entre dimensões, o teatro tedioso

(in)quietudes
2 min readOct 15, 2024

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Ingénue,

Sutilmente lívida,

Sintética, recém nascida.

Estou minúscula dentro do ovo.

Fragilizada, inerte, aflita e paralisada.

Alguém vai ter que abrir por fora e me arrancar.

Nada muito grosseiro, como um machado, senão morro.

Mãos rompendo delicadamente, assegurando-me que sairei viva.

Estou sufocando, revirando-me e repartindo-me; reconstituindo de novo.

Mas ainda não é hora! Os milênios à procura da liberdade devem esperar, ennui.

Cochichando, bem baixinho, comigo mesma “toska toska toska”.

Como se pudesse alcançar os espinhos presos à carne, soltar.

Assim, enquanto nada acontece, perduro nessa dor vã;

Pulsando em vidas que mal compreendo,

Como a irrealidade me alcança;

Suando frio diante do viver.

Insatisfeita, atroz.

Soturna.

Há flores inocentes que vivem dentro de mim desde o meu nascimento. Flor de Ameixa Branca. Chegam à garganta; ânsia de vômito doce e quente. O chão é imundo, instável. Sento-me no tapete de crochê e choro as lágrimas de orvalho, suor adocicado cintilante. Tudo é arrebatador, hesito em olhar, tamanha sensibilidade limitante. As olheiras, poços profundos de angústia petrificada, derretendo. Silêncio silêncio silêncio, apenas o chacoalhar das folhas nas árvores. Aproveitar as horas antes da morte, começo do êxtase. A adaga ficou presa no ventre quando, num impulso desinteressado, a pus a descansar lá (como é que posso me dar ao luxo de sentir, em um momento assim?). Sutil, sutil; todos os ossos quebrando, liquidificando, evaporando; solidificando em palavras, formas, movimentos (todos esses hesitantes, fora do ritmo, frenéticos). Preciso saborear meu próprio coração, antes que o mundo o engula. Há pouco tempo restando, até que o patético espetáculo da preexistência acabe. Antes de tudo, tédio amaríneo, acre-doce reminiscência prematura e miríades de sonhos já sepultados.

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Written by (in)quietudes

Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.

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