, vou partir do pressuposto que você quer ter algum tipo de sucesso com esse trabalho (qualquer que seja sua definição de sucesso), afinal de contas, se não for esse o caso, bastaria postar o arquivo na internet e esperar que ele morresse lá, em algum canto escuro.

O livro precisa ser envolvido por uma longa lista de ações, que envolve presença em redes sociais (facebook, youtube, instagram, dependendo da sua intenção e da sua propensão), criação de lista de e-mails para envio de newsletters, teasers regulares, escrita, revisão, arte final, publicação, divulgação (usando os meios anteriormente citados).

O sucesso de um livro começa meses antes de ele ser lançado. Mas desconfio que muitos autores iniciantes não saibam disso (como eu não sabia). E boa parte desse sucesso acontecerá em decorrência da estrutura que você vai montar para a divulgação do seu material. Hoje, isso acontece de forma majoritariamente online. Você precisa de uma vitrine (um site, blog, uma rede social robusta) para que essa divulgação impulsione os resultados da venda e do alcance do seu material.

Escrever um livro é fácil. Vendê-lo é difícil. E muitos livros morrem nas prateleiras porque os autores não entendem que para a maioria de nós, sucesso é 20% talento literário e 80% é marketing.

3. A prática vai te tornar cada vez melhor

Pode parecer óbvio, porque de fato isso acontece com a maior parte das vertentes da vida. Mas escrever mais vai te deixar cada vez melhor. Tanto na escrita em si, na criação do seu livro, quanto na divulgação e na venda dele.

O processo no início parece intenso, e sei de muitos autores que ficam ressentidos com a realidade do mercado. Infelizmente, no Brasil se lê pouco e mesmo bons livros precisam de poucas unidades vendidas para serem considerados best-sellers. Isso significa que a luta para chegar nessa lista acaba sendo maior, em parte porque não temos um mercado gigante. Você precisa, então, se tornar proficiente em alcançar esse mercado.

Como dito, isso será feito por meio da sua própria presença e da sua própria divulgação, o que traz um benefício adicional: ao publicar diariamente, ao conversar diretamente com o seu comprador, seja num blog ou numa rede social, você aumenta também sua capacidade de se comunicar bem. De nada adianta eu me achar um excelente escritor mas meu público não concordar comigo, afinal de contas.

4. Um livro não vai te fazer ficar rico — mas esse não deve ser o objetivo dele

O contrato padrão das editoras estabelece que 10% do preço de capa irá para o autor. Para o pessoal das humanidades (como eu), se o preço do seu livro será, digamos, R$ 35,00, isso significa que, antes de impostos, você vai receber a bagatela de R$ 3,50 por livro vendido.

Na minha última consulta, isso mal pagava um salgado de preço mediano em grandes cidades.

Para piorar, a tiragem padrão de autores desconhecidos é de 1.000 unidades, o que significa que, em cada uma delas (se você tiver a sorte de ter mais de uma), seu “lucro” será de cerca de R$ 3.500,00.

Definitivamente não é dinheiro suficiente para te fazer rico.

O livro serve como um cartão de visitas. Ser autor publicado é uma boa credencial, e abre espaço para que você crie uma estrutura de retroalimentação da sua presença — um livro te permite palestrar com mais facilidade, e em cada palestra mais pessoas te conhecem e podem se interessar pelos seus materiais publicados, o que aumenta sua audiência em redes sociais e cria um círculo virtuoso que termina com você, em 10 a 20 anos, conseguindo vender um milhão de cópias no primeiro ano (se você for bom. E se livros existirem até lá).

5. Não escreva pensando em dinheiro

Escrever é um péssimo negócio, financeiramente falando. É um processo intenso e demandante, e escrever com critério é excessivamente trabalhoso. Hoje, há diversas formas de se ganhar dinheiro (há quem argumente que é a melhor época para se ganhar dinheiro com atividades que não existiam pouquíssimo tempo atrás) que são menos trabalhosas e muito mais rentosas.

Procurar publicar um livro pensando em dinheiro será um compromisso de curto prazo, e te impedirá de aproveitar o processo da escrita e do crescimento da sua presença e da sua autoridade ao longo dos anos.

