Vamos falar sobre a revolução digital feminista

fershira
3 min readJul 21, 2015

Sabemos que a diversidade de gênero na área de TI e particularmente no hacking é ainda muito reduzida, portanto as oportunidades que incentivam a presença de mulheres na área são extremamente importantes, principalmente quando consideramos que nós, mulheres, somos os maiores alvos de assédio, discursos de ódio e exposição na internet.

A história que quero contar aqui começa em 2014, quando fui chamada para participar de um encontro internacional sobre Segurança da Informação e Privacidade Online para mulheres ativistas. O encontro, organizado pela Tactical Tech e APC, reuniu 51 mulheres de 27 países e teve como um dos seus resultados a ideia de realizar uma hacktona internacional feminista, a #Femhack.

Essa ideia, que foi concebida informalmente em uma mesa de jantar, nos motivou imediatamente a mobilizar nossas redes locais e nos juntar globalmente para criar uma onda sobre feminismo, hacking e revolução tecnológica.

“um enxame de cyborgs e desejos enraizados; viemos da Internet e vamos levar a tecnologia às ruas. A revolução será feminista ou não será”

A Femhack teve como objetivo introduzir a cultura da segurança digital em grupos feministas em diversos países e chamar a atenção para o assunto de forma global.

Infelizmente alguns dias antes da hacktona recebemos uma triste notícia, Sabeen Mahmud, uma ativista LGBT que trabalhava pela inclusão tecnológica no Paquistão tinha sido cruelmente assassinada em seu país. Ela lutava pelos direitos humanos e promovia várias atividades para a diversidade de gênero na tecnologia. Para homenagear Sabeen, decidimos dedicar a Femhack a ela.

“Amo e aprecio o fato de que a tecnologia tem o potencial de mudar vidas. Precisamos nos dedicar a desenvolver ferramentas e tecnologias mais acessíveis e para mais pessoas.” — Sabeen Mahnmud

As atividades foram realizadas no dia 23 de maio e tiveram os mais diversos formatos, mapeadas aqui:

https://umap.openstreetmap.fr/es/map/f3mhack-sabeen-mahmud_38905?scaleControl=false&miniMap=false&scrollWheelZoom=false&zoomControl=true&allowEdit=false&moreControl=true&datalayersControl=true&onLoadPanel=undefined&captionBar=false#2/7.7/-335.7

Em São Paulo, organizamos um dia de atividades com mulheres feministas, abordando conceitos básicos sobre como funciona a internet, o que é monitoramento em massa e instalação de ferramentas anti-vigilância (navegação segura e anônima, e-mails criptografados e chat seguro).

Também pensamos em novas formas de comunicar a importância da autonomia e controle sobre nossos dispositivos e dados digitais, esboçando algumas frases que serão usadas futuramente em nossos materiais de comunicação.

Foi incrível perceber que juntas podemos aprender, criar e discutir o que queremos para nossa vida digital. Fica aqui um vídeo que explica muito bem isso:

Essas experiências nos fizeram sonhar com o potencial de ações que podem implodir através dessa rede ciberfeminista multicultural apenas formada. E que essas ações podem realmente provocar mudanças de como a sociedade encara os papéis de gênero.

Internacionalmente existem alguns outros trabalhos que vêm sendo desenvolvidos por mulheres para o combater ao assédio online (como Take Back the Tech) e para a comunicar a vigilância em massa (como as intervenções artísticas do Deep Lab). Aqui no Brasil temos primeiro hackerspace feminista A MariaLab, que também está trabalhando com oficinas de como se defender de assédios online.

Tudo isso nos faz perceber que a onda da revolução digital feminista está tomando forma. Estamos nos unindo e expandindo o conhecimento sobre tecnologias e máquinas. Essa onda começou e só vai crescer…

Os encontros do Femhack BR continuam. Em breve publicaremos pílulas guias sobre a segurança digital feminista e ações coletivas para fortalecer a rede.

Para maiores informações, inscreva-se na lista:
https://www.autistici.org/mailman/listinfo/femhack_br

--

--