Hoje é dia de luto

(um poema escrito no calor do momento, sem tempo pra revisão, só pra ação)

Hoje, não vai ter luta, vai ter luto
Luto pelos estudantes espancados pela PM, em São Paulo
Luto pelos cinco meninos fuzilados pela PM, no Rio
Luto pelo Estado que aborta nossos sonhos e filhos.

Hoje, não vai ter luto pelo fim da editora
Não vai ter frisson pelo fim da novela
Hoje, ninguém vai aproveitar as compras da Black Friday
Hoje vai ser luto.

Hoje, ninguém quer saber do caso da modelo
Do Caetano Veloso caminhando no Leblon
Do resultado do futebol
Hoje, ninguém quer ver o Pra frente Brasil
Hoje, queremos ver o Brasil parar
Hoje é luto

Hoje, o pretinho básico das passarelas
O manto negro dos Black Blocs
O black do saldo de final de ano
É negro de luto

Pelas crianças espancadas e mortas pelo Estado
Pela sociedade que acha que jovem negro bom é jovem negro morto
Pela sociedade que acha que estudante que luta é vagabundo
Pelo Brasil que acha que sonhar com um mundo melhor é crime
Pelo aborto sangrento do sonho de um lanche na madrugada
Ou de uma escola perto de casa
Hoje é dia de luto.

De deixar as barbas e os cabelos crescer
De quebrar os copos em casa
De contar os mortos na rua
de uivar copiosamente pra Lua.

Amanhã, não.
Amanhã é luta
Amanhã é o alerta agora e sempre
Tecer um amanhã diferente
Para com menos luto
E mais luta
Construir uma sociedade
mais justa.

Este poema faz parte do livro “Guia poético e prático para sobreviver ao século XXI” que a Editora Patuá lança dia 31/08/2016. Reserve o seu aqui! .

Fred Di Giacomo é escritor e jornalista multimídia; autor dos livros “Canções para ninar adultos” (do qual esse conto faz parte), e “Haicais Animais“ . Ele foi pioneir0 na criação de newsgames (jogos jornalísticos ), fundador do Glück Project e toca na Banda de Bolso.