Onde os Hypes me levaram

Clayton Fidelis
6 min readSep 30, 2018

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Quem me conhece sabe que sou uma pessoa que se deixa levar pelos hypes na área de desenvolvimento de software, um seguidor do Hype Driven Development e muitas vezes conhecido como “O cara chato da tecnologia X”. Hypes são as modinhas, o que está dando o que falar, o novo assunto quente, a tecnologia do momento, o mais novo framework revolucionário da semana. Neste artigo contarei o que aprendi com os hypes que aderi durante minha pequena jornada no mundo de desenvolvimento de software.

O Primeiro Hype: AngularJS

O primeiro hype a gente nunca esquece, o ano é 2015, estava no meu primeiro estágio trabalhando com desenvolvimento mobile, super feliz com meu Android Studio travando a cada CTRL + S, eis que um dia alguém aparece e fala: “Já ouviu falar em Ionic? Você vai conseguir desenvolver mais rápido, vou te passar uns vídeos pra você ver depois”. Momentos depois eu estava no youtube assistindo o curso de um rapaz chamado “Rodrigo Branas”, e foi aí, nesse exato momento, que tudo começou.

Em poucos dias eu já estava totalmente contagiado com a facilidade que o AngularJS propusera, quatro palavras definia o meu hype: Two way data binding. Nessa época era comum ver tutoriais onde o “Hello World” era uma página com um input e um texto onde a cada letra digitada no input era exibido ao mesmo tempo no texto.

Em poucas semanas eu já estava infernizando a vida dos meus companheiros de trabalho e de meu gerente para que pudessem adotar o framework como ferramenta de desenvolvimento da equipe, até então todos gastavam o dobro do tempo para desenvolver SPAs com jQuery.

No final de tudo o AngularJS se tornou o framework oficial do time e minha batalha terminou.

O segundo hype: MEAN stack

A bola da vez era o MEAN stack: o banco de dados NoSQL, o framework para servidor, o framework para front-end e o JavaScript no servidor. Ainda era 2015 mas lembro como se fosse ontem, estava no intervalo da aula, eis que ouço a seguinte fala:

“Cara, comprei um livro f*#% sobre MEAN”

Enchi ele de perguntas e consegui que me emprestasse o livro. Ao chegar em casa pesquisei sobre esse tal de MEAN e encontrei um cara de moicano azul, hypado, falando sobre um tal de Crowdfunding para lançar um curso sobre o assunto. Parecia legal mas não tive a menor paciência para esperar ele ser lançado, então comecei a estudar pelo livro e depois de alguns capitulos eu estava completamente hypado.

Até então meus professores me ensinaram que JavaScript só servia pra validar formulários e ao descobrir que ele também funciona no servidor foi simplesmente mind-blowing.

Startup Weekend Natal 2015

De trás pra frente: Gean, Eu, Gustavo e Yuri no Startup Weekend 2015

Depois de muitos estudos, códigos e tentar convencer meu time no trabalho a usar (dessa vez não deu certo), participei junto com 3 amigos de um evento de empreendedorismo (pra mim foi um Hackathon), que durou 54 horas e 30 delas foram codando quase sem parar! No final saímos do evento com um MVP bem completo de um app de pedidos e pagamentos pelo celular (tipo um iFood só que no próprio estabelecimento).

MEAN Stack bootcamp

Eu (esquerda) e Gean (direita) apresentando a Stack

E por último e mais importante, como uma pessoa muito bem Hypada, chegou o momento de dar o próximo passo: Passar o hype para outras pessoas. Saí completamente da minha zona de conforto e junto de alguns amigos, em 2016, organizamos um Workshop de MEAN Stack na UFRN, foram 4 dias explorando as tecnologias.

