Ressignificação dos brechós em Curitiba

Fernanda Unruh Xavier
5 min readNov 15, 2017

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Fernanda Xavier, Helena Sbrissia e Heloísa Rodrigues| Jornalismo 1º período PUCPR

Como as novas visões e visuais de vendas de peças usadas vêm tomando espaço na vida dos curitibanos

Prateleiras do brechó Roupas Usadas The Triunph — foto por Luiza Remez

Perpetuada durante muito tempo, a ideia de que brechós oferecem apenas roupas velhas e sem graça vem se dissipando graças às diferentes abordagens que novos empreendedores têm trazido a esse tipo de comércio. Com a alta de estilos dos anos 1980 e 1990, donos de brechós tem visto a oportunidade de atrair novos públicos e mudar a mentalidade daqueles que ainda veem a reciclagem de roupas com preconceito.

A nova proposta dos brechós é criar um conceito mais clean, longe da ideia de loja com cheiro de mofo e naftalina. A modernização dessa forma de comércio tem atraído muitos olhares, principalmente dos jovens, que veem a compra em estabelecimentos assim como forma de economizar, ainda mais nos tempos de crise que o país tem enfrentado. Outra questão muito importante que desperta a atenção de muitos frequentadores é o compromisso com o meio ambiente ao incitar o exercício do conceito de reutilização, além de provocar um movimento de ressignificação de roupas e acessórios.

Em Curitiba a cultura dos brechós sempre existiu, mas vem conquistando mais espaço e relevância, principalmente nas regiões do Centro da cidade e do bairro São Francisco, nos arredores da rua Trajano Reis.

Upcycling, a nova maneira de reutilizar roupas

A série “girlboss”, lançada em abril deste, ano trouxe à tona o, agora famigerado, “upcycling”. A personagem principal, que está sem rumo na vida, começa a comprar roupas vintage em brechós para então modificá-las e vendê-las online. A jovem, que saiu bem sucedida nisso tudo, inspira suas telespectadoras a customizar roupas usadas.

O termo “upcycling”, significa reutilização. A prática consiste em pegar um produto que será descartado e transformá-lo em algo novo. Porém, não é uma reciclagem, já que não passa por processos químicos, e continua em sua forma original.

Segundo Marcia Caldas Vellozo Machado, advogada e consultora de moda, tal termo já é usado faz muito tempo, mas foi ressuscitado nos anos 1990 por Reine Pilz, ambientalista alemão, e, pelo arquiteto, William MacDonough. Mas somente agora que o mundo da moda passou a pensar nessa reutilização.

Sobre o processo, Rachel Casarini, formada e pós-graduanda em moda, diz que esta é uma forma muito sustentável, visto que recria e dá às peças uma nova utilidade. A entrevistada também acrescenta que o processo do upcycling lembra muito a customização, já que a mesma também recria e transforma peças, mas em seu processo elementos são adicionados, gerando essa diferença.

Fonte: Marcia Caldas Vellozo Machado, advogada e consultora de moda; Rachel Casarini, formada e pós-graduanda em Moda.

O upcycling, apesar de ter virado uma tendência deixou de ser uma prática somente pessoal por aqueles que são amantes da moda ou pretendem economizar. Os brechós que querem se reinventar já entraram com tudo nessa nova tendência, como o brechó Balaio de Gato de Curitiba. O estabelecimento reutiliza restos de roupas para produzir novas, e a peça criada varia de acordo com a estação. No inverno a ideia é produzir ponchos e no verão camisas. A prática é muito bem vista e elogiada pelos clientes, segundo Ju Araújo, estudante de moda e atendente da loja.

A prática de compra em brechós não é somente feita pelas mulheres, muitos homens são consumidores, sim, desses estabelecimentos. A gerente do brechó São Francisco, que só vende roupas masculinas, diz que a procura é grande pois além de o preço ser acessível, as roupas são de marca, importadas e muito bem conservadas. Silvia afirma que o sucesso é pela organização, cuidado, limpeza e conservação, e por isso acredita que a grande procura é devido à essa modernização.

Jovens empreendedores que conscientizam

A maneira como esses jovens vêm ganhando espaço em um mercado de trabalho promissor em Curitiba

Fernanda Xavier, Helena Sbrissia e Heloísa Rodrigues, 1º período

Ao contrário do que muitos podem pensar, Laryssa Bileski não estuda moda e nem tem qualquer formação na área. Aos 21 anos de idade, está prestes a se formar em Direito, e da necessidade de uma mudança pessoal decidiu iniciar seu próprio negócio: o Velvet Bazar, um brechó online que está começando a realizar vendas presenciais pelo centro da capital — como no último domingo, em que a loja se instalou no Largo das Artes para um dia de muitos garimpos e trocas de informação.

Brechó Velvet Bazar, localizado no bairro São Francisco — foto por Heloísa Rodrigues

Laryssa sempre teve hábitos consumistas, apreço pela moda e vontade de abrir sua própria loja, e, assim, da junção desses três fatores, ela decidiu se tornar uma jovem empreendedora a fim de usar dessa inclinação ao consumo de roupas para uma causa maior. A partir dessa iniciativa, a estudante passou a estudar o slow fashion, movimento de moda sustentável e questões de saúde financeira, e percebeu que sua iniciativa de empreendedorismo independente, além de ajudá-la a se engrandecer como pessoa, poderia incentivar outras a se conscientizarem e adotarem novos hábitos financeiros e pensamentos mais críticos em relação ao mundo da moda atual.

Hoje, o Velvet Bazar conta com quase mil seguidores no Instagram e clientes fiéis, que, assim como Laryssa, prezam pelo consumo ecológico. Ainda, a jovem possui um projeto em andamento para a criação de um coletivo de empreendedoras, no qual ela pretende reunir mulheres com negócios independentes com o objetivo de se apoiarem e organizarem eventos em conjunto.

O Fermin Cacarecos, por sua vez, é um brechó que, além das vendas online, conta com uma loja física na região central de Curitiba, onde Larissa Marques cuida da parte de curadoria das peças e Sayuri Kashimura administra a parte de divulgação. Com o crescimento e valorização cada vez maior da compra e venda de roupas usadas, o negócio do casal vem crescendo muito. Por conta disso em breve a loja será realocada em um espaço maior e mais propício ao comércio de moda.

Com o intuito de saber o que realmente leva as pessoas a comprarem em brechós, realizamos uma enquete online, a qual obtemos os resultados a seguir:

Enquete realizada online com 46 pessoas.( Muitas optaram por mais de uma opção)A-15 pessoas B-22 pessoas C-41 pessoas.

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