A Glória do Homem: Introdução.

Gabriel Arauto
14 min readApr 7, 2024

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Foto por Roma Kaiukua, Unsplash.

A doutrina da glória do homem ensina que Deus deseja glorificar o ser humano, especialmente os homens e mulheres do seu povo, visto que a glória de Deus no mundo depende em grande medida do desempenho deles. Deus glorifica os fiéis tornando-os superiores em sabedoria, justiça, poder e posição, e resgatando-os do vexame e do anonimato. Uma vez que Deus se interessa pela glória do homem, nós cooperamos com ele na missão de glorificar os fiéis.

A tradição reformada estabelece como um princípio que devemos dar somente a Deus toda a glória. Concordo com o ensinamento na medida em que é possível afirmá-lo sem diluir a glória do homem. Adeptos dessa tradição muitas vezes passam dos limites e acabam menosprezando as pessoas e as obras dos fiéis. Eu me pergunto, por exemplo, se eles aceitariam que o homem levasse parte do crédito pela salvação. Paulo duas vezes insiste com os seus leitores que a obra de salvação operada neles tinha sido realizada por meio do seu ministério. Ele diz a Filemom “…para não dizer que você me deve a própria vida…” (19), e isso tem sido interpretado como uma referência ao papel do apóstolo na conversão dele. Aos Coríntios Paulo diz: “Embora possam ter dez mil tutores em Cristo, vocês não têm muitos pais, pois em Cristo Jesus eu mesmo os gerei por meio do evangelho” (I 4:15) ”. Quando os discípulos de Paulo o exaltavam exageradamente (I 1:13), ele garantia a glória de Deus: “Eu não sou nada, apenas plantei, foi Deus quem deu o crescimento” (I 3:6–7), mas, quando os seus filhos espirituais não o respeitam o bastante, ele enfatizava o seu papel na salvação deles.

O interesse de Deus pela glória do homem é ensinado desde as primeiras páginas da Bíblia. Quando Deus verbalizou a sua intenção de criar o ser humano, disse que o faria à sua imagem e para dominar as demais criaturas. A glorificação do homem fazia parte do plano de Deus desde o início. O ser humano foi projetado para a grandeza. Javé concedeu a Adão uma dupla coroa de glória, tornando-o superior tanto em natureza quanto em posição. O primeiro homem foi feito à imagem de Deus. Diferente das outras criaturas, o ser humano tinha algo de Deus em si mesmo. Ele possuía uma dignidade intrínseca excedente. Seu valor era baseado primeiramente em sua natureza, a despeito de qualquer posição ou realização. Ele era digno por causa do que ele era. Não satisfeito com isso, Deus resolveu tornar o homem ainda mais importante, dando-lhe autoridade sobre o mundo criado. Ele fez de Adão o senhor do céu, da terra, do mar e de tudo o que havia neles. Em termos de autoridade, Adão perdia somente para Javé, pelo que se diz que ele foi feito “um pouco menor do que Deus”.

Deus glorifica os homens em geral. Para concretizar os seus propósitos, ele glorifica inclusive os ímpios. Como Daniel explica (5:18–21), foi Deus quem concedeu a Nabucodonosor poder, grandeza, glória e majestade, de modo que ele podia matar e deixar viver, promover e depor quem quisesse. Contudo, quando ele se ensoberbeceu, Deus o derrubou do trono e fez que ele se comportasse como um animal. Sendo assim, Deus governa a reputação, humilhando e exaltando os homens segundo a sua vontade. Por isso aqueles que estão revestidos de glória devem reconhecer a origem de sua grandeza, dar graças a Deus e em tudo obedecê-lo, se não quiserem ser depostos. Perceba que Deus glorifica até os piores ímpios, aqueles que usarão essa glória contra o seu povo e serão gratos por ela aos seus falsos deuses. E se é assim que Deus trata os infiéis, não fará muito mais pelo seu povo, cuja glorificação contribui para o avanço do reino e redunda em ações de graça?

