VOCÊ SABE QUAIS LÍNGUAS VIERAM DO LATIM? CONHEÇA AS 5 PRINCIPAIS LÍNGUAS LATINAS E OUTRAS 18 MENOS FALADAS.

Filipe Simões
24 min readJun 4, 2019

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Artigo originalmente publicado em: https://globalinguando.com.br/2019/04/25/linguaslatinas/

O Latim era a língua falada na região central da Itália, o Lácio(Latium), durante o primeiro milênio antes de Cristo e que, juntamente ao Império Romano, estendeu-se por grande parte da Europa, pelo norte da África e por diversas regiões da Ásia, até se transformar, pelo curso natural das línguas, em dialetos incompreensíveis entre si, que acabaram dando origem a línguas como o nosso português, o francês, o catalão, o espanhol, o italiano, o romeno, o provençal, e outras línguas menores não-oficiais faladas em lugares dispersos.

A língua latina teve muitas fases. De forma resumida, podemos classificá-las em:

•Período proto-histórico (séc. VII — 240 a. C.) — com as primeiras inscrições encontradas.

•Período arcaico (24–81 a. C.) — com textos epigráficos e literários de autores como Lívio Andrônico, Névio, Ênio, Catão, Plauto, Terêncio e Lucílio.

•Período clássico (81 a. C. — 17 d. C.) — quando a prosa e a poesia chegam ao apogeu com autores como Cícero, Virgílio, César, Horácio, Salústio, Lucrécio, Catulo, Ovídio, Tito Lívio etc.

•Período pós-clássico (17 d. C. — séc II d. C.) — com poetas e prosadores não originários da Itália, já que não seguem os moldes clássicos da Itália em sua totalidade, como Fedro, Sêneca, Plínio, Marçal, Juvenal, Tácito, Quintiliano etc.

•Período cristão (séc. III d. C. — V d. c.) — com Tertuliano, Sto. Agostinho, Sto. Ambrósio, etc.

Lembrando que, existiam duas modalidades de latim: o Latim Clássico, falado pela alta classe e pelos eruditos, onde se seguiam todas as regras gramaticais e nuances da língua, e o Latim Vulgar, falado pelos soldados, analfabetos, e pelas classes mais baixas em geral, cheio de erros gramaticais e de pronúncia. Foi esse último que originou as línguas latinas que conhecemos hoje. Toda vez que Roma impunha sua língua aos povos conquistados, que já possuíam uma língua própria, não se poderia esperar que não houvesse variações linguísticas por causa de erros gramaticais cometidos em Latim, que se repetiam tantas vezes até se tornarem norma.

Mas vamos agora falar das línguas latinas. Existem cinco línguas tidas como principais por número de falantes: o português, o espanhol, o francês, o italiano e o romeno. Vamos falar um pouco mais sobre elas:

Português

Nenhuma língua melhor para começar do que a nossa. A língua que se espalhou pelo mundo no ritmo das conquistas de Portugal é hoje uma das línguas mais faladas do mundo. Hoje é a quinta, e se estima que o número de falantes duplique até 2100, chegando a quase 500 milhões de lusófonos espalhados pelo planeta.

•Informações da língua

Número de falantes:

-Nativos: 250 milhões

-Total: 273 milhões

Países onde é língua oficial: Portugal, Brasil, Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Timor-Leste, Guiné Equatorial, Macau, e São Tomé e Príncipe.

•Um pouco de história

Antes dos romanos, os povos lusitanos falavam diversas línguas, chamadas de paleo-hispânicas, paleo-ibéricas ou simplesmente pré-romanas. Línguas como o celtíbero, o ibérico, o tartessálico e o galaico eram faladas na região, além muitas outras línguas celtas e de outros ramos línguísticos, entre elas o grego e o fenício em números menores.

Com a chegada romana, em 218 a.C, o Latim passa a ser a língua oficial e administrativa e sua versão coloquial, o Latim Vulgar, passa a ser a língua de comunicação nas grandes cidades e começa a sofrer as primeiras influências ibéricas que afetariam a língua da região para sempre. As línguas da região foram absorvidas ao longo do tempo, mas deixaram várias influências no vocabulário como barra, bico, bilha, braga, brio, cais, caminho, camisa, canga, canto, carro, cerveja, choco, colmeia, embaixada, légua, lousa, menino, minhoca, peça, tranca, vassalo, manteiga, etc.

