Estudo de Caso: Pesquisa exploratória para Design Assistivo (Parte I)

Gabriel Bastos
4 min readApr 19, 2020

Em 2018, desenvolvi meu projeto de TCC para o curso de Design de Produto. Pensei bastante antes de escolher o tema porque queria que fosse algo desafiador pra mim e que realmente ajudasse as pessoas.

Me considero uma pessoa apaixonada por música. Não só por ouvir música em si, mas pelo poder que ela tem. Sou daqueles que tem uma playlist de música para cada coisa, e meu estado de espírito com certeza muda conforme as músicas que eu escuto.

Estou te contando isso porque o tema do meu projeto foi música para pessoas surdas. Meu desejo era de fazer com que as pessoas surdas também pudessem sentir a mesma coisa que eu sinto quando ouço música, que elas pudessem ter uma experiência musical prazerosa. E se essa experiência já existe hoje, identificar o que posso fazer para torná-la melhor.

Planejando o projeto

Para desenvolver esse projeto, escolhi utilizar a metodologia ‘Double Diamond’ (em português, Duplo Diamante) criado pelo British Design Council, que consiste em 4 fases:

Adaptado e traduzido de DESIGN COUNCIL UK, 2005.

Descobrir

É o início do projeto. Etapa onde devemos identificar tudo relacionado ao problema real que dará foco ao desenrolar das etapas. Para isso, é importante entender a perspectiva das pessoas que fazem parte do sistema estudado, determinar as motivações por trás do comportamento dessas pessoas e colher insights além de apenas coleta de dados empíricos. Esta etapa não se trata de tentar encontrar uma solução imediatamente, mas sim de determinar o problema primeiro.

Obs: Costuma ser descrita como uma etapa divergente, porque aqui estamos explorando, coletando dados, ou seja, abrindo nosso leque de informações. Uma dica é pensar naquela aula de física sobre lentes: um raio de luz que incide sobre uma lente divergente se espalha, como o movimento de abertura da primeira metade de cada diamante acima.

Exemplo de uma lente divergente

Definir

Após analisar os dados descobertos na primeira etapa, aqui vamos definir prioridades, ou seja, destacar os pontos mais importantes e que serão a base do desenvolvimento do projeto.

Obs: É uma etapa convergente. A lógica inversa se aplica aqui, onde tudo o que foi coletado vai ser direcionado em um mesmo ponto focal. É representado pelo movimento de fechamento da segunda metade do diamante.

Exemplo de uma lente convergente

Desenvolver

Período onde as soluções e conceitos são criados, prototipados, testados e iterados. O processo de validação das soluções criadas ocorre junto com o desenvolvimento do conceito através dos modelos e protótipos. Este processo de tentativa e erro ajuda os projetistas a melhorarem o produto em desenvolvimento.

Entregar

O último passo é onde o projeto (seja um produto, um serviço ou ambiente) é finalizado, produzido e lançado.

Considerações: Como o foco deste artigo é trazer um estudo de caso de pesquisa e mostrar os seus benefícios, à partir de agora vou falar apenas sobre a etapa de descoberta.

Iniciando a descoberta: Desk research

Com o problema definido, iniciei minhas pesquisas secundárias sobre o assunto na internet para que eu pudesse ter mais base de conhecimento no preparo das próximas investigações.

Através de alguns artigos, descobri que a sensibilidade auditiva é medida por um instrumento chamado audiômetro, e que através dele podemos classificar a surdez de uma pessoa em 5 graus de intensidade: surdez leve, moderada, acentuada, severa e profunda.

Sabendo disso, surgiram dúvidas se o comportamento de consumo de música e a necessidade dos surdos com graus diferentes de perda auditiva seriam iguais ou variados e quais seriam eles.

Também encontrei artigos de diversos autores defendendo a ideia de que as pessoas surdas conseguem curtir uma música através dos seus outros sentidos, como o tato, sentindo as vibrações, e a visão, acompanhando uma dança ou um jogo de luzes.

Com esses conhecimentos, defini a hipótese de que seria possível facilitar o consumo de música das pessoas surdas utilizando os outros sentidos do corpo que elas desenvolveram. Agora eu precisava investigar se isso realmente ajudaria ou não.

Pesquisas primárias: Planejando as etapas

Antes de responder essas dúvidas, eu precisava entender sobre o contexto de vida dessas pessoas, quais eram suas opiniões sobre o assunto e como os surdos com diferentes graus de perda auditiva se relacionam com a música. E por ser um assunto pessoal, que envolve um “problema” e os impactos que ele causa em suas vidas, eu precisava falar com cada pessoa de forma individual. Por conta disso, decidi iniciar o processo de pesquisa realizando uma pesquisa qualitativa, utilizando o método de entrevista em profundidade.

Após as entrevistas, já com mais conhecimento sobre eles, partiria para a construção e realização da pesquisa quantitativa para então conseguir quantificar quais comportamentos, sentimentos e opiniões seriam mais representativos pelo público surdo.

Para continuar lendo sobre o processo de pesquisa do projeto, acesse a parte II abaixo.

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Gabriel Bastos

UX Researcher na globo.com / Pós graduando em design de serviço. Fala comigo no Instagram! @ gab.insights