Deus tem um interesse especial pela glória do seu povo. Sempre que uma pessoa se associa publicamente à outra, os seus nomes também se misturam, de modo que o comportamento de uma afeta a reputação da outra. Acontece o mesmo na relação de Deus com o seu povo. A reputação de Deus é afetada pelo sucesso ou fracasso de seu povo, pelo menos no julgamento dos incrédulos. Deixando de lado por agora até que ponto é correto julgar a qualidade de um Deus pelo desempenho dos seus fiéis, é fato que julgamentos desse tipo acontecem o tempo todo, e Deus opta por limpar o seu nome aos olhos dos descrentes, abençoando o seu povo até mesmo quando este não merece ser abençoado. Quando Javé castiga o seu povo, ele é glorificado como um Deus justo e imparcial, que não faz vista grossa nem para os pecados dos seus escolhidos. Por outro lado, os descrentes são incapazes de compreender isso, então, quando o povo de Deus sofre, eles atribuem esse infortúnio à falsidade ou à fraqueza do deus que os crentes professam, e desse modo o nome de Deus é blasfemado. Isso é explicado em detalhes no capítulo 36 do Livro do Profeta Ezequiel. Assim, o compromisso de Deus com a sua própria reputação o impele a glorificar o seu povo, até mesmo quando os seus escolhidos são indignos. A glória de Deus leva à glória do homem, e a glória do homem leva à glória de Deus. A glória do homem e a glória de Deus não são princípios antagônicos e irreconciliáveis, mas cooperativos e complementares. O antagonismo acontece apenas quando os princípios são extrapolados, quer no conceito quer na prática.

Deus glorifica o seu povo tornando-o superior em sabedoria. Em primeiro lugar, ele conserta as suas mentes. O pecado arruinou o intelecto do homem de tal forma que ele precisa ser transformado por dentro para recuperar a capacidade de pensar corretamente. Essa transformação é descrita como um transplante em que Deus tira o coração de pedra e coloca em seu lugar um coração de carne (Ezequiel 36:26). O fato de ter uma mente operando corretamente já coloca o fiel à frente dos demais. A segunda coisa é fazer do Espírito o preceptor interior do crente. O homem natural não compreende as coisas do Espírito, porque elas só podem ser discernidas espiritualmente (I Coríntios2:14–15). Por isso Deus põe o Espírito Santo dentro de nós para nos ensinar e orientar. Através dele somos capazes de discernir todas as coisas. Assim, subimos mais um degrau acima do nível intelectual do incrédulo. O terceiro passo é dado pela assimilação da palavra de Deus. Deus nos deu na Bíblia uma parcela da sua sabedoria infinita, conhecendo-a nos tornamos participantes da sabedoria de Deus. Como o Salmista diz, a palavra de Deus nos torna mais sábios que os nossos inimigos, mais sábios que os nossos mestres e mais sábios que os idosos (119:98–100). Não posso deixar de mencionar as revelações extrabíblicas. Deus se apresenta na Bíblia como aquele que revela mistérios (Daniel 2:22, 27–28). Ele às vezes o faz por sua própria iniciativa, como quando alertou José acerca do plano de Herodes para matar Jesus (Mateus 2:13), e às vezes o faz em resposta à provocação da fé, como quando Daniel e seus amigos oraram para que lhes fossem revelados o sonho de Nabucodonosor e o seu significado (Daniel 2). A resposta de Deus manifestou um mistério que os sábios e magos da Babilônia confessaram ser incapazes de resolver. Alguns pagãos têm a capacidade de adivinhar, mas seu poder é limitado, visto que é fornecido por espíritos malignos finitos (Atos 16:16). O cristão está em uma posição diferente. Uma vez que o Espírito perscruta todas as coisas (I Coríntios 2:10), até mesmo as profundezas insondáveis de Deus, a lista de mistérios inacessíveis para eles é muito menor. Há certas coisas que nunca serão reveladas, como os tempos e as épocas que o Pai fixou por sua exclusiva autoridade (Atos 2:7), mas muitas, muitas, muitas outras informações podem ser obtidas consultando Deus. Como se fosse pouca coisa os fiéis estarem quatro andares acima dos incrédulos, Deus os convida ao pináculo do saber se dispondo a aumentar a sabedoria deles em suas áreas de atuação, quer civis, quer religiosas. Isso aconteceu com Bezaleu (Êxodo 35:30–35), que foi capacitado a construir os utensílios do tabernáculo e também aconteceu com Daniel, Hananias, Misael e Azarias, os quais, recebendo o mesmo treinamento que seus companheiros, se mostraram dez vezes mais doutos diante do rei (Daniel 1:19–20). Além de fazer o crente se destacar profissionalmente, essa expertise promove a prosperidade garantindo bons empregos para ele. Quando Deus glorifica alguém com esse tipo de sabedoria, ele também promove o pregresso do mundo e da igreja.

