Lover: Não é apenas uma Love Story?

Pedro Miranda
6 min readJun 13, 2024

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Todos sabem que Taylor Swift possui a habilidade de transmitir sentimentos com clareza através de suas letras. Seja expressando raiva como em Better Than Revenge do álbum Speak Now; ressentimento em Would’ve Could’ve Should’ve do Midnights; alegria em New Romantics do 1989; bastante amor em Call It What You Want do reputation; e muitos outros sentimentos presentes em sua discografia.

Portanto, não é inacreditável considerar a presença de versos relacionados à dependência emocional em algumas músicas de seu sétimo álbum de estúdio, Lover.

É irônico perceber que, apesar de ser um álbum centrado no amor, podemos notar diversas composições que exploram esse quadro emocional em seus versos. Tendo dito isso, apresentarei agora cinco músicas deste álbum, que, injustamente, é bastante negligenciado pelos fãs, que evidenciam claramente esse tema.

Para uma análise mais precisa das músicas que serão abordadas posteriormente, é necessário compreender o conceito de dependência emocional.

Trata-se de um padrão comportamental no qual uma pessoa torna-se excessivamente dependente de outra para satisfazer suas necessidades emocionais, resultando muitas vezes em desequilíbrio no relacionamento devido à criação de expectativas irreais ou situações fictícias, motivadas pelo medo de perder o parceiro.

Adianto que não possuo formação em psicologia e não estou afirmando que Taylor Swift possua esse quadro emocional, uma vez que a maioria de suas composições é autobiográfica. Pretendo apenas compartilhar minha interpretação de algumas músicas do álbum Lover com base em meu conhecimento e pesquisa sobre essa questão.

Então, vamos entrar no mundo, nem tão cor-de-rosa, do sétimo álbum de estúdio da loirinha?

Começarei com o sucesso do momento e uma das favoritas entre os swifties (inclusive eu), Cruel Summer!

É evidente que a música retrata um relacionamento de verão, algo efêmero, mas ainda assim é possível perceber nuances de dependência emocional em seus versos.

Durante sua narrativa, percebemos que se trata de um relacionamento apaixonado, porém doloroso. Talvez devido à sua natureza transitória? Ou devido às expectativas excessivas depositadas nesse relacionamento, tornando-o mais difícil do que deveria ser?

Acredito que a maior evidência disso está na passagem em que Taylor canta:

“I’m always waiting for you just to cut to the bone, devils roll the dice, angels roll their eyes and if I bleed, you’ll be the last to know”

(Eu estou sempre esperando você simplesmente cortar tudo pela raiz, demônios jogam os dados, anjos reviram os olhos e se eu sangrar, você será o último a saber)

Aqui, observamos a personagem aguardando que seu parceiro termine a relação, enquanto permanece presa nesse ciclo, incapaz de se libertar sozinha.

A música que recebe o nome do álbum também aborda , ainda que sutilmente, um pouco de dependência emocional.

A protagonista expressa suspeitas sobre o interesse alheio em seu parceiro, mesmo em meio a um relacionamento aparentemente satisfatório.

Essa paranoia, embora comum em relacionamentos, reflete a criação de situações imaginárias pela personagem, típica da dependência emocional.

Uma bastante amada pelos swifies, Cornelia Street, narra a experîencia da protagonista que expressa o temor em perder seu parceiro, alimentando a crença de que jamais superaria tal perda. Embora seja comum sentir receio do término em relacionamentos amorosos, a intensidade desse medo é evidente ao longo do refrão da música expressado nos versos:

And I hope I never lose you, hope it never ends

(E eu espero nunca te perder, espero que isso nunca acabe)

That’s the kinda heartbreak time could never mend

(Esse é o tipo de decepção amorosa que o tempo nunca poderia consertar)

And baby, I’m so terrified of if you ever walk away

(E, querido, estou tão apavorada com a ideia de você ir embora)

Neste contexto, observa-se alguém imerso em expectativas profundas dentro do relacionamento, onde o receio de perder tal vínculo supera até mesmo a perspectiva de um término, tornando a dinâmica do relacionamento mais densa e desafiadora. Infelizmente, essa insegurança extrema pode, de fato, contribuir para o fim da relação.

Vale ressaltar que a Cornelia Street pode não ser apenas uma representação literal de uma rua ou local específico, mas simbolicamente retratar o sentimento de estar profundamente apaixonado por alguém, onde a ideia de um término evoca o temor de nunca mais encontrar um amor semelhante e o medo de vivenciar esse sentimento novamente.

Agora é a de uma música que tem uma das melhores pontes do álbum (e talvez uma das mais viciantes da discografia de Taylor): Death by a Thousand Cuts!

