28/09/24
these crosses all over my body remind me of who I used to be
hoje pela manhã eu e e. falávamos de nietzsche. do vazio que é acreditar que não existe um deus que possa nos salvar. do abismo que é não acreditar. não ter nada que te proteja do sofrimento do viver. e. concorda com sartre que diz alguma coisa sobre o significado estar justamente nas decisões que tomamos. na nossa completa liberdade de escolher. defendo beauvoir, somos todos responsáveis pelas nossas escolhas. pelas consequências de tudo que escolhemos. lembrei de espuma dos dias. um filme francês surrealista que aborda sarte e beauvoir, esteticamente lindo. poético.
falei que acredito em deus. não na existência de um deus. na narrativa de um deus. na narrativa que molda o comportamento e as escolhas de todas as pessoas no mundo, ainda que de formas diferentes. com outros nomes. outras aparências. mas o ser humano tem essa necessidade de ter algo ao que se apegar. a esperança de que exista um sentido nisso que a gente faz todos os dias. repetidamente.
when the preacher talks, that man demands his silence
diz em algum lugar na bíblia que no princípio era o verbo e é meio clichê mas toda essa coisa de logo o verbo que representa uma ação, e a partir do verbo, então, a criação. o verbo de criar o mundo. a narrativa. a linguagem que dita um deus. e quem cria esse primeiro verbo responsável por tudo isso?
na ic falamos de lilith, a primeira mulher da bíblia, expulsa do paraíso. aquela que é a mãe dos demônios, enquanto eva é a mãe da humanidade. não seriam elas, então, a mesma coisa?
escolhi, para a ic, um livro que cita um filme que assisti em um festival durante a pandemia. a metamorfose dos pássaros. um dos filmes mais bonitos que tive o prazer de ver. de uma sensibilidade que só o luto pode construir. pós-pandemia (com hífen) levei e. para assistir o filme em um museu. depois de um dia inteiro juntas. fomos ao cinema pela primeira vez. ela saiu aos prantos. nunca esqueceu o filme. nunca esqueceu a morte da mãe.
o livro fala dessa coisa que a psicanálise estuda sobre a necessidade de matar os pais e o encontro com um mundo que limita. ou qualquer coisa assim. nunca pesquisei profundamente.
o livro acontece em uma casa. curiosamente o filme citado usa elementos de uma casa de família. e ela também cita retrato de uma jovem em chamas. por sinal, uma mulher presa em uma casa e deseja correr ou morrer. tudo pela existencialista liberdade de beauvoir. que só essa outra mulher necessária é capaz de fornecer. pela arte.
a casa enquanto esse lugar que molda o que podemos nos tornar. que nos mostra como o mundo deve ser.
jesus can always reject his father, but he cannot escape his mother’s blood
no sábado lancei um livro da júlia lopes de almeida, um livro de terror que fala de violência de gênero, refleti sobre minha trajetória academizando a violência doméstica. da importância que a literatura tem em tornar palpável o que muitas vezes nem o próprio cérebro é capaz de processar.
setembro foi o mês da prevenção do suícidio. minha mãe disse que eu deveria escrever alguma coisa. sinceramente, não sei como me sinto sobre a existência de um mês inteiro de gatilhos.
disse que não vou escrever nada e aqui estou. mais uma vez lutando contra a vontade de nunca ser lida.