O Terceiro hype: React 💙

Em meados de 2016 conheci o tal do React — há quem diga que o Hype continua até hoje — , foi através das lives no Facebook do Zeno Rocha onde ele responde uma pergunta sobre angular x React. Até aquele momento meus conhecimentos no front-end se resumiam ao angular 1.x, quando comecei a estudar React ocorreu um choque de realidade: eu não sabia JavaScript! Em meio a tantas abstrações que o angular no trás através de diretivas, two way data binding e o próprio padrão MVC, eu acabei não aprendendo o verdadeiro JavaScript.

Outro problema que enfrentei quando iniciei os estudos no React foi a falta de materiais em Português, praticamente não existiam e os poucos que encontrava não saiam do básico, essa escassez de materiais em Português me fez aprender a “me virar” lendo documentações em Inglês e até mesmo ler o código fonte.

Além de ter aprendido novos conceitos introduzidos pelo React como Virtual DOM e programação declarativa, no meio do caminho aprendi Redux e fui apresentado à programação funcional com alguns conceitos como imutabilidade, funções puras, currying e etc.se

Depois de estar habituado com o React, pela primeira vez me senti confortável para contribuir em projetos open-source, e a partir daí se tornou minha principal ferramenta para desenvolver aplicações no front-end e mobile (React Native).

O quarto hype: Elm 😍

E por último mas não menos importante, o Elm. Dessa vez quem me apresentou o Hype foi meu chefe durante uma conversa no horário do almoço, o que me chamou mais atenção foi a forma que ele falava sobre a linguagem, e o que mais me surpreendeu foi o fato dela não possuir erros no runtime (como assim??). Como um bom Hype Driven Developer pedi algumas sugestões de materiais para começar a estudar a linguagem, dentre ele estava uns screencasts de um tal Cuducos, fui pra casa e iniciei a maratona de tutoriais.

O resultado disso? Após alguns dias comecei a desenvolver algumas aplicações para fixar a linguagem, reescrevi uma aplicação que estava em angular 1.x (o resultado ficou bem melhor), aprendi MUITO mais sobre programação funcional, mudei minha forma de pensar e como consequência de tudo isso minha forma de escrever JavaScript melhorou consideravelmente.

Primeiro artigo

Depois de perceber a escassez de materiais em Português sobre a linguagem decidi escrever um artigo sobre a linguagem destinado a pessoas que ainda não a conhece, nele eu abordei as características mais relevantes da linguagem e fiz um mini tutorial. Depois de publicado o artigo saiu na BrazilJS Weekly — isso me deixou mais hypado! — e alguns dias depois algo mais inusitado aconteceu: Fui convidado a participar do meu podcast favorito, o DEVNAESTRADA.

DEVNAESTRADA

Guardo o e-mail até hoje, vi a notificação, o titulo era “Convite Podcast DEVNAESTRADA”, no momento não acreditei mas mesmo assim respondi em instantes — eu estava completamente hypado ! iria participar do meu podcast favorito — . Marcamos uma data e gravamos, fiquei bem nervoso mas saí com a sensação de dever cumprido.

Primeira palestra

E por último, dei a minha primeira palestra com o titulo de “Criando front-ends inquebráveis com Elm” no primeiro WebDev RN, um evento para reunir a comunidade de desenvolvimento do Rio Grande do Norte.

Conclusão

O que sabemos é uma gota; o que ignoramos é um oceano.

— Isaac Newton

Já tive meus momentos de querer aprender tudo ao mesmo tempo, cada um dos frameworks/ferramentas que surgiam a cada dia, mas felizmente acabei percebendo que muitas delas fazem a mesma coisa e muitas são apenas mais do mesmo sem nenhum diferencial.

Depois de testar e aprender coisas completamente diferentes, com paradigmas diferentes e propostas diferentes acabamos criando uma aversão à novas tecnologias, e isso é completamente normal tendo em vista que muitas delas compartilham as mesmas bases e paradigmas, e base é a palavra chave, tendo uma boa base podemos aprender qualquer coisa rapidamente.

Acertei nas escolhas dessas tecnologias? Não sei, mas o que sei é que aprendi muito com cada um desses hypes, novas idéias surgiram, novas formas de pensar e novas oportunidades.

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