Continuando, Deus glorifica o seu povo tornando-o superior em justiça. Ele faz isso primeiro pela concessão de uma lei superior. Como Moisés disse (Deuteronômio 4:5–8), nenhuma nação tinha leis tão justas quanto as leis dos filhos de Israel, que tinham recebido o seu código direto de Deus. Há inclusive a previsão de que os pagãos considerariam os Israelitas inteligentes por causa do seu padrão elevado de justiça. Aqui temos “o quarto uso da lei”: a lei como a glória do povo de Deus. É trágico que os cristãos atuais tenham vergonha da lei que lhes foi transmitida justamente para glorificá-los. Eles se envergonham dela porque amam o pecado e consideram a justiça de Deus maligna e antiquada. Somente aqueles que anseiam que a lei de Deus determine o sistema de justiça de todas as sociedades e instituições humanas realmente aprovam a justiça divina e desejam a glória para si mesmos e para a nação cristã.

A segunda maneira como Deus exalta o seu povo em justiça é capacitando-o a guardar a sua lei. Não é a mera posse de um código justo que traz glória, mas a obediência rígida a ele, e essa obediência vem da habitação do Espírito em nós. A Bíblia diz que aqueles que estão na carne não podem agradar a Deus, porque são incapazes de se submeter à sua lei, contudo, acrescenta que aqueles que têm o Espírito podem agradá-lo. Aqueles que têm o Espírito podem obedecer aos mandamentos de Deus, por mais elevados que sejam, eles podem seguir o exemplo dos grandes homens de Deus da Bíblia e da história, e realizar boas obras notáveis, porque neles está o mesmo Espírito que habitou naqueles homens. Eles podem se destacar em zelo, em devoção, em generosidade, em coragem, em poder e em todas as coisas em que os antigos abundaram e pelas quais adquiriram renome entre nós.

Deus glorifica o seu povo tornando-o superior em poder. Os descrentes em geral são impotentes, mas alguns deles possuem habilidades sobrenaturais. Contudo, assim como o Deus vivo e verdadeiro supera os ídolos e subjuga os demônios, o crente tem mais poder à sua disposição do que o incrédulo mais forte. No Antigo Testamento temos a disputa entre Moisés e Arão e os Magos do Egito. Arão faz a sua vara se transformar numa serpente diante de faraó, e faraó chama os seus magos para fazerem o mesmo sinal, eles conseguem replicar, mas a serpente de Arão devora as deles (Êxodo 7:8–13). Quando a primeira praga transforma o Nilo em sangue, e a segunda enche o Egito de rãs, os magos conseguem replicar ambas, embora não consigam removê-las, o que seria uma demonstração realmente útil de poder. A terceira praga expõe mais uma limitação no poder dos magos, eles não são capazes de fazer surgir piolhos do nada. Eles não podem desfazer o que Moisés e Arão fazem, nem podem fazer tudo o que eles podem. Eles mesmos confessam que “Isso é o dedo de Deus” (Êxodo 7 e 8). A sexta praga é o golpe final. Cobertos de feridas purulentas, os magos não conseguem ficar na presença de Moisés (9:8–12).

No Novo Testamento o apóstolo Paulo tem uma vitória perfeita contra um mágico chamado Elimas (Atos 13). Paulo o deixa temporariamente cego através de um milagre de julgamento, como castigo porque ele estava atrapalhando a pregação do evangelho. Elimas não revida nem desfaz a praga de Paulo. Sua magia não funciona. Também em Atos lemos que havia em Samaria um mágico chamado Simão, popularmente aclamado como o “grande poder”. Quando o diácono Filipe chega na cidade e prega o evangelho, muitos são convertidos, inclusive o próprio Simão, que fica maravilhado com os milagres que Filipe era capaz de realizar. Notem que um simples diácono cristão foi capaz de impressionar com os seus milagres um mágico incrédulo muito poderoso (Atos 8:9–13). O cristão é totalmente superior em poder. O poder de cura, de ressurreição, de julgamento, de imunidade, de multiplicação, de transmutação, de revelação, de controle da natureza, um poder infinito e variado pertence à fé, que é a característica básica de um cristão (João 14:12 e Marcos 16).