A partir de 409, a Península Ibérica foi invadida por povos de origem germânica (Suevos e Visigodos), a quem os romanos chamavam de bárbaros. Estes povos permaneceram mesmo depois da queda do Império Romano, e contribuíram para a língua portuguesa com palavras como guerra, elmo, bando, guardar, agasalhar entre outras. Também a letra ç (cê cedilhado) no português moderno teve origem na escrita visigótica, resultando da evolução do Z (ʒ) visigótico.

Em 711 temos outra invasão que influenciará a para sempre a língua portuguesa: a invasão muçulmana. Os muçulmanos assenhorearam-se do território que designavam em língua árabe Al-Andalus, o qual governaram por cerca de cinco séculos no caso português, e mais de oito séculos na Espanha.

Com a invasão da Península, a língua árabe foi adotada como língua administrativa nas regiões conquistadas. Contudo, a população continuou a falar dialetos românicos, conhecidos coletivamente como moçárabes. A principal influência árabe foi no léxico: o português moderno regista 945 palavras de origem árabe, especialmente em relação à agricultura, comércio e administração, sem cognatos em outras línguas românicas, com exceção do espanhol, língua que adotou muitas dessas palavras. Palavras como açúcar, alface, laranja, arroz, alfândega, armazém, bairro, almanaque, álgebra e almirante vêm diretamente do árabe.

Após o início da Reconquista (722 d.C), os povos hispano-góticos da região do norte do rio Douro começam a retomar as terras e a língua da região, de onde se origina o galego-português (ou português arcaico). A língua permanece unificada até a independência do Reino de Portugal (1143), reconhecido pelo Reino de Leão e Castela, quando o galego e o português seguem caminhos separados. É nesse ponto que temos o surgimento da língua portuguesa como língua independente e oficial do Reino de Portugal.

A língua vai receber suas primeiras normatizações apenas no século XVI, quando são publicados o Cancioneiro Geral (1516) e a Grammatica da lingoagem portuguesa (1536).

Espanhol

A segunda língua mais falada do mundo em número de falantes nativos e terceira contando falantes totais, apenas atrás do mandarim e do Inglês. Embora carregue o nome de seu país de origem na Europa, assim como o português, hoje é muito mais amplamente falado na América do que em qualquer outro lugar do mundo, sendo o México o líder em número de falantes, com mais de 120 milhões de hispanófonos.

•Informações da Língua

Número de falantes:

-Nativos: 406 milhões

-Total: Mais de 500 milhões

Países onde é idioma oficial: Argentina ,Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, Espanha, El Salvador, Guatemala, Guiné Equatorial, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico, República Dominicana, Uruguai e Venezuela.

•Um pouco de história

A história do castelhano e do galego português não se pode ser bem separada até a invasão muçulmana. Antes disso, a história segue o mesmo padrão: línguas pré-românicas, invasão romana, invasão germânica e invasão muçulmana. É a partir dos muçulmanos que as línguas da península Ibérica recebem suas características finais antes de se firmarem como línguas oficiais.

No caso do castelhano, a língua era falada também ao norte da península Ibérica, porém mais centralizada, e durante a Reconquista se estendeu por quase toda a península Ibérica.

O rei de Castela e de Leão Afonso X foi o responsável pela elevação e regularização da língua espanhola. Afonso convocou um grupo de sábios de língua hebraica, árabe e latina, com quem formou seu scriptorium real, imprecisamente conhecido como a Escola de Tradutores de Toledo.

Contou com a colaboração de cristãos, judeus e muçulmanos, que desenvolveram um importante trabalho científico no resgate de textos da antiguidade e na tradução de textos em árabe e hebraico para o latim e o espanhol.

Essas obras definitivamente fizeram do espanhol uma língua culta, tanto no campo científico quanto no literário.

A partir do seu reinado, começou-se a usar o espanhol como língua da chancelaria real ao invés do latim, que tinha sido a língua de uso regular na diplomacia régia de Castela e Leão até então.

Em 1492, é lançada a Grammatica, de Antonio de Nebrija, a primeira gramática da língua espanhola e a primeira de uma língua europeia moderna.

Francês

A segunda língua mais estudada do mundo, atrás apenas do Inglês, o Francês era a língua franca do mundo até a Primeira Guerra Mundial. A cultura francesa está presente em quase todo o mundo e sua língua nos deu palavras como ‘abajur’, ‘balé’, ‘buquê’, ‘clichê’, ‘cachecol’, etc.

