Varrendo tudo.
2160 horas aqui ou seja 12 semanas.

O Marcel não falou comigo, ele digitou: “Então, tu teria disponibilidade de mudar de cidade?” Eu não respondi, digitei: “Cara, teria sim”.
Foi assim, rápido como quem rouba. Com essas palavras, ainda tenho a conversa salva pra provar.
— Caralho, Arthur. Eles erraram a pasta, certeza. Não pode ser…
— Mermão, se eles erraram, vai pra lá e não deixa eles perceberem.
O portfólio não estava tão bom, mas estava tão bom quanto poderia estar. Ainda tento me convencer disso, mas a certeza de que eles erraram a pasta é maior.
Um mês depois, eu chegava em Fortaleza. Trouxe o que tinha ou o que dá pra trazer no porta-malas de um Citroen C3. Duas mochilas, um violão e o celular. Deixei muito mais do que a camisa do Manchester. Deixei tudo. Tudo que dizem ser importante nos filmes do Adam Sandler e que nos passa batido porque ter amigos, família e namorada é super normal pra qualquer ser humano médio, de beleza média-baixa e de personalidade média-média.
E hoje? O que é mais importante que isso? Agora, é não deixar acabar a água da geladeira. Esqueci no final do mês passado e passei três dias tomando água da pia. O motivo de não ter comprado, já disse: final do mês. Morar sozinho é isso, uma corda bamba que de um lado é conta, do outro é louça suja e uma vontade constante de voltar.
Se eu quero voltar pra casa? Sim. Se eu tô arrependido? Jamais. E foi por isso que, nesses três meses, já fui a Natal quatro vezes. E sempre volto com aquela sensação de estar indo, porque voltar, voltar mesmo, a gente só volta pra casa. Eu nunca trampei tão longe. Mas posso dizer que tenho um bom ponto de apoio no meio do caminho, a 700m do trabalho e a 8 horas de casa: um flat sem glamour nenhum (a.k.a kitnet) que com certeza é caro demais pra eu estar pagando.
Mas eu tô vivendo bem, mãe. Lavo minhas cuecas diariamente. Arrumo a casa aos sábados, varrendo tudo. Não poderia estar melhor, sério.
Ah, essa é a inspiração do título. Se fosse um “varrendo” figurado e motivacional era um roteiro do Van Damme, não um texto pra hipster ler no Medium.
Até ontem, eu não sabia direito o que me fez largar Natal e vir tão rápido. Botava culpa no mercado publicitário de lá, que anda tão mal quanto um bêbado de perna quebrada. Mas o mercado não era mais importante do que todo o resto ou todo o todo.
Então, li uma frase do Don L, em que ele tentava explicar o que era o Karin Aïnouz, o cineasta:
“Ele tenta traduzir um inconformismo cearense, de ver as possibilidades que a gente tem e não se conformar com elas.”
Tenho certeza de que essa frase não faria sentido nenhum se eu já não estivesse pensando sobre isso há algum tempo. Foi esse o motivo de ter aceitado aquela proposta como quem rejeita um cartão da C&A. Talvez, eu sempre quisesse andar com eles no recreio.
Enfrentar a vida monótona como eles fazem. Ganhar e rir da cara dela no final de cada dia. Ser um pouco como Pipoca. Não a comida, o cara. Um rasta local que conheci em outra vida, que comprava tênis e tinha ideias fodas ao mesmo tempo e na mesma intensidade.
Eu acho que vim por isso, mah. Pra tentar ser cearense também. Pelo menos na cabeça.
Agora foi metáfora.