Deus glorifica os fiéis tornando-os superiores em posição. A história de José ilustra perfeitamente esse aspecto da doutrina. José não era mais do que o filho preferido de um homem importante quando começou a ter sonhos sobre o futuro glorioso que o aguardava. Ao compartilhar esses sonhos com a sua família, ele foi odiado e censurado. Talvez eles pensassem que o rapaz sofresse de uma mania de grandeza, mas os seus sonhos eram na verdade proféticos. José não estava sonhando grande por causa de sua ambição. Os seus sonhos eram revelações divinas. Os seus irmãos tentaram impedir que esses sonhos se concretizassem vendendo-o para ser escravo. Mal sabiam eles que esse pecado era justamente o primeiro passo da providência na jornada de José para a glória. José deveria se tornar grande longe de casa.

Levado ao Egito, o rapaz foi comprado pelo chefe da guarda de Faraó, um homem chamado Potifar. Deus o favoreceu abençoando o seu trabalho de tal forma que Potifar notou que tudo o que José fazia prosperava. Assim ele promoveu o rapaz a mordomo de toda a sua casa. Mesmo vivendo como um escravo em terra estranha, José não ficou totalmente destituído de glória. No entanto, outra dificuldade surgiu. A mulher de Potifar se enamorou de José e começou a persegui-lo insistindo em se deitar com ele. O rapaz, temente a Deus, se recusava, e em determinado momento foi tão assediado que teve que fugir despido, deixando as suas roupas nas garras da fera adúltera. Aproveitando-se da ocasião, tendo já perdido a esperança de satisfazer o seu desejo maligno, a mulher o acusou de tentar estuprá-la, pelo que o seu marido encarcerou José. Até esse momento a dignidade de José tinha regredido duas casas. Nascido livre, ele tinha se tornado escravo, e mesmo sendo honesto, fora condenado como criminoso. Por dignidade refiro-me à sua reputação, porque era tudo uma questão de como as pessoas o enxergavam e tratavam. Contudo, a sua competência sobrenatural lhe rendia um bom nome onde quer que ele estivesse. E mesmo na prisão ele se destacou tornando-se encarregado dos outros prisioneiros.

Então faraó mandou encarcerar o copeiro-chefe e o padeiro-chefe na mesma prisão em que José estava. Um dia ambos acordaram perturbados pelos sonhos que tinham tido, e José os interrogou a respeito e lhes ofereceu uma interpretação. Segundo ele, o padeiro seria morto e o copeiro, restituído, o que aconteceu exatamente como o homem de Deus havia previsto. Uma vez restabelecido, o copeiro se esqueceu de José. No entanto, Faraó teve dois pesadelos que o deixaram perturbado, e ninguém havia que pudesse lhe declarar o significado deles. O fato forçou o copeiro a se lembrar do estrangeiro que lhe tinha interpretado o sonho na prisão. Ele informou o caso a faraó, que convocou José à sua presença. José não somente interpretou os pesadelos ­- que eles anunciavam sete anos de prosperidade que seriam seguidos por sete anos de fome — como também instruiu faraó quanto ao que fazer para que sua nação não perecesse durante a grande seca. Impressionado com a sua sabedoria, faraó o promoveu a vice-regente, cobriu-o com roupas finas, deu-lhe um colar de ouro, uma esposa da linhagem sacerdotal, e, colocando-o no seu segundo carro, o levou em passeata pelo país, exigindo que todos o reverenciassem. E durante toda a grande fome o povo do Egito e de todas as nações vinham a José para comprar os mantimentos que tinham sido armazenados durante os sete anos de fartura. Assim José se tornou o homem mais importante do mundo (Gênesis 37–41).

Aprendemos com a história de José que a humilhação pode ser o caminho de Deus para a honra e que o fiel pode ter que enfrentar altos e baixos em sua dignidade antes de finalmente se apoderar da glória que Deus lhe reservou. Portanto, não devemos nos desesperar se parecemos descer até as profundezas, porque Deus é perfeitamente capaz de nos fazer subir do mais profundo poço para o mais alto posto. Aprendemos também que ninguém pode impedir Deus de honrar o servo que ele já decidiu glorificar. Por isso não devemos temer nem nos ressentir das investidas dos homens contra a nossa honra, nada pode nos impedir de alcançar a medida de glória destinada a nós.