•Informações da Língua

Número de falantes:

-Nativos: 90 milhões

-Total: Mais de 300 milhões

Países onde é idioma oficial: França, República Democrática do Congo, Canadá, Madagascar, Costa do Marfim, Guiné, Guiné Equatorial, Camarões, Mônaco, Burkina Faso, Mali, Senegal, Bélgica, Ruanda, Haiti, Suíça, Burundi, Togo, República Centro-Africana, República do Congo, Gabão, Comores, Djibuti, Líbano, Luxemburgo, Guadalupe (Domínio Francês), Martinica (Domínio Francês), Vanuatu e Seicheles.

Apesar de não ser o idioma oficial, é a principal segunda língua nos seguintes países: Argélia, Tunísia, Maurício, Marrocos e Mauritânia.

•Um pouco de história

A região da Gália era habitada por povos de origem celta conhecidos como Gauleses e Belgas, que falavam em grande parte a língua gaulesa. Pouco se sabe sobre essa língua em registros escritos antes da conquista de Júlio César sobre a região da Gália (58 a.C.- 52 a.C.), mas se encontram registros dela já em alfabeto latino durante vários anos após a conquista da região, o que mostra que as duas línguas coexistiram por muito tempo. Como era de se esperar, uma língua influenciou a outra e acabou se criando um dialeto do latim incompreensível para um falante de latim clássico.

A partir do século III, vários povos germânicos começaram a invadir a Europa Ocidental pelo Norte e pelo Leste (já vimos a influência dos visigodos na Península Ibérica). Um dos povos mais importantes dessa época são os Francos, que se instalaram na região que hoje corresponde ao norte da França. A língua falada pelos francos era o frâncico (já se veem as origens da palavra francês aqui), e a região do norte da Gália se torna bilíngue, falando o latim vulgar de influência gaulesa e o frâncico. Durante esse período o nome latino para o Reino Franco era ‘Francia’, de onde surge a palavra atual para ‘França’.

Após a queda do Reino Franco, já Império Carolíngio, surge o reino da França, onde a história da língua francesa começa a se destrinchar e formar a língua que conhecemos hoje. Em 1204, o reino da França integra o território do Ducado da Normandia e recebe léxico da língua Normanda, que era fortemente influenciada por línguas escandinavas.

Uma das classificações linguísticas mais interessantes da Idade Média vem do ilustre Dante Alighieri, que classifica as línguas românicas de acordo com o jeito que elas dizem “sim”. Dante separa as línguas em três grupos: as que dizem ‘oc’ (Sul da França), as que dizem ‘sí’ (Península Ibérica e Itálica) e as que dizem ‘oïl’ (Norte da França). Os dois grupos que nos interessam são as línguas de ‘oc’ e ‘oïl’.

As línguas de ‘oc’, como Gascão e Provençal, faladas no sul da França, sofreram pouca ou nenhuma influência germânica, e originaram o Occitano, falado na região da Europa que hoje se denomina Occitânia, abrangendo o Sul da França, o Norte da Espanha e uma parte do Noroeste da Itália. Já as línguas de ‘oïl’, como o Picardo, o Valão e o Franciano, sofreram muita influência do Frâncico, originando o Francês que temos hoje, que é uma evolução do dialeto falado na região de Paris.

Em 1539 o francês se torna língua oficial do Reino Francês por decreto de François (Francisco) I, e em 1634 é fundada a Academia Francesa, onde a língua recebe as primeiras normatizações.

Italiano

A língua de Dante, de Galileu, de da Vinci, da Commedia dell’arte, da Ópera e de tantas outras produções culturais etéreas, que mesmo com o passar dos séculos continuam a fazer parte da nossa cultura atual. O que seria da arte sem a Itália, não é mesmo? Motivo suficiente para amar a língua italiana, ou melhor, as línguas italianas.

É isso mesmo: as línguas italianas, no plural. Já explico ali embaixo.

•Informações da língua

Número de falantes:

-Nativos: Em torno de 69 milhões

-Total: 90 milhões ou mais

Países onde é idioma oficial: Itália, San Marino, Suíça e Vaticano.

O italiano também é muito falado nas regiões da Croácia e da Eslovênia que ficam próximas à Itália.

•Um pouco de história

A língua italiana em si é algo que não existia até a unificação da Itália no século XIX. Até hoje o país carrega diversos dialetos e muitos italianos não conseguem se entender devido à variação deles. Isso tem diminuído ao longo dos últimos 50 anos e possivelmente não será mais um problema no futuro, já que os meios de comunicação e os documentos oficiais utilizam o italiano padrão.

Mas como se chegou nesse italiano padrão? Por que se escolheu um dialeto específico para um país com tantas variações linguísticas?