6. Feito é melhor que perfeito

A primeira vez que ouvi essa frase foi de alguém que citava Mark Zuckerberg, fundador da rede social Facebook. Desde então, guardo-a comigo como guia nesse mundo que parece tão cheio de atividades intermináveis.

É difícil terminar expressões artísticas. Um CD (falecidos no pós-iTunes), um livro, um quadro, um ensaio fotográfico, uma exposição, ou mesmo um artigo. Sempre há algo mais para fazer, sempre há uma revisão, uma mudança de fonte, de capa, de frase, ou mesmo a reescritura completa do texto (porque, afinal, ficou uma porcaria mesmo, por que alguém leria isso, vamos cancelar o projeto inteiro, preciso de um calmante…).

Mas o seu primeiro livro provavelmente será o seu pior livro. Talvez ele se torne o mais famoso, e você venha a se arrepender por isso, porque havia tanto que você poderia fazer, mas ao mesmo tempo ele só pôde se tornar famoso porque existiu.

Muitos livros morrem antes de nascerem. Meu pai escreveu diversas obras que ficaram guardadas em envelopes. Centenas de páginas de manuscritos digitadas em sua Remington pré-PC. Histórias que ninguém vai conhecer. Tudo bem. Às vezes, você só precisa tirar aquilo de você. Mas, se você quer compartilhar essas páginas com outras pessoas, você precisa publicar.

Vai ser imperfeito. Mas feito é melhor que perfeito, porque feito existe. Perfeito não. Publique.

7. Qual seu próximo livro?

Pode ser que você tenha escrito o livro mais importante da sua vida, o único que precisaria ser escrito sobre o assunto, o livro definitivo. Aquele que será um divisor de águas em toda a história da existência do tema que você está abordando.

Mas… se você está lendo este artigo, provavelmente isso não é verdade (a não ser que você tenha passado os últimos 10 a 15 anos debruçado intensamente sobre o assunto e tenha o dom de uma perfeita escrita).

Para os outros 99,9% de nós, mais de um livro será necessário. E a melhor forma de você garantir que ele vai sair é transformar a escrita em um hábito. Stephen King, John Greene, J. K. Rowling, Seth Godin, todos escrevem como profissão. Se você quer melhorar, precisa escrever e publicar e escrever e publicar. É um processo contínuo.

Dependendo da sua personalidade, pode ser que esse processo fique menos frenético, mas talvez um dos conselhos mais importantes que eu posso dar seja: escreva sempre, escreva muito, aprenda com o processo e escreva novamente.

8. Escrever um livro é mais difícil do que parece

Algumas pessoas fazem a escrita parecer natural. Mas escrever é quase sempre longo e doloroso. Cheio de dúvidas, cheio de questionamentos. E ainda temos a parte do conteúdo em si, que é uma batalha à parte.

Escrever é mais difícil do que parece. Mas só entende isso quem mergulha nessa vida.

9. Você não precisa do gatekeeper

Anos atrás, a única forma de conseguir que seu livro alcançasse alguém era que uma editora abraçasse o seu projeto. Hoje, isso não é mais verdade. Você pode autopublicar seu livro no Kindle, no iBooks, pode publicá-lo em PDF no seu próprio site, pode contratar empresas especializadas que vão realizar a impressão e a encadernação do seu material e pode vender por seus próprios meios.

Não houve momento na história em que fosse tão simples trazer seu livro ao mundo. Você não precisa de editora. Você não precisa de autorização, de permissão ou de nenhum contrato. Você mesmo pode fazer — e sugiro que o faça.

10. Não deixe de escrever. Redes sociais e a internet vão. Os livros ficam.

Novamente, cada pessoa tem sua razão para escrever, mas desde que publiquei o meu primeiro livro, sinto-me orgulhoso por vê-lo na estante, por saber que trouxe algo ao mundo cuja função é ajudar as pessoas.

Talvez ele seja lembrado na história, talvez não. Mas eu mal comecei. Esses foram apenas os primeiros passos de uma longa história de páginas e palavras.

Qualquer que seja sua escolha, escreva. O mundo precisa de pessoas que contem suas histórias, que mostrem suas perspectivas, que emocionem, que convençam.

Sucesso.

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