Como sou ridículo, amiga

Antes rir de mim mesmo, que dançar no TikTok.

FRIANDES
3 min readOct 18, 2024
Photo by Timothy Dykes on Unsplash

Somos ridículos desde que descemos das árvores, isso é um fato. Colocamos os pés no chão, achamos que ser bípede nos dava um ar sofisticado, mas, sinceramente, só nos deu mais chances de cair de cara no chão. E Aristóteles, o espertalhão, já sabia disso. Ria de si mesmo enquanto escrevia sua Poética, meio que dizendo “olha, eu sou genial, mas sou um completo bobo também”. A comédia grega tá aí pra provar, e o bobo da corte ficou na história. Aliás, ser o bobo da corte deve ter sido o trabalho mais honesto já criado.

Mas até o ridículo tem limite, tá? Por exemplo, nunca, jamais, reproduzi uma coreografia de TikTok. Não é porque eu sou “maduro”, é porque sou um péssimo dançarino mesmo. Mas olha, já fui aquele ridículo que compartilhava cada passo que dava no Foursquare. Como se alguém realmente se importasse que eu estava na padaria às 8h da manhã.

Ridículo são as pessoas que exaltam as 16 horas de trabalho como se fossem medalha de ouro nas Olimpíadas do Estresse. E ainda acham que estão “vencendo na vida”. Parabéns, ganhou uma úlcera. Tem também o ridículo estético, claro. Quem nunca mexeu num filtro do Instagram pra tirar uma ruguinha? Ou pagou por aquele app que “suaviza” as bolsas embaixo dos olhos? Ah, e claro, tem o povo que leva isso tão a sério que faz cirurgia pra ficar igual aos filtros.

E vamos falar de cancelamento. Se você já cancelou alguém por algo que essa pessoa falou há anos, mesmo ela tendo mudado, parabéns! Você entrou pro clube dos ridículos da internet, que transformam qualquer discussão em guerra de egos e superficialidades. Reflexão, pra quê, né?

Eu? Bom, sou ridículo em outros aspectos. Tenho mais de 9 mil e-mails não lidos. Me sinto ridículo por quase entrar em pânico quando o celular fica sem bateria. Não por causa de alguma coisa importante, mas porque, sei lá, vai que eu perco um meme novo? Amizades de rede social, então? Ridículas. A gente chama de “amigo” alguém com quem só troca likes, e transforma até a escolha do hambúrguer no iFood em ato político. Tudo é guerra cultural, como se não tivéssemos mais nada pra fazer.

Ah, influenciadores… Vender “autenticidade” enquanto seguem o mesmo roteiro de todos os outros. E as pessoas caem. Dietas mirabolantes, cristais de cura, e aquela meditação que promete o alinhamento dos seus chakras, da sua coluna e, quem sabe, até do seu cartão de crédito. E não me venha com moral. Eu corro pra comprar o mais novo iPhone, na esperança de estar atualizado. Só não fui ridículo de comprar aspirador-robo e copo Stanley. Mas, no fundo, acumulo looks monocromáticos com cara de quiet luxury no armário mais ridículo da Santa Cecilia.

Mas o cumulo do ridículo são os devotos de Deolanes, Jaires, Marçais e Gusttavos, que as vidas deles como se fossem importantes, enquanto a nossa… Bem, a nossa continua sendo a mesma bagunça ridícula que sempre foi.

Eu abraço o ridículo que há em mim porque como disse uma amiga: a vida é ridícula. O amor, as pessoas, as amizades. A gente esconde o ridículo com o ego, nas narrativas padronizadas de nossas vidas e perdemos nossa essência (ridícula), adoecendo. E, vou ser sincero, tenho até orgulho de ser ridículo. Sério. Faço piada da minha própria vida — eu me meto em situações tão absurdas que o mínimo que posso fazer é escrever sobre elas uma vez por semana. Chamo isso de “terapia acessível”. Sou aquele que dá risada primeiro de mim mesmo, porque, né, se não fizer isso, a fila de gente pra rir de mim pode ser gigante. Ou não.

r.

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Written by FRIANDES

Esta é uma obra de ficção baseada na livre criação artística e sem compromisso com a realidade.

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