Bem, a história até o fim do Império Romano é similar às outras línguas latinas: várias línguas eram faladas na Península Itálica, como o Umbro, o Etrusco, o Osco, etc. Entre essas línguas havia o Latim, que por conta do Império Romano, se impôs por quase toda a Europa e partes da Ásia e África.

A história começa realmente depois da queda de Roma, quando o Latim já tinha se instaurado na cultura, mas agora começa a sofrer variações cada vez mais fortes. Ostrogodos, Francos, lombardos, muçulmanos, todo tipo de povo começa a invadir a Península Itálica, o que cria uma mistura cultural e linguística fora do comum.

O primeiro dialeto a receber status mais elevado é o ‘siciliano ilustre’ da Escola Poética Siciliana(1230–1266), que misturava Siciliano, Provençal e Latim. Várias características deste dialeto seriam futuramente adotadas por eruditos de outras regiões, que as incorporariam em suas obras, escritas em seus respectivos dialetos locais. O mais importante desses eruditos foi Dante Alighieri, que mostrou sofrer influências de siciliano em sua obra ‘De Vulgari Eloquentia’, mesmo falando o dialeto toscano de Florença.

Esse dialeto, por sinal, virá a se tornar a base da língua italiana moderna. A história começa com Dante Alighieri, Giovanni Boccaccio e Francisco Petrarca, três escritores italianos de grande influência na cultura europeia, chamados de “As três Coroas”. Os três possuíam estilos literários muito diferentes, mas possuíam algo em comum: escreveram textos no dialeto toscano.

Mas de que isso nos interessa? Bem, durante o Renascimento, a produção cultural de Florença e da Itália estava a todo vapor. A imprensa já havia sido inventada e os gramáticos precisavam de algum tipo de uniformização linguística. Foi então que Pietro Bembo, gramático, propôs que a produção cultural escrita em italiano seguisse os moldes de Dante, Boccaccio e Petrarca, criando assim a primeira tentativa de uniformização da língua italiana. A tentativa de Bembo foi válida, porém, o dialeto era restrito apenas ao uso culto e escrito. Ninguém realmente falava a língua diariamente.

A popularização da língua se dá ao longo do tempo, com Galileu Galilei escrevendo em toscano ao invés de latim, Alessandro Manzoni, já muito mais tarde, escrevendo em toscano da forma mais cotidiana e real possível em seu romance “I promessi Sposi”, além de muitos outros.

O dialeto toscano se torna a língua oficial da Itália apenas na sua unificação no século XIX, e mesmo assim outros dialetos continuam existindo até hoje. A cada ano o índice de pessoas utilizando esses dialetos cai, caminhando em direção a uma unificação linguística nas próximas décadas.

Romeno

Nossa única língua românica oriental da lista de línguas principais. O romeno é uma das línguas latinas mais interessantes de se estudar, porque além do substrato latino, sofreu bastante influência eslava, o que faz dela um pouco diferente das línguas românicas ocidentais com as quais temos mais em comum.

•Informações da língua

Número de falantes.

Nativos: 26 milhões

Total: 30 milhões

Países onde é idioma oficial: Romênia e Moldávia.

O romeno também é tido como oficial em Estados não-reconhecidos como a Voivodina (Vojvodina), província autônoma da Sérvia e a Transnítria, que tenta conseguir independência da Moldávia. O romeno também é visto como língua minoritária em países como Bulgária, Hungria, Grécia, Sérvia, Itália e Ucrânia.

•Um pouco de história

Antes da chegada dos romanos em 106 D.C, a região era habitada pelo povo Dácio. Pouco se sabe sobre a língua dácia por falta de registros escritos, mas se percebem algumas palavras relacionadas à agricultura e pastoreio nas línguas romena e albanesa que não possuem ligação com nenhuma outra língua próxima. Por conta disso, se supõe que essas palavras vêm da língua original da região: o dácio.

Não se sabe o porquê, mas o povo Dácio adotou o latim vulgar trazido pelos soldados romanos de forma muito rápida. Algumas teorias simplesmente assumem que o povo aceitou a dominação e adotou a língua, outras dizem que já existiam romanos vivendo ali e implantaram algum vocabulário latino em seus filhos, esposas e amigos próximos, e outras ainda dizem que a língua dácia era uma língua da família itálica, já tendo similaridades léxicas e gramaticais com o latim, facilitando a imposição da língua.O Império Romano desocupou a Dácia no século III, mas deixou ali uma população já falante de latim (vulgar), e a partir daí a língua se desenvolveu naturalmente até mais ou menos o século VII.

