Estudo de Caso: Pesquisa exploratória para Design Assistivo (Parte III)

Gabriel Bastos
4 min readApr 19, 2020

Esse artigo é a continuação de uma série de 3 posts. Para ler do início, acesse o link abaixo.

Pesquisa quantitativa

Utilizando a plataforma do Google, criei meu questionário e divulguei em diversos grupos no Facebook específicos de pessoas surdas, para que pudesse atingir a maior quantidade possível de pessoas.

Obs: Como você pode ver no post que fiz, o título do questionário está abstrato. Em muitos casos, é importante que você não entregue alguns detalhes relacionados ao tema da pesquisa para não enviesar as respostas.

Para calcular uma quantidade de respondentes representativa para os 9,7 milhões de pessoas surdas no Brasil, utilizei a calculadora de amostras da plataforma Survey Monkey, estipulando um grau de confiança de 95% e uma margem de erro de 5 pontos percentuais para mais ou para menos, o que me resultou em uma necessidade de ter 385 respondentes, meta elevada para os recursos que eu tinha no momento em que realizei a pesquisa e que, infelizmente, não foi atingida. De qualquer modo, ressalto aqui a importância desse cálculo para aumentar a confiabilidade dos seus resultados.

Segue abaixo um resumo dos resultados mais relevantes do meu questionário. Caso necessite ampliar a imagem, basta abrir em uma nova aba.

Aprendizados da pesquisa quantitativa

#1. Renda mensal das pessoas surdas se classifica praticamente entre as classes socioeconômicas D e E, de acordo com a classificação de classes sociais do IBGE.

#2. Confirmado o gosto pela música de forma bastante intensa por grande parte das pessoas surdas.

#3. Uso majoritário de celular e computador para o consumo de música, equilibrado entre os dois devices.

#4. Predominância do Youtube no consumo de música, comprovando o achado percebido nas entrevistas.

#5. Importância do conjunto dos sentidos do tato, da visão e também da audição para o consumo musical.

#6. Muitas partes do corpo são usadas para o consumo de música. No entanto, a mão se sobressaiu como a região mais importante.

Conclusões

Através da combinação entre os dois métodos de pesquisa, consegui ter mais conhecimento e estipular premissas para a próxima fase de desenvolvimento do produto totalmente alinhadas com as necessidades do público estudado. Premissas essas que nunca teriam sido pensadas por mim sem que eu tivesse contato com essas pessoas. Algumas delas foram:

Ser um produto barato

  • Considerando a condição financeira percebida, seria necessário um baixo custo para que essas pessoas pudessem ter acesso.

Poder ser utilizado com Youtube tanto no computador quanto no celular

  • Já que o Youtube é a ferramenta mais usada por eles, meu produto deve ser capaz de permitir seu uso, e também considerar os devices mais utilizados.

Permitir sentir as vibrações sonoras e assistir ao vídeo no Youtube ao mesmo tempo, com possibilidade de também poder ouvir a música quando quiser

  • Os três sentidos mostraram fazer parte da experiência musical dos surdos.
  • A saída do som da música pode incomodar pessoas ao redor, então precisa ter um controle ativo para ser iniciada.
  • Deve haver a capacidade de utilizar fone de ouvido quando ativar a saída de som.

O produto deve ser capaz de ser utilizado enquanto se dança

  • Precisa ter um peso leve
  • Seu tamanho deve ser pequeno
  • Precisa ficar preso ao corpo

A vibração da música deve sair na mão

  • Indicada como a parte do corpo mais importante para o consumo de música.

Perceba que, estipulando esse escopo com base nas descobertas da pesquisa, o desenvolvimento do produto que se seguiu deixou de ser um processo abstrato e arriscado e, por mais que o espaço para a criatividade ainda estivesse garantido, havia uma direção bem definida a ser seguida.

Espero que, através deste estudo de caso, eu tenha conseguido deixar um pouco mais claro sobre como um processo de pesquisa pode ser realizado, seja você estudante, designer de produtos físicos, digitais ou empreendedor.

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Gabriel Bastos

UX Researcher na globo.com / Pós graduando em design de serviço. Fala comigo no Instagram! @ gab.insights