Deus glorifica os fiéis resgatando-os do vexame, como aconteceu com Raquel, esposa de Jacó, que por causa da infertilidade estava sujeita à vergonha pública. A doença é uma grande causadora de opróbrio. Às vezes ela desfigura as suas vítimas, outras vezes as faz feder; ora cria uma dependência indecente, ora submete a tratamentos degradantes. Ela pode roubar a dignidade de muitas maneiras. Imagine o que significa para um homem ser sexualmente impotente ou para uma mulher o perder os cabelos!

Nesses dias em que as pessoas tomam remédios e fazem cirurgias para induzir a infertilidade, a incapacidade de conceber pode parecer uma benção, mas era um vexame para Raquel, que vivia em um tempo em que a fertilidade e a descendência eram valorizadas. Por ser infértil naquele contexto, ela era considerada uma esposa inadequada, e seu marido, um azarado, já que produzir filhos era um dos principais propósitos de um casamento.

Naquela época, uma das maneiras de contornar a infertilidade era a esposa ceder uma escrava pessoal para se deitar com o seu marido para que os filhos dessa união fossem considerados seus. Raquel fez isso e teve alguns filhos por meio de Bila, sua escrava, mas nem assim se satisfez. Ela queria ser mãe de verdade. No nosso tempo a infertilidade pode ser contornada com conformismo ou adoção. A mulher pode simplesmente desistir de ser mãe. Ela pode começar a se julgar por um padrão diferente, de modo que se aprove como mulher e esposa embora não possa gerar filhos. Ela também poderia adotar uma criança. Então ela nunca passaria pelos incômodos (e pelas alegrias) da gravidez ou do parto. Ela poderia, até certo ponto, escolher a criança que preferisse, uma decisão sempre negada aos pais biológicos. Nenhum desses caminhos, porém, resolve o problema. A doença continua lá e seus efeitos também. Ela torna a mulher incapaz de conceber e gerar, algo que outras mulheres conseguem com uma facilidade às vezes absurda.

Apesar de já ter dado alguns filhos a seu marido através da sua escrava, Raquel continuou orando pela capacidade de gerar filhos, até que finalmente foi ouvida e pariu José. Em relação a isso ela declarou: Deus tirou de mim o meu vexame! A cura lhe devolveu a dignidade que a doença lhe havia roubado. Agora ela era uma mulher e uma esposa completa, uma mãe, suas limitações tinham ficado no passado. A doutrina da cura e a doutrina da glória estão conectadas, pois a cura é uma das maneiras como Deus restaura a dignidade dos seus escolhidos. Ele remove a doença que envergonha. Ele opera milagres para exaltar. Deus quer o seu povo de cabeça erguida, livre de qualquer sintoma ou limitação degradantes.

Por fim, Deus glorifica os fiéis resgatando-os do anonimato. Vemos isso em Abraão e em Maria. Quando Deus chamou Abraão, prometeu que o faria famoso. A promessa foi tão cabalmente cumprida que tanto tempo depois continuamos cantando, escrevendo e ensinando sobre a jornada de fé desse homem de Deus. De fato, o compromisso de Javé com a glória de Abraão é tão sério que ele tornou impossível que Abraão fosse ignorado onde o evangelho é recebido. Onde quer que a palavra de Deus chegue, o nome de Abraão será venerado. No passado, sua reputação estava confinada à memória e tradição de seus descendentes naturais. Com a chegada do evangelho aos gentios, seu nome começou a ser celebrado por todo o mundo. E, à medida em que o evangelho avança, sua fama continuará crescendo. Na verdade, os céus e a terra passarão, mas o nome de Abraão permanecerá, porque ele sempre será lembrado por sua fé. Javé tem um compromisso extravagante com a glória de Abraão.

Quanto a Maria, o que é o Magnificat senão uma canção de louvor por salvação do anonimato? A canção diz que Deus notou Maria apesar da sua insignificância e a exaltou, fazendo grandes coisas em seu favor, e que por isso todas as gerações lhe chamariam bem-aventurada.

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