No século VII, outros personagens importantes da história aparecem: os povos eslavos, que migraram para aquela região entre os séculos VII e VIII. Como não se tratou de uma invasão, nenhuma língua eslava foi diretamente imposta, mas os imigrantes fizeram o contrário: tentaram adotar a língua dos romenos da região; porém, como em todo caso de imigração de um povo para uma região de língua diferente, se criou uma mistura das línguas eslavas e do latim vulgar. É dessa interação que surge o que chamamos hoje de proto-romeno.

Muito da influência eslava no romeno (e no romance oriental em geral) se deve também ao fato de que o Antigo Eslavônico Eclesiástico era uma língua de administração muito comum e também a língua litúrgica da Igreja Ortodoxa, popularizando o alfabeto cirílico naquela região.

Pouco se sabe sobre a evolução da língua durante a Idade Média, pois o primeiro registro escrito em romeno aparece apenas em 1521 na Carta de Neacșu, escrita em alfabeto cirílico, o que mostra a enorme influência eslava na língua.

Durante o século XVIII, linguistas romenos se esforçaram para normatizar a língua, e em 1780, a primeira gramática da língua romena, “Elementa linguae daco-romanae sive valachicae “, de Samuil Micu e Gheorghe Șincai, foi lançada.

No século XIX, foi a vez dos linguistas romenos ‘relatinizarem’ a língua. Várias palavras de origem eslava foram substituídas por palavras ou diretamente do latim, ou de alguma língua românica, como italiano ou francês. Uma das grandes mudanças dessa época foi a troca do alfabeto cirílico para o latino.

Nota: A história da relatinização do romeno envolve muitas questões históricas e políticas. Um bom texto explicando o motivo da relatinização aqui (em inglês).

Após se tornar independente em 1878, a Romênia adotou o romeno como língua oficial, e a Moldávia, depois de sair do domínio da URSS, também o adotou. Desde então o romeno tem sido língua nacional desses dois países, além de ser falado em várias outras regiões menores da Europa.

Outras línguas regionais ou minoritárias.

•Aragonês: O aragonês é uma língua românica falada na Península Ibérica por mais de dez mil pessoas nos vales do rio Aragão, e nas comarcas de Sobrarbe e Ribagorza, na província de Huesca, em Aragão, na Espanha. É conhecido coloquialmente por fabla (literalmente, “fala”). É a única língua moderna que sobreviveu do navarro-aragonês medieval em uma forma distintamente diferente do espanhol.

•Asturiano: O asturiano, antigamente também conhecido como bable , é uma língua indo-europeia pertencente ao ramo das línguas românicas. É o nome utilizado para fazer referência à língua pertencente ao grupo de línguas no Principado das Astúrias. Com cerca de cem mil falantes nativos, e outros 450 mil que o usam como segunda língua, está baseada — por razões históricas e linguísticas — nos dialetos centrais asturianos. Possui uma gramática, dicionário e ortografia próprias e é regulado pela Academia da Língua Asturiana.

Existem três variedades dialectais dentro das Astúrias — oriental, central e ocidental, esta última partilhada com a região leonesa, onde se conhece como leonês. Não possui caráter oficial, mas está protegida sob o Estatuto de Autonomia e é de inclusão opcional no currículo escolar daquela comunidade. No século X o centro da Reconquista se deslocou das Astúrias para Leão e à medida que a reconquista se deslocava para o sul o asturiano se distanciava da língua da corte, o leonês, que alcançou alto grau de codificação. O ramo mais meridional do asturiano-leonês é o extremenho (castúo). Na literatura filológica fala-se do asturiano como dialeto do leonês.

O asturiano é uma das variedades asturo-leonesas, que por sua vez fazem parte das línguas ibero-romances, portanto tipologica e filogeneticamente mais próxima ao galego-português, castelhano e, em menor medida, ao navarro-aragonês.

•Auvernês: O auvernês é uma língua românica falada na maior parte da Auvérnia (exceto em Aurillac (Orlhac em occitano), na maioria de Velay e na metade do sul de Bourbonnais, o departamento inteiro de Puy-de-Dôme e uma parte de Cantal, de Haute-Loire, de Allier e de Creuse. É uma variedade do norte-occitano, particularmente evoluída no plano fonético de suas variantes nortistas (o norte-auvernense).

