Os 4 elementos do Senso De Comunidade

Gab Gomes
4 min readJul 3, 2018

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Fazemos parte de muitas comunidades ao mesmo tempo e, com o mundo digital, a tendência é que a conexão a outras pessoas aumente ainda mais. Agora, mesmo estando hiperconectado, é fácil perceber que alguns grupos de pessoas despertam em nós uma sensação de pertencimento diferente. Por que será que nos identificamos mais com esse grupo e menos com aquele? O que constrói esse senso de comunidade?

Há algum tempo, fui ler sobre o assunto por causa do Múrmura, um projeto que iniciei em 2014 e tinha como objetivo ser uma comunidade que quisesse fazer coisas por suas cidades. Descobri que Senso de Comunidade é um aspecto psicológico do ser humano que descreve uma sensação genuína de conexão e pertencimento a um determinado grupo de pessoas. Esse senso de comunidade é composto por quatro elementos, sintetizados por McMillan e Chavis em 1986, que são: símbolo, influência mútua, preenchimento de necessidades, e emoções compartilhadas.

1. Símbolo

Símbolo é o que gera a noção de associação (membership). Pode ser tangível como a cor de uma roupa, uma pulseira, um brasão na camiseta, um grupo de WhatsApp, morar na mesma cidade, trabalhar na mesma empresa, ou intangível, como um sobrenome, uma religião, uma crença. Símbolo é o que gera, muitas vezes, a identificação entre os membros, definindo uma fronteira entre quem participa e quem não participa daquele grupo.

2. Influência mútua

A possibilidade de um membro influenciar e ser influenciado dentro do grupo. Um grupo aberto, suscetível às mudanças, gera senso de comunidade maior. A influência é como uma troca, e deve ser de mão dupla. Quando alguém está em um grupo onde sua voz não é escutada, a tendência é que essa pessoa não se sinta tão pertencente àquela comunidade quanto uma pessoa que consegue influenciar o grupo. O que me leva a crer que essa é uma das razões pelas quais as empresas têm investido, cada vez mais, em processos "colaborativos" ou "co-criados", para que de alguma forma se pratique a influência que uma pessoa pode ter dentro de um sistema, consequentemente aumentando o senso de comunidade entre eles.

A definição de Seymour Sarason, um dos primeiros caras que estudou os aspectos psicológicos do senso de comunidade, lá em 1974, traz essa noção de proximidade falando sobre "uma reconhecida interdependência com os outros, uma disposição para dar ou fazer algo pelos outros, e o sentimento de que se faz parte de uma estrutura estável e mais confiável”.

3. Preenchimento de necessidades

Preenchimento de necessidades é o quanto aquele grupo entrega o que você precisa. Não é a toa que, ao longo da vida, mudamos nossos círculos de amigos. É como se isso fosse uma consequência natural da mudança das nossas necessidades à medida que vamos envelhecendo. As pessoas estão, o tempo todo, buscando alguém que possa suprir as demandas individuais. Seja o futebol na terça à noite, a balada no fim de semana, networking, aprendizado, segurança, status, ou qualquer outra coisa. Até mesmo a necessidade de se lembrar do passado. Podemos ver isso em muitas grupos que, mesmo não tendo mais nada em comum, seguem juntos via grupos de WhatsApp como forma de manter um vínculo com o que já ficou para trás.

McMillan e Chavis, os caras que juntaram esses 4 elementos, colocam esse ponto muito forte dentro da definição de senso de comunidade: um sentimento de que os membros são importantes uns para os outros, tendo fé de que as necessidades dos membros serão atendidas por meio do compromisso de estarem juntos.

4. Conexão Emocional Compartilhada

História em comum. Experiências boas ou ruins do passado que criam liga entre as pessoas. Bagagem emocional coletiva, digamos assim. Um grupo de pessoas que se muda de uma cidade para outra, tendem a se unir muito mais nessa nova cidade pois compartilham de uma série de emoções. Se olharmos para a História, quantas vezes vimos povos que se uniram ainda mais após passar por uma guerra ou por um desastre natural. Mas também histórias positivas como uma viagem de férias incrível com os amigos, ou um torneio de futebol que foi vencido pelo time. Enfim, quando há histórico emocional coletivo.

Alguns autores dizem que esse é o "elemento definitivo para comunidades verdadeiras". São essas histórias em comum, ou a participação coletiva, ou pelo menos a identificação com essa história, que é a real cola que liga um grupo e que lhes dá a sensação de pertencimento a algo maior que eles mesmos.

Quando se pensa em comunidade, é legal ter isso em mente. Não no sentido de moldar a formação da comunidade, mas para influenciar positivamente na criação de vínculos ainda fortes, verdadeiros e duradouros, seja com o casal, com os amigos ou no ambiente de trabalho.

Referências:

McMillan, D.W., & Chavis, D.M. (1986). Sense of community: A definition and theory. Journal of Community Psychology

Sarason, Seymour Bernard (1974). The psychological sense of community: Prospects for a community psychology. The Jossey-Bass behavioral science series. San Francisco, CA: Jossey-Bass Publishers.

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Gab Gomes

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