DEMOCRACIA CONECTADA

Panorama sobre o ativismo digital no Brasil

F/Nazca S&S
5 min readAug 17, 2015

Durante uma cerimônia na Universidade de Turim para receber o título de doutor honoris causa em comunicação e cultura, o filósofo, escritor e prêmio Nobel de Literatura Umberto Eco disse, em seu discurso de agradecimento, que as redes sociais deram o direito à palavra a uma legião de imbecis antes restritos às mesas de bar.

Apesar de exagerada, não é difícil entender a origem da opinião. Pense no tanto de informação desnecessária que recebemos diariamente pelo Facebook, Twitter, etc… E na quantidade de opinião desastrada, apressada e desinformada que nossos “amigos” postam com autoconfiança e descaso.

Mas existe o outro lado da moeda: olhar para os efeitos positivos da onipresença das redes sociais na vida cotidiana não é uma questão de otimismo. É entender que existe algo muito poderoso em curso.

Democracia Conectada — Trailer.

Estamos vivendo a criação de um novo espaço público interativo e colaborativo que impulsiona a capacidade de articulação e de ação da sociedade civil, tornando a democracia mais participativa, possibilitando assim novas interações das pessoas com as cidades, com os governos e com as empresas.

Em 1 ano, 26,5 milhões de brasileiros passaram a se conectar à internet via celular; o número de pessoas que se conectam via celular no País já é equivalente à população da Alemanha.

A pesquisa F/Radar, realizada pela F/Nazca em parceria com o Datafolha e com o apoio estratégico da cRica consulting, mapeou a disseminação da internet móvel, o uso das redes sociais e a adesão ao ativismo digital no Brasil nos últimos 4 anos. O levantamento quantitativo foi ainda repercutido em conversas sobre as novas formas de fazer política em redes, com ativistas e estudiosos do assunto.

Mais da metade dos 107 milhões de internautas brasileiros (69%) já ficaram sabendo de algum movimento social pela internet, a maioria dos quais (75%) via redes sociais. Além disso, 58% dos internautas acreditam que as redes contribuem para a mudança de opinião a respeito de algum problema social.

Desde 2011, o número de ativistas digitais cresceu 120%, chegando a quase 30 milhões de pessoas. Destes, 80% se envolveram com causas pelas redes sociais: curtindo, comentando ou compartilhando conteúdos relacionados. A pesquisa mostra ainda que engajamento político não é privilégio. A maioria dos ativistas digitais do País, 45%, está na classe C.

O estudo aponta uma relação entre as redes sociais e o envolvimento presencial em mobilizações: metade daqueles que já participaram pela internet o fizeram também fora dela. Além disso, 4 em cada 10 internautas acreditam que as redes contribuem para eles participarem presencialmente.

Presença expandida.

A noção de pertencimento evoluiu: basta olhar pra rua e ver na prática o resultado de uma sociedade mais conectada. São centenas de projetos voltados à participação ativa de cidadãos comuns nos processos de decisão das cidades. Do Parque Minhocão ao Parque Augusta. Do Largo da Batata, em São Paulo, ao Estelita, no Recife. Das feiras gastronômicas às hortas comunitárias, passando pelo ressurgimento do Carnaval de rua da cidade de Sao Paulo. Sem contar inúmeras conquistas na defesa de direitos, na criação da políticas públicas e até em mudanças de legislação. Vide o sucesso de redes como Meu Rio e Nossas Cidades.

Junto e conectado.

Essa nova dinâmica traz oportunidades para as empresas estabelecerem novas conexões com as pessoas. Mais sinceras e relevantes.

Quanto tempo perdemos tentando achar uma causa para nossas marcas e, depois, quanto tempo — e dinheiro — gastamos tentando convencer alguém a abraçar essas causas?

Poder em redes.

O caminho inverso pode ser mais efetivo: as pessoas já estão se articulando em torno de assuntos que são importantes pra elas. Que tal então as marcas abraçarem alguns deles e, de fato, fazerem algo de relevante?

Mais do que brincar com a potência do megafone que têm nas mãos, muitos estão se conectando para construir um mundo melhor. Conscientes de que atitudes e escolhas — mesmo um compartilhamento no Facebook — têm consequências e podem fazer alguma diferença. Menos paternalismos, mais mão na massa.

Pequenos grandes passos.

Umberto Eco termina o discurso dizendo que hoje os imbecis têm o mesmo direito à palavra que um prêmio Nobel. Ainda bem. Avante.

Veja os números completos da pesquisa.

DISLIKE

Principal arena de interação do País, o Facebook é frequentado por 87% dos internautas brasileiros. São cerca de 93 milhões de pessoas seguindo, fuçando, lendo, assistindo, curtindo, espalhando. Destes, 68% já excluíram algum contato. E entre os que já apagaram alguém, por volta de 30% o fizeram por não concordar com algo postado pelo outro.

Propulsora de encontros, negócios, causas, notícias, crenças, estéticas, boatos, a rede mais trafegada do Brasil também é alvo de críticas. Acompanhe as conversas sobre os limites da política, da privacidade e da tolerância no Facebook.

Dislike.

METODOLOGIA

A pesquisa F/Radar investiga os impactos da tecnologia na cultura e no consumo desde 2007. Na edição deste ano foram feitas 2,3 mil entrevistas em 144 municípios. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. O desenho amostral foi elaborado com base em informações do Censo 2010 e estimativas 2014 do IBGE.

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F/Nazca S&S

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