•Corso: O corso é uma língua românica, falada na ilha de Córsega (França), junto com o francês, que é a língua oficial. Um dialeto similar à língua corsa é falado em Gallura, Sardenha (Itália). Ela possui fortes similaridades com o italiano e em particular com dialetos da Toscana. Ela possui bastante similaridades também com o português. Oralmente, muitas palavras do Corso do Norte são mais próximas do português que do italiano. Exemplos: “focu” (pronúncia=fôgo), “basta” (basta), “sò Corsu” (significa “sou Córso”, se pronuncía “só Côrsu”), “cugnata” (pronúncia=cunhada), entre outras.

•Catalão: O idioma da Catalunha, de onde vem um dos times mais poderosos do planeta: o FC Barcelona. Um dos maiores lemas do time, ‘Més que um club’, encontrado em todo tipo de produto e no próprio estádio do time, é escrito em catalão. A região da Catalunha tem hoje cerca de 6 milhões de falantes da língua, que em seu total tem mais de 10 milhões de falantes.

E se você pensa que nenhum país tem o catalão como idioma oficial, você não poderia estar mais errado. É verdade que a Catalunha não é um país independente (pelo menos por enquanto), mas entre a Espanha e a França existe o sexto menor país da Europa: Andorra, que tem o catalão como única língua oficial do país, embora o espanhol, o português e o francês também sejam bastante comuns na região.

Andorra tem menos de 80 mil habitantes, mas já é um começo para a língua catalã se tornar cada vez mais uma língua latina soberana na Europa.

•Emiliano-Romanhol: O emiliano-romagnol é um grupo de duas línguas (ou muitos dialetos) galo-itálicos falados na região italiana de Emília-Romanha e em San Marino. A língua é reconhecida como pertencente às línguas minoritárias europeias desde 1981 (Relatório 4745 do Conselho da Europa); também é registrada no Livro Vermelho das Línguas Ameaçadas da UNESCO como língua digna de receber uma tutela. O seu código ISO 639–3 era eml. Em 16 de janeiro de 2009, o SIL, responsável de ISO 639–3, separou o emiliano do romanhol.

•Friulano: A língua friulana é um idioma da família linguística reto-românica falado na região do Friul-Veneza Júlia, na Itália. Há uma comunidade de falantes friulanos que vive na Romênia na região do delta do Danúbio desde o século XIX. Como a relação com outras variedades do reto-romance é fraca, muitos linguistas negam essa conexão e o situam entre os dialetos do vêneto. Atualmente, falam friulano um pouco mais de 700 mil pessoas em sua região natal. Quase todos conhecem também a língua italiana, assim como o vêneto, nas cidades e na parte ocidental desta região. De acordo com estudos de 1988, o uso do friulano não se reduz exclusivamente ao âmbito familiar (55% utilizam unicamente o friulano, enquanto 18% o alterna com o italiano) e a grupos de amigos (46% e 28% respectivamente), como também em outras situações (47% utilizam apenas o italiano, 22% só o friulano e 31% ambas as línguas).

Fora das fronteiras italianas, existem comunidades de língua friulana na Romênia, Austrália, Estados Unidos e África do Sul, totalizando cerca de 300.000 falantes. O Brasil recebeu imigração italiana, principalmente nos estados de São Paulo, Paraná, Espírito Santo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde é possível encontrar falantes desta língua.

•Galego: A língua galega ou galego é uma língua românica ocidental de caráter oficial na Comunidade Autónoma da Galiza, falada também nas Astúrias, Castela e Leão e pela diáspora galega, localizada principalmente na Argentina, Brasil, Cuba ou Uruguai.

Com raízes comuns, iniciou a sua divergência da língua portuguesa no século XIV, e é regulada pela Real Academia Galega. Devido às semelhanças que mantém com o português, é por vezes referida no contexto do galego-português, “português da Galiza ou o codialeto galego do português”, uma perspetiva organizada na forma do reintegracionismo galego, cujas normas ortográficas seguem estreitamente as do português. Porém, é definida como língua em próprio direito no dicionário da RAG, uma postura seguida pelas instituições autônomas e respeitadas pelo Governo Português. A fala de Xálima, com influências leonesas, também pode ser classificada no seu âmbito.

•Judeu-espanhol: O judeu-espanhol ou ladino é uma língua semelhante ao castelhano. Estima-se que ainda seja falado por cerca de 150 mil indivíduos em comunidades sefarditas, em Israel, nos Balcãs, no Oriente Médio e norte de Marrocos. Também é conhecido como espanhol sefardita e judeo-espanhol (el djudezmo).