Na composição, agora se apresenta a perspectiva de alguém que enfrenta o término de seu relacionamento sob a ótica da dependência emocional. Embora se possa argumentar se essa pessoa de fato apresenta tal condição emocional ou se está apenas lidando com o sofrimento comum ao fim de um relacionamento, existem elementos que sugerem uma intensidade emocional particular nesses versos.

Primeiramente, desde o início da música, Taylor descreve como a personagem se encontra imersa em um ciclo de relembrar o relacionamento, por menores que sejam os detalhes. Esse tipo de comportamento não é incomum após o término de uma relação; no entanto, ao descrever a experiência como uma “morte por mil cortes”, Taylor evoca uma intensidade emocional que ressoa com a amplificação dos sentimentos, algo característico da dependência emocional.

Em segundo lugar, ao longo da canção, são mencionadas situações cotidianas que a personagem enfrenta, nas quais ela se esforça para evitar pensar no relacionamento recém-terminado. Embora seja comum que pessoas recém-separadas busquem distrações, aqui é possível observar um esforço além do comum por parte da personagem para evitar qualquer pensamento sobre o término, indicando a profundidade do impacto emocional que esse evento teve sobre ela.

E por fim, destaca-se a ponte da música, na qual Taylor descreve os momentos compartilhados com o antigo parceiro da personagem e sua subsequente partida. A personagem revê esses momentos em sua mente, buscando sinais que possam explicar o término, mesmo que tais sinais sejam inexistentes. Esse comportamento reflete a tendência daqueles com dependência emocional a buscar incessantemente por explicações, mesmo quando não há evidências que as justifiquem.

A música seguinte é a última, mas também a que mais apresenta relação com o foco do texto. Primeiramente, é importante destacar ela como a obra-prima do álbum, tanto em termos de composição quanto na transmissão emocional proporcionada por Taylor Swift através de seus versos.

Afterglow, uma faixa frequentemente apontada como a favortita de muitos do Lover, até mesmo entre aqueles que não apreciam o álbum como um todo, possui de forma mais evidente um pedido de ajuda. Ao escutar essa música, o único pensamento que fica é de estar ouvindo alguém totalmente dependente por outra pessoa.

Logo no começo, Taylor cita situações em que a personagem tem comportamentos por influência de pensamentos irreais que surgem em sua cabeça, o que acaba levando a constantes brigas com seu parceiro e diferente das outras canções mencionadas nessa é evidente essa ideia, além dela compreender que são situações imaginárias em que sua mente é a principal causadora dessas brigas indesejáveis.

Durante o refrão, há um pedido de desculpas onde há admissão de culpa por sua parte pelos momentos baixos do relacionamento, além dela destacar que não queria que isso acontecesse e compartilhar o medo de ve-lô indo embora deixando ela sozinha, um traço clássico de alguém dependente, que a todo momento leva dentro do coração o medo de ser deixado.

Na ponte, temos uma abordagem que mostra como a dependência emocional acaba machucando alguém que está em um relacionamento, até porque isso não é algo escolhido, mas ela fala:

“Tell me that you’re still mine, tell me that we’ll be just fine even when I lose my mind… Tell me that it’s not my fault, tell me that I’m all you want even when I break your heart

(Me diga que você ainda é meu, me diga que ficaremos bem mesmo quando eu perder a cabeça… Me diga que não é culpa minha, me diga que sou tudo o que você quer mesmo quando eu parto seu coração)

Há algo diferente em sua forma de amar o que acaba transformando seu relacionamento em um campo de guerra, isso é compreendido e sentido pela protagonista, então ela pede ao seu parceiro que compreenda suas inseguranças e paranoias, enfatizando que seu objetivo é preservar a harmonia e a paz no relacionamento.

Definitivamente, essa é uma das maiores composições de Taylor e que consegue captar muito bem o sentimento de alguém e como isso o afeta, o que acaba tornando suas relações difíceis.

Então, foi possível identificar a temática explorada nas músicas mencionadas? Sempre que as ouço, minha mente inevitavelmente se volta para essa questão, e é algo que desejava compartilhar.

É importante ressaltar que essa análise se trata de uma persperctiva pessoal baseada em conhecimentos básicos sobre o assunto apontado e não pretendo diagnosticar ou influenciar outras pessoas a compartilharem minha interpretação. Meu objetivo é simplesmente expressar minha visão sobre o álbum.

Se você estiver enfrentando situações semelhantes, é importante buscar acompanhamento psicológico para identificar e lidar com esses desafios da melhor forma possível.

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Pedro Miranda

um grande fã da cultura pop: filmes, séries, músicas e tudo o que há de bom nesse vasto mundo cultural!