O encontro impulsionador da Tropicália com o Design Gráfico no Brasil

Folks
2 min readNov 4, 2016

Em meados dos anos 1960 surge o que pra mim foi/é (uma vez que o conceito se abrange até os dias atuais) um dos maiores e mais importantes movimentos político-culturais no Brasil, a tropicália. Movimento que escancara grandiosidade no campo musical, visto como algo realmente revolucionário. Porém, limitar tamanha magnitude somente a esse eixo, é rebaixar de forma cruel, inconsequente e desmedida a importância artística, cultural e mercadológica resultante desse movimento.
Poderia tentar discorrer sobre outro eixos do movimento, mas por estar envolvido na área, seleciono um recorte do movimento: o design gráfico. Especificamente: Rogério Duarte.

Certa vez questionado se ele representava uma versão da tropicália no design, firmemente ele disse: “não, foi justamente o contrário!”. Versão, de certa forma, comprovada pelo próprio disseminador do movimento, Caetano Veloso, quando o mesmo diz que antes de tudo acontecer, Rogério Duarte estava lá, e que se não fosse as tantas conversas entre o dois, o movimento jamais teria acontecido.

Rogério Duarte, baiano de Ubaíra, iniciou sua trajetória no design, na Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi), escola que seguia conceitos ulmianos, tais como funcionalidade e racionalidade. Conceitos anteriormente desenvolvidos pela Bauhaus. Diante desse modo de se pensar design, Rogério passa a questionar a ruptura existente entre arte e design, e a tamanha importância da técnica racionalista no design da época.

A consequência desse questionamento gerou em Rogério Duarte um novo modo de pensar e fazer design, rompendo assim com o que estava sendo proposto no país, uma vez que na época o eixo era voltado apenas para a criação e desenvolvimento de logotipos seguindo e baseando-se nos conceitos racionalistas da Bauhaus. Foi a partir desse rompimento que Duarte passou a produzir peças com um intuito popular e de comunicação de massa, mesclando toda a funcionalidade técnica absorvida na época da Esdi, a elementos brasileiros estéticos/visuais de fácil assimilação, exaltando assim o conceito antropofágico tanto defendido pelo movimento ‘tropicalista’.

Rogério marcou o design gráfico no Brasil, e de forma genial aproximou-o do povo brasileiro. Além de unir o que havia de mais técnico e sofisticado ao kitsch, usar a poluição visual e discromia da pop art americana, aliada às finas regras da diagramação alemã, tudo isso imerso num grande caldeirão de brasilidade.
Durante o movimento, Rogério foi o responsável pela criação das capas de grandes álbuns, entre eles: Caetano Veloso (1968), Gilberto GIl (1968), Jorge Ben Jor, Jorge Mautner e o álbum síntese do movimento, o ‘tropicália ou panis et circenses’. Além disso, Duarte também foi responsável pelo feitio de cartazes de grandes filmes do movimento e do cinema brasileiro, a exemplo de: Deus e o Diabo na Terra do Sol, Terra em Transe, A Idade da Terra, Cara a Cara, entre tantos outros.

--

--