Língua extinta na Península Ibérica, no passado, quando havia grandes comunidades judaicas nas cidades de Portugal e da Espanha, era usada pelos judeus desses países. Compunha-se de uma mistura de palavras hebraicas, usadas no dia a dia, com a língua da região, que podia ser o castelhano, o português, o árabe ou o catalão.

•Leonês: Por ser uma língua falada por um grupo restrito, o Leonês é falado apenas no norte e oeste da província de Leão e entre gente da Serra de La Cabreira; já se encontra perto de ser extinto em Zamora. Em face disso, o Conselho Leonês, de Zamora, de Coyaza, de Mansiella de las Mulas ou La Bañeza fazem campanhas, em favor da sua não-extinção, ensinando o Leonês para a população mais jovem e, também, lutam na tentativa de conseguir aceitação desta linguagem entre a população urbana.

A comunidade que vive em território Leonês e vários partidos políticos têm lutado para criar uma comunidade autônoma leonesa, à margem da comunidade de Castela e Leão, que obteve autonomia em 1983.

•Ligure: Fala-se essencialmente na Ligúria, em algumas regiões adjacentes (Toscana, Piemonte, Emília-Romanha, e a Carloforte e Calasetta em Sardenha), em Mônaco, na França meridional (onde o lígure coexiste com o occitano), a Nice, a Bonifácio em Córsega e nos lugares onde houve emigração lígure como Argentina (sobre tudo Buenos Aires), Austrália ou os Estados Unidos.

•Mirandês: A língua mirandesa é o nome oficial que recebe o asturo-leonês em território português. Não existem dados que permitam quantificar com precisão o número atual de falantes, pelo que os números apontados variam entre 8 000 a 20 000 falantes distribuídos principalmente por uma área de 550 km², conhecida como Terra de Miranda e formada pelo concelho de Miranda do Douro e freguesias de Angueira e Vilar Seco, no concelho de Vimioso. A inclusão de Caçarelhos (atualmente denominada por Caçarelhos e Angueira) na área de domínio linguístico mirandês é defendida por autores como Amadeu Ferreira.

•Occitano: A língua occitana, também denominada occitânica, é uma língua românica falada no sul da França (ao sul do rio Loire), Vales Occitanos, Mónaco, e no Vale de Arão, regiões referidas como Occitânia ou País d’Oc. Também é falado na Guarda Piemontesa. A estimativa do número atual de falantes variam consideravelmente segundo as fontes, no entanto parece haver consenso na sua designação como a língua regional mais falada na França.

O occitano surge desde cedo (Baixa Idade Média) como uma língua administrativa e jurídica concorrente ao latim. É conhecida pela sua prolífica literatura a partir do século XII, época na qual os trovadores começaram a contribuir para o seu destaque por todas as cortes europeias. Desde o século XIII é utilizada como língua científica (tratados em medicina, cirurgia, aritmética), e serviu também de língua franca, usada em trocas comerciais internacionais. Neste sentido, também influenciou a língua portuguesa, tendo a chancelaria de D. Afonso IV ou de D. Dinis vulgarizado os dígrafos provençais ‘nh’ e ‘lh’, para além das marcas que terá deixado na toponímia e regionalismos do Alto Tejo e Beira Baixa.

•Piemontês: A língua piemontesa é uma língua com mais de dois milhões de falantes no Piemonte (norte de Itália). O piemontês era a primeira língua dos emigrantes que deixaram o Piemonte, no período 1850–1950, para França, Brasil, Argentina e Uruguai.

•Picardo: O picardo é uma língua ou um grupo de línguas muito relacionadas à língua francesa, sendo assim um dos grandes grupos das línguas românicas. É falada em duas regiões do norte da França, Nord-Pas-de-Calais e Picardia e em partes da Bélgica, na Valônia, Tournai (Hainaut) e em parte do distrito de Mons.

•Romanche: A língua romanche, também chamada de reto-romanche, rético ou grisão, é uma das quatro línguas nacionais da Suíça, juntamente com a língua alemã, a língua italiana e a língua francesa. O romanche é falado por cerca de trinta e cinco mil pessoas como língua materna, sobretudo no cantão dos Grisões e por outras quarenta mil como segunda língua. É uma língua considerada sob risco de extinção, falada por menos de 1% dos 7,4 milhões de habitantes da Suíça. É a língua oficial menos falada do país, sendo mesmo superada por tantas outras línguas não oficiais, como o servo-croata e o português, trazidas por imigrantes, e sofre as consequências da concorrência com o alemão, falado majoritariamente pela população em geral e especialmente no cantão dos Grisões.

O romanche não é uma língua única, mas um conjunto de dialetos pertencente ao ramo reto-românico das línguas romanas. Suas línguas parentes mais próximas são o ladino-dolomita, falado na região de Trentino-Alto Ádige e o friulano, falado no Friul-Veneza Júlia, no norte da Itália.

•Sardo: O sardo ou sardenho é uma língua natural românica que se desenvolveu de uma forma peculiar por estar em uma ilha isolada do continente: a Sardenha, na Itália. Durante o domínio romano a ilha foi usada como lugar de encarceramento para criminosos reincidentes, passando a formar parte do Império Bizantino posteriormente, para em seguida cair sob domínio muçulmano até ser conquistada pela Coroa de Aragão, razão pela qual até os dias de hoje há um enclave de idioma catalão no porto de Alghero. No século XVIII, a ilha se integrou à Casa de Saboia, que liderou a unificação da Itália no século XIX, unindo a ilha a esta.

A Sardenha esteve por um século dominada pelos vândalos (455–534) e apenas um ano sob domínio ostrogodo (552–553), e ao que parece estes contatos não chegaram a influenciar a língua; quase todos os poucos elementos germânicos do sardo foram passados pelo italiano ou podem ser traçados ao latim vulgar.

As palavras árabes, não muito numerosas, chegaram quase todas através do espanhol e do catalão, ainda que exista um ou outro elemento árabe direto na parte meridional da ilha. Mais importantes são os elementos gregos, visto que a língua foi falada pela elite local durante o domínio bizantino sobre a ilha, se bem que algumas palavras greco-bizantinas podem assim mesmo ter chegado através do latim. Sem dúvida são os elementos espanhóis e catalães os que mais influíram sobre o sardo. Às vezes elementos catalães e espanhóis se sobrepuseram a palavras sardas que desapareceram por completo ou apenas se conservaram nas regiões montanhosas do interior; por exemplo, em toda ilha se encontra o hispanismo ventana, “janela”, e só nos dialetos mais conservadores, como o de Gennargentu, usa-se fronesta ou fenestra. As febres (sobretudo palustres) são designadas no campo pela palavra kalentura (do espanhol calentura), mas o logudorês e os dialetos de Gennargentu conservam derivações do latim febre (m) — freba. Os vocábulos ibéricos (catalães e espanhóis) abundam especialmente na terminologia da administração e da Igreja, por exemplo: sa séu, “a catedral”, em catalão séu, proveniente do latim sede (m); tróna, “púlpito”, em catalão trona. É também catalã, ao menos em grande parte, a terminologia da pesca. É também notável sobre o sardo a influência do italiano, sempre crescente, sobretudo nos centros urbanos.

O sardo é, entre todas as línguas latinas, a que se mantém mais próxima ao latim clássico em questões lexicais e fonéticas.

•Valão: O valão é uma língua românica falada na Bélgica, mas também na França e, residualmente, no nordeste do estado americano do Wisconsin. É uma langue d’oïl e não deve ser confundida com o francês belga, variante da língua francesa falada no país. É reconhecida como língua regional endógena pela comunidade francesa da Bélgica, onde é a mais importante das línguas romances. É constituído por quatro grandes variantes dialectais e uma forma padronizada. Os falantes da língua podem ser chamados “valões”, observando-se, entretanto, que esse termo também (e principalmente) se refere aos habitantes da Valônia.

Conclusão:

Este artigo nos mostra, de uma forma ou de outra, que a língua latina está mais viva que nunca. Vendo a diversidade e a complexidade de todas essas línguas, percebemos que o legado de Roma segue conosco e seguirá nossos filhos, netos e assim por diante.

Recapitulando o texto:

Vimos que o latim se dividia entre latim clássico, falado pelas elites, e latim vulgar, falado pelos vários povos conquistados pelo Império Romano. Foi deste último que as línguas românicas surgiram e se desenvolveram.

Vimos que hoje em dia, existem dezenas de línguas latinas espalhadas principalmente pela Europa, mas as principais delas hoje são:

•Português;

•Espanhol;

•Francês;

•Italiano;

•Romeno.

Por fim, vimos algumas outras línguas menores que podem ser encontradas pela Europa e outros lugares do mundo.

Muito obrigado por chegar até aqui! Este artigo faz parte do blog Globalinguando, que pode ser acessado aqui: www.globalinguando.com.br

Valete omnes! Vejo vocês no